domingo, 31 de maio de 2009

Ajoelhe-se, grite, comemore, apaixone-se, dispa-se, escute

Hoje, domingo, li a coluna da Martha Medeiros, no jornal O Globo. Eu raramente leio a coluna dela, mas hoje eu dei uma lida. Ela se propõe a discutir questões da vida, mais especificamente dos relacionamentos interpessoais. Mas também o que me chamou a atenção foi a abordagem jornalística da crônica, de início. Sendo que no fim descabou tudo de novo pro sentimentalismo. Ah, quer saber? Como é que a gente vai ficar sem sentimentalismo nessa vida? Abaixo, um trecho destacado de seu texto, que eu achei muito interessante e inspirado e depois a crônica como um todo.

"Dentro da igreja, ajoelhe-se. No estádio de futebol, grite pelo seu time. Numa festa, comemore. Durante um beijo, apaixone-se. De frente para o mar, dispa-se. Reencontrou um amigo, escute-o."

***

'Os ausentes'

Eu não assisti ao programa, mas soube da história. O jornalista David Letterman recebeu Joaquim Phoenix para uma entrevista. O ator fez jus à fama de bad boy: não parou de mascar chiclete e só respondia com monossílabos e grunhidos, não facilitando o andamento da conversa. Letterman tentou, tentou e, como não conseguiu arrancar nada do sujeito, encerrou a entrevista com uma tirada que me pareceu perfeita: "Joaquim, uma pena que você não pôde vir esta noite."

Quando uma pessoa se dispõe a dar uma entrevista, tem que entrar no jogo: responder com generosidade ao que foi perguntado e valer-se de uma educação básica, caso tenha. É bom lembrar que a maioria das entrevistas não é feita apenas para dar ibope ao programa, e sim para ajudar na divulgação de algum projeto do convidado. Ambos saem ganhando. Só quem não ganha é a plateia quando o convidado finge que está lá, mas não está. Madonna é até hoje o trauma da carreira de Marília Gabriela, pelos mesmos motivos.

Claro que há quem defenda a atitude de Phoenix com o argumento da "autenticidade", mas existe uma sutil diferença entre ser autêntico e ser grosso. É muita inocência achar que podemos prescindir de uma certa performance social. Espero não estar ferindo a sensibilidade dos "autênticos", mas de um teatrinho ninguém escapa, a não ser que queiramos voltar a viver nas cavernas.

Não sou de me irritar facilmente, mas acho um desrespeito quando uma pessoa faz questão de demontrar que não compactua com a ocasião. São os casos daqueles que se emburram em torno de uma mesa de jantar e não fazem a menor questão de serem agradáveis. Pode ser num restaurante ou mesmo na casa de alguém: estão todos confraternizando, menos a "vítima", que parece ter sido carregada para lá à força. Às vezes, foi mesmo. Sabemos o quanto uma mulher pode ser insistente ao tentar convencer um marido a participar de um aniversário de criança, assim como maridos também usam seu poder de persuasão para arrastar a esposa para um evento burocrático. Não importa a situação: saiu de casa, esforce-se. Não precisa virar o mestre de cerimônias da noite, mas ao menos agracie seus semelhantes com dois ou três sorrisos. Não dói.

Dentro da igreja, ajoelhe-se. No estádio de futebol, grite pelo seu time. Numa festa, comemore. Durante um beijo, apaixone-se. De frente para o mar, dispa-se. Reencontrou um amigo, escute-o.

Ou faça de outro jeito, se preferir: dentro da igreja, escute-O. Durante um beijo, dispa-se. No estádio de futebol, apaixone-se. De frente para o mar, ajoelhe-se. Numa festa, grite pelo seu time. Reencontrou um amigo, comemore.

Esteja, entregue-se.

Se não quiser participar, tudo bem, então fique na sua: na sua casa, na sua respeitável solidão. Melhor uma ausência honesta do que uma presença desaforada.

