domingo, 13 de julho de 2008

Pantaléon e as visitadoras


Mario Vargas Llosa (1936-) escreveu o livro "Pantaleón e as visitadoras" (Pantaleón y las visitadoras) em 1973. O livro, inicialmente, causa um certo estranhamento. Isso é causado pois ele intercala os diálogos. Ou seja, há o travessão e a fala de uma personagem em sua casa; logo em seguida, vemos um outro travessão e a vez fica com uma outra persongem fixada em um navio. Conclui-se, assim, a falta de "linearidade" na narrativa de Vargas Llosa. Depois da terceira página do primeiro capítulo, já se consegue digerir melhor essa forma como o escritor encontrou de transmitir sua mensagem. Nos capítulos seguintes vê-se a dedicação de páginas para a reprodução de cartas trocadas por irmãs e por mensagens oficiais trocadas pelos membros do Exército peruano.


Analisando o livro, encontra-se uma delação da hipocrisia do Exército, em vista que "visitadoras" é apenas um eufemismo para "prostitutas". Para o leitor que ainda não leu a obra do peruano, segue um breve resumo do livro em questão: "Pantaleón Pantoja tem um senso de disciplina tão profundo que é encarregado pelo Exército peruano de organizar um bordel itinerante. Sua missão é reduzir as taxas de estupro nas zonas militarizadas, oferecendo prostitutas aos soldados. Em cartas enviadas a seus superiores, ele relata o seu sucesso e os testes que faz pessoalmente com as visitadoras. Tudo vai bem até ele se apaixonar pela mais bela das prostitutas." (Biblioteca Folha). A hipocrisia é vista porque a sociedade civil não pode saber do que está ocorrendo nas entranhas do Exército. Para se dizer a verdade, nem certas pessoas de dentro da instituição têm conhecimento da operação. Contribuindo para se perceber o tom denuncista dos relatos e a irritação causado pelo livro em seu país quando do lançamento, ele chegou a ser censurado.


Agora partamos para minha visão pessoal do livro. Eu o achei, de certa forma, não muito bom. Entendo que ele possui grandes méritos, como essa esperta intercalação de falas - saindo um pouco do lugar comum -, a descrição da vida subhumana das "lavadeiras" e prostitutas de casas de sexo, um jornalista calhorda e a própria causa do corpo militar. Mas, cruamente, é apenas isso. O livro não ultrapassa certas barreiras. Não chega à uma grande introspecção pscicológica. Fica apenas suscetível aos acontecimentos e os repassa ao leitor. Segundo certos críticos, "neste romance, Mario Vargas Llosa exibe mais uma vez a sua fantástica capacidade de contar histórias que têm ao mesmo tempo um pé bem plantado na realidade, e o outro, no delírio." Sim, é verdade. Mas, nem por isso, ele deixa de, por vezes, ser meio arrastado.


Apesar de tudo, uma leitura é sempre uma leitura e sempre nos faz refletir. Não é que eu tenha odiado o livro, mas já li melhores. Acho que é porque há poucos acontecimentos que mudam o rumo da história - Pantaleón e a mulher, ela não sabe o que ele faz no exército; depois ele se envolve com uma prostitua, sua mulher descobre com o que ele trabalha; ela se separa dele; a instituição vai bem, chegando ao seu ápice; outra coisa acontece que muda um pouco as coisas, mas não conto porque senão as pessoas não vão ler mais o livro - e também porque existem poucas personagens (não relacionem isso apenas às mulheres, "a personagem" pode ser homem ou mulher - pequena referência à Óh Toda Poderosa Dilma Melo). Fiquei muito mal acostumado com Gabriel García Márquez (1927-) em "Cem anos de solidão" (Cien años de soledad), lançado em 1967. Esse sim escreveu sua obra com muitas personagens, muita história e sim, um verdadeiro e digno realismo fantástico.

Nenhum comentário: