quarta-feira, 29 de maio de 2013

nunca fui senão um vestígio e um simulacro de mim

"vivo sempre no presente. o futuro, não o conheço. o passado, já o não tenho. pesa-me um como a possibilidade de tudo, o outro como a realidade de nada. não tenho esperanças nem saudades. conhecendo o que tem sido a minha vida até hoje - tantas vezes e em tanto o contrário do que eu a desejara -, que posso presumir da minha vida de amanhã senão que será o que não presumo, o que não quero, o que me acontece de fora, até através da minha vontade? nem tenho nada no meu passado que relembre com o desejo inútil de o repetir. nunca fui senão um vestígio e um simulacro de mim. o meu passado é tudo quanto não consegui ser. nem as sensações de momentos idos me são saudosas: o que se sente exige o momento; passado este, há um virar de página e a história continua, mas não o texto". (fernando pessoa - livro do desassossego)