Martha Medeiros

sexta-feira, 29 de maio de 2009

Música, poesia, prosa e jornalismo




Há tempos que eu não faço comentários e dissertações muito pessoais no blog. No começo, achava que o mesmo seria melhor se encontrasse um caminho mais impessoal e informativo. Mas agora, depois de algum tempo sem dizer absolutamente nada sobre minha pessoa, preciso desabafar: sou narcisista e egocentro, uma coisa ou outra, ou as duas coisas ao mesmo tempo. Então, vou dizer alguma coisa sobre mim agora. Vamos lá. É um, é dois, é três e é já!





Agora são 21h23min, diferentemente do que pode vir a aparecer para vocês aí. Esse meu blog é muito temperamental e não consegui ajeitar o horário dele. Enfim, estou vendo o filme "O mágico de Oz", de 1939, com Jude Garland no papel principal. Ela está dizendo assim: "Um lugar sem problemas. Acha que existe um lugar assim, Totó? Deve existir. Não é um lugar aonde podemos chegar de barco ou trem. É longe, bem longe... Atrás da lua... Pra lá das chuvas..." E, com isso, começa a cantar a primeira versão de "Somewhere over the rainbow", uma das mais belas canções já cantadas, em todos os tempos.






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DENTRO

"O mundo é um e não é dois"
Parmênides, de Platão

estamos dentro de um dentro
que não tem fora
e não tem fora porque
o dentro é tudo o que há
e por isso tudo
é o todo:
tem tudo dentro de si
até mesmo o fora se,
por hipótese,
se admitisse existir

Ferreira Gullar

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SUICÍDIO

Ele era muito teatral. Colocou-se diante do espelho com um terno preto e uma flor na lapela. Levou a arma até a boca, esperou até que o tambor esquentasse e, olhando para seu reflexo com um sorriso alheado, puxou o gatilho. Caiu como um paletó lançado dos ombros, mas a alma continuou em pé por algum tempo, sacudindo a cabeça, cada vez mais leve. Então, com relutância, ela penetrou no corpo, sangrento na extremidade superior, no momento em que sua temperatura estava caindo para o nível térmico de um objeto, o qual - como sabemos - é sinal de longevidade.

Zbigniew Herbert



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"Há um ano, me candidatei à vaga de correspondente do jornal israelense Ma'ariv nos territórios ocupados. Falo árabe, lecionei em escolas palestinas e participei de muitos projetos judaico-palestinos. Na entrevista, o chefe perguntou como eu poderia ser objetivo. Eu havia passado tempo demais com os palestinos, e acabaria sendo tendencioso em favor deles. Não consegui o emprego. Minha entrevista seguinte foi no Walla.com, o site mais popular de Israel. Dessa vez, consegui o emprego e me tornei correspondente do Walla no Oriente Médio. Logo entendi o que Tamar Liebes, diretor do Instituto Smart de Comunicação da Universidade Hebraica de Jerusalém, quis dizer quando afirmou que 'os jornalistas e editores se veem como atores dentro do movimento sionista, e não como observadores críticos." Yonatan Mendel, em Vocabulário do jornalismo israelense - Os palestinos alegam, sequestram e têm sangue nas mãos, enquanto as Forças de Defesa respondem, detêm e jamais cometem homicídios. (anais da imprensa - piauí, 20. maio 2008)

?

O Orkut me pergunta, quem é você?

E eu respondo para ele: sou um frustrado feliz.

terça-feira, 26 de maio de 2009

Kook e Green






Por esses dias, eu descobri uma nova bandinha. Apesar de nova, ela já é meio velha, como quase todas as bandas e cantores novos que eu estou achando, ultimamente. O achado chama-se The Kooks, banda inglesa, formada em 2004, em Brighton. Com os mesmos integrantes desde sua criação - Luke Pritchard, Hugh Harris, Pete Denton e Paul Garred -, é esperada a vinda da mesma para o Brasil, ainda neste ano de 2009.






Classificada como indie rock, blues e post-punk revival (seja isso o que for), ela vem ganhando gradativamente mais adeptos, tanto fora quanto dentro do nosso país. Uma amostra disso é o número expressivo de membros da comunidade "The Kooks", no Orkut. São mais de 15.500 pessoas debatendo os shows, músicas e vidas dos cantores. Apesar de a última ser a de maior expressividade, o Orkut ainda conta com mais de 70 comunidades em reverência aos Kooks. Nota-se, com isso, o grande interesse que o Brasil está dando à tão novo fenômeno musical, que de tão novo ainda não encontrou nas televisões mais abertas grande abertura.







Então, para a alegria de seus fãs tupiniquins, a banda se apresentará no dia 19 de junho, na Via Funchal, às 22h00min, em São Paulo, com preços beirando os R$ 150,00. Se já é salgado para quem é de Sampa, imagina para quem tem que pagar, além do ingresso, passagem para a cidade da garoa.






Mesmo formada em 2004, a banda lançou seu primeiro álbum apenas em 2006 (Inside in/Inside out) e está encontrando apenas hoje em dia alguma repercussão maior na televisão brasileira. Digo isso, pois é apenas quando se está nela que se possui a real noção do sucesso. Podem me dizer: "Ah, mas a comunidade para o The Kooks, no Orkut, existe desde 2006." Mas a gente sabe que tudo acontece bem antes na internet e que a grande maioria dos brasileiros não tem acesso à ela. Apesar de que essa banda está encontrando alguma repercussão apenas nos canais de música pagos. E sabemos que quem tem tv à cabo tem internet. Ok, no Brasil ainda muito pouca gente conhece a banda. Rendo-me.






Com nome formado a partir de uma música de David Bowie, de 1971, a banda possui dois discos (Inside in/Inside out e Konk) e já foi indicada à duas premiações: "Melhor revelação de 2006 - Q Award" e "Melhor revelação inglesa e irlandensa de 2006 - MTV Europe Music Awards".






O site oficial tá aí: http://www.thekooks.co.uk/






A música que eu mais gosto deles é "Naive", vou logo avisando.






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É impressão minha ou apenas eu não sabia que a banda "Green Day" tinha 20 anos de carreira? É impressão minha ou apenas eu achava que o vocalista da banda, Billie Joe Armstrong, possui 37 anos de idade, e não uns em torno dos 25?




Meu Deus...

segunda-feira, 25 de maio de 2009

Meu momento poeteiro

Uma pedra no meio do caminho

Ontem choveu
E levou minhas lembranças comigo
Agora vivo do presente
Sem passado e incerto do futuro
Perco a esperança
Encontro a pouca bonança
Nem meu amor está aqui
Para acalentar-me em frenesi
Queria ser menos fortuito
Mais virtuito
Mas de que adianta?
Eu estou aqui e você ali.

Ontem solou
A vida não estragou
Fui à praia
O povo entornou
Quis ficar
A turma me incentivou
Mas ao cair da noite
Perdi a vida, com sorte
Lembrei-me que tu lá não estavas
E que a vida era bosta emplastada

Alguma coisa aconteceu
Sim, sempre soube que Paris existiu
Vi ali você regressando
A vida cor-de-rosa se fez
Acalentou-me o coração o amasso
Que não quis perder por um compasso
Pois sabia que depois de tudo
Adeus seria dado
Mas Deus não nos tira o que nunca nos foi dado

E vendo a vida em cor-de-rosa
Vou me despedindo de tudo
Com o sorriso no rosto do tristonho
Para acabar com tudo, de coração lavado
Chegando feliz, lá no fundo

***



A minha vida vazia olha o seu redor
E nota que as situações são complexas e convexas
Vejo-me diante de mim mesmo e não enxergo ninguém
A casa está vazia e nem tenho outrem.

***

Antos e ênsias

Vivia calado pelos cantos
Feliz pelo simples fato da existência

Passou a enxergar melhor a vivência
E começou a debulhar-se em prantos

Guido Arosa

Momento poeteiro

Poeminha do contra

Todos esses que aí estão
Atravancando meu caminho,
Eles passarão...
Eu passarinho!

Mário Quintana

***

Soneto da fidelidade

De tudo, ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento
E em louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento.

E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.

Soneto da separação

De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto

De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama

De repente não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente

Fez-se do amigo próximo, distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente

Vinicius de Moraes

***

Eu amo tudo o que foi,
Tudo o que já não é,
A dor que já me não dói,
A antiga e errônea fé,
O ontem que dor deixou,
O que deixou alegria
Só porque foi, e voou
E hoje é já outro dia.

Fernando Pessoa

***

Poema tirado de uma notícia de jornal

João Gostoso era carregador de feira livre e morava no morro da Babilônia num barracão sem número
Uma noite ele chegou no bar Vinte de Novembro
Bebeu
Cantou
Dançou
Depois se atirou na lagoa Rodrigo de Freitas e morreu afogado.

Manuel Bandeira

sexta-feira, 22 de maio de 2009

Talvez

A banda Cake, mais conhecida por cantar com melancolica I will survive, tem também em seu currícula Perhaps, perhaps, perhaps, versão traduzida para o inglês da espanhola Quizás, quizás, quizás.




Site oficial da banda: http://www.cakemusic.com/






http://www.youtube.com/watch?v=AV5PwN2e88Y Perhaps, perhaps, perhaps

sexta-feira, 15 de maio de 2009

A inveja

Tem um blog chamado "Sir Letras" (http://sirletras.wordpress.com/), de Jorge Moisés. Cara, só até agora, em 2009, ele já leu 26 livros. 26?! E em todo 2008, ele leu mais de 60 livros! Como eu sou uma pessoa invejosa e com rancor no coração, postarei aqui também meus livros já lidos até agora e correrei contra o relógio para ler tanto quanto ele. Já as estrelinhas, não serei capaz de usá-las. Não sei se sou muito capaz de julgar livros. O Jorge especifica cada mês que leu cada livro, mas isso não será feito aqui, definitivamente.

Livros lidos em 2009

1) Crime e castigo, de Fiódor Dostoiévski

2) A metamorfose, de Franz Kafka

3) Dom Casmurro, de Machado de Assis

4) A morte de Ivan Ilitch, de Leon Tolstoi

5) Os relógios, de Agatha Christie

6) Ulisses, de James Joyce incompleto

7) Um gato entre os pombos, de Agatha Christie incompleto

8) O processo, de Franz Kafka

9) Nosso homem em Havana, de Graham Greene

10) Cidade de vidro, in A trilogia de Nova York, de Paul Auster

quarta-feira, 13 de maio de 2009

O desconhecido e o processo


Franz Kafka começou a escrever "O processo" na segunda semana de agosto de 1914 e o terminou no começo de 1915. Como foi publicado apenas postumamente, - Kafka morreu de tuberculose, em 1924, no sanatório de Kierling - por seu amigo Max Brod, houve uma pequena deficiência no que diz respeito à organização do romance, posto que Kafka encontrou grande dificuldade em terminá-lo e deixou vários capítulos interminados, passagens riscadas, coisas meio fora do lugar. Apesar de tudo, o romance que o jornal "O Globo" e "Folha de S.Paulo" lançaram juntamente em 2003, foi organizado na mesma ordem a que Brod primeiramente o fez. Mas isso não significa que o romance não tenha alguns relapsos de continuidade.


Eu creio que se o livro houvesse sido publicado enquanto o autor vivo estivesse, muitos dos capítulos não haveriam de ser publicados, haja visto que incompletos e trechos riscados por ele igualmente espaço não possuiriam. Em contrapartida, acho de grande valia termos hoje a oportunidade de ver, completamente, o trabalho de produção de escritor tão impressionante, que se fecha no quarteto dos autores europeus modernistas principais do século XX:


1) James Joyce *1882 + 1941 -> "Dublinenses", "O retrato do artista quando jovem", "Ulisses", "Finnegans Wake", principalmente;

2) Robert Musil *1880 + 1942 -> "O homem sem qualidades" e "O jovem Törless";

3) Franz Kafka *1883 + 1924 -> "A metamorfose", "O processo", principalmente;

4) Thomas Mann *1875 + 1955 -> "A montanha mágica", "Morte em Veneza", "Os Buddenbrooks", principalmente.


"O processo" em si é de uma análise extremamente profunda. Com seus capítulos quase que independentes, retirando-se obviamente o primeiro, que é a abordagem de tudo, e o último, que é o fim de tudo, todo o resto aparenta ter vida independente.


Algo que já havia sido depreendido em "A metamorfose" e que se comprovou em "O processo", foi a escolha de Kafka por já colocar ao leitor o conflito de sua obra. No caso do primeiro livro, a transformação de Gregor Samsa em inseto e no último a constatação da detenção para Josef K.


"Numa manhã, ao despertar de sonhos inquietantes, Gregor Samsa deu por si na cama transformado num gigantesco inseto."


"Alguém certamente havia caluniado Josef K. pois uma manhã ele foi detido sem ter feito mal algum."


Outra questão que incomoda, ou pelo menos me incomodou, foi o fato de o personagem mencionar e questionar o fato de desconhecer a razão para estar sendo julgado apenas no início, capítulos iniciais, quando não apenas no primeiro. Angustia passar todo o livro vendo meio que uma aceitação do processo e da iminente condenação. Mas o livro é escrito em primeira pessoa, o que nos faz poder entender que o personagem apenas estava tentando refutar a ideia do julgamento, sendo que depois sabendo de ter feito algo errado, aceita o fato e tenta contorná-lo, ou não.


O livro não é exatamente escrito em primeira pessoa; é em terceira, mas mostra o ponto de vista único e exclusivo de Josef K., bancário e de 30 até 31 anos de idade.


Possui-se a noção de que o livro é realista, quase que realista-naturalista. Em contrapartida, o autor nos mostra passagens extremamente não verossimilhantes. Como, por exemplo, as salas de inquéritos sendo postas em salas de quartos de apartamento de cortiços, um advogado que atende seus clientes na cama e essas coisas. Cria-se, com isso, uma cilada para o leitor. Ele tende a ver no livro uma realidade, que nesses casos específicos não se faz presente. Ou seria uma metáfora, apenas para se chegar à ideia que o autor pretendia passar, ou é uma questão realmente de real-ficção, que o fato de um processo sem nunca ser dito o motivo pode nos causar.


Modesto Carone, brasileiro, de 72 anos, jornalista, professor, escritor e tradutor, fez um excelente trabalho na tradução, do alemão, de "O processo", para a Companhia das Letras. Seu posfácio, apesar de curto, deflagra questões bem pertinentes, como a proximidade entre Josef K. e Raskólhnikov, personagem de "Crime e castigo", do escritor russo Fiódor Dostoiévski, grande inspirador de toda a obra de Franz Kafka.


Em uma análise que não interpreta o texto do tcheco Kafka, mas que o usa, da maneira mais coloquial que a palavra pode receber, vê-se a premonição do Holocausto. Dizem que o livro é como uma visão do que anos depois assolaria a humanidade, em tempos de Segunda Guerra Mundial, onde judeus eram perseguidos, pessoas eram mortas sem justificativa prévia etc.


Kafka era judeu, e além da cultura judaica, conviveu com a tcheca, natal, e a alemã, que dominava a República Tcheca, antiga Praga. Se ele houvesse chegado a viver na década de 1930, 40... seria oprimido por ser judeu e pelos alemães. Já bastaria de problemas.


Leiam e tirem suas conclusões de uma das maiores obras da literatura mundial.

sexta-feira, 8 de maio de 2009

Um filme a ser visto e uma questão a ser pensada



Estreará, no segundo semestre, e já está bombando no YouTube e em blogs, o trailer do filme "Do começo ao fim", de Aluizio Abranches, o mesmo de "Um copo de cólera" (1999). Com Júlia Lemmertz - atualmente, em "Tudo novo de novo", da Rede Globo - e Fábio Assunção - que acabou de sair de uma clínica de reabilitação, onde estava desde os últimos meses de 2008 - o longe enfoca a questão do amor. Mas um amor um tanto fora dos padrões; um que Freud e Jung gostariam de parar para analisar.



Visto mais de 36000 vezes em apenas 3 dias, "Do começo..." vazou para a internet e promete ser o filme-sensação de 2009,2. A relação de dois irmãos, interpretados por Rafael Cardoso (Thomas) e João Gabriel Vasconcellos (Francisco) , que passa além do simples bem querer.



O filme já merece atenção, por tirar das telas aquele sempre visível estereótipo e lugares comuns da homossexualidade: pessoas promíscuas, com HIV e blábláblá.



Outra questão que também merece ser percebida: vamos dar mais espaço para os filmes brasileiros que não retratam a questão da pobreza e violência no país. Ok, isso é super importante. Apesar de tudo, acho que já deu tudo o que tinha de dar. Já vivemos há quase ou mais de uma década com películas com esse tema invariável. Lá fora, todos só conhecem o filme brasileiro por ter pobre e morte. Voltar os olhos para temáticas mais rebuscadas e interpretações mais shakespearianos será um grande passo para o cinema brasileiro.


Não, um grande passo não. Nós, simplesmente, estaríamos voltando ao que o cinema brasileiro sempre foi. Nos tempos da Vera Cruz, décadas de 40 até 60... Grandes produções, com seus méritos. Acho ótimo termos "Central do Brasil", "Cidade de Deus", "Carandiru" e "Tropa de Elite" em nosso currículo, sendo que não sair disso é subestimar a inteligência do povo tupiniquim.



Trailer do filme, no YouTube: file://www.youtube.com/watch?v=GzevH7v0rRY&eurl=http%3A%2F%2Foglobo%2Eglobo%2Ecom%2Fdiariosp%2Fcinemaniacos%2F&feature=player_embedded



Que venham "Do começo ao fim", "Divã", "Se eu fosse você", "O primo Basílio"...



Em contrapartida à questão do estereótipo, o filme com Fábio e Júlia não foge de um mínimo estereótipo: qual a razão para que todo homossexual de filmes, peças ou novelas nunca ser nem um pouco feinho? Isso deve fazer com que os gays não tão bem apessoados se sintam excluídos. Será que esse tipo mereceria cota na universidade? Pensem.

domingo, 3 de maio de 2009

Apenas para não morrer

Apenas para o blog não ser esquecido.

Mas alguém se lembra dele?

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Mahalia Jackson e Frida Boccara, uma estadunidense e outra francesa. Duas novas, mas bem antigas, descobertas musicais minhas. Rola, no YouTube, uma versão da Frida, em 1970, cantando "Ne me quitte pas" e uma da Mahalia, em uma igreja, depois do histórico discurso de Martin Luther King, em que dizia que "eu tenho um sonho", cantando "How I got over".

Já escutei muitas versões de "Ne me quitte pas", as principais sendo com Maysa e Jacques Brel, mas a voz de Frida Boccara foi algo que me impressionou de maneira alarmente. Nunca pensei que poderia encontrar algo novo em uma música tão cantada e difundida.

Outra coisa: coloquem na Band ou Record e tentem escutar alguma música evangélica. É algo tão insuportável, que não dá nem para apreciar. Agora, as cantoras religiosas dos Estados Unidos são tão boas que chegam ao nível, facilmente, de divas.

http://www.youtube.com/watch?v=HGL9zFzUVfM&eurl=http%3A%2F%2Fwww.orkut.com.br%2FFavoriteVideos.aspx%3Frl%3Dls%26uid%3D12643344621791438254&feature=player_embedded=http%3A%2F%2Fwww.orkut.com.br%2FFavoriteVideos.aspx%3Frl%3Dls%26uid%3D12643344621791438254&feature=player_embedded3D12643344621791438254&feature=player_embedded Ne me quitte pas

http://www.youtube.com/watch?v=l49N8U3d0Bw&eurl=http%3A%2F%2Fwww.orkut.com.br%2FFavoriteVideos.aspx%3Frl%3Dls%26uid%3D12643344621791438254&feature=player_embedd
ed How I got over

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Gay Talese chega no Brasil, em julho, para a Flip. É óbvio que lá eu estarei. Ele lançará o livro "Vida de escritor", em Paraty. Está preparando um novo, sobre seu casamento de 50 anos. Gay Talesa, juntamente com Truman Capote, Norman Mailer e Hunter Thompson são meu oásis do jornalismo.

Chico Buarque, escritor e cantor que lançou recentemente "Leite derramado", também irá à Flip.

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Livro de hoje: "O processo", Franz Kafka

Música de hoje: "Who's loving you", Jackson Five