segunda-feira, 29 de junho de 2009

Preto no branco

Olha, eu estava pensando nisso agora. A mãe dos dois primeiros filhos de Michael Jackson revelou a um tabloide inglês que ele não era o pai das crianças; ele e nem ela, diga-se de passagem. Aí vem a pergunta que nega-se a calar-se: por mais que digam que é mentira, como é que esses dois filhos nasceram, de um pai originalmente negro, brancos? Eles não chegam nem a ser moreninhos. Poxa vida.

quinta-feira, 25 de junho de 2009

'About the blues'


Eu soube, em torno de 17h30min (horário de Brasília), através do Twitter de ator estadunidense Ashton Kutcher, da ataque cardíaco sofrido pelo cantor Michael Jackson. Sendo essa uma interrogação, "Michael Jackson had a heart attack?", fiquei em torno de 3 horas entre a dúvida, especulação, e a certeza.


Através do Jornal Nacional, bem em seu fim, acreditei no que William Bonner tinha a me dizer. Depois de a Reuters e a France Press afirmarem, primeiramente e bem cedo, que ele havia morrido, apenas baseadas no TMZ, um site que cobre celebridades e que possui um programa na TV, passei a ver cada vez mais meios de comunicação dando o ponto final na história. Depois foi Los Angeles Times, depois The New York Times, depois CNN, depois a Globo etc, etc, etc.


Agora, pobre, haverão mais especulação em cima de sua vida. Como ele morreu, será que foi mesmo um ataque cardíaco, ele é pedófico, ele teve vitiligo...? blábláblá, blábláblá.


Só sei que ele era um cantor brilhante, nos tempos do Jackson Five. Reconheço que sou fã dele mesmo por essa época, que depois eu já nem gosto muito de sua música, mas também não posso negar a magnitude e sua importância no cenário musical mundial dos últimos quase 30 anos, desde que ele se lançou em carreira solo.


Vou deixá-los com uma de suas melhores músicas, em minha opinião. A música do dia, da semana, do mês, do ano, da década, da vida: Who's loving you.


segunda-feira, 22 de junho de 2009

Problemas do Orkut, Utilidade do Twitter, Relevância do Gilberto


Primeiramente, eu só gostaria de fazer alguns comentários sobre redes sociais de que faço parte. A mais antiga delas, e também a mais difundida no Brasil, a que pertenço, está de sacanagem comigo. O Orkut de tempos para cá está me impedindo de executar várias funções. Por exemplo: tudo começou quando eu não estava conseguindo enviar comentários em tópicos de comunidades; aparecia que o aplicativo não estava disponível no momento. Segundo uma rápida pesquisa, percebi ou apenas tive a sensação de que esse problema só estava acontecendo comigo. Depois, deparei-me com o sumisso repentino do link que remetia ao meu Blog, que se encontrava alocado no perfil do meu Orkut. Ele sumiu de lá e ficou em seu lugar [content supressed]. Mais depois de um tempinho, graças a Deus tudo voltou ao normal.


Aparentemente, pois hoje descobri que eu não estou habilitado para mandar scraps! Scraps! Algo de mais básico dentro do Orkut e essencial para a vivência e permanência no mesmo! Como sobreviverei sem ele?! Ainda bem que ainda me delegaram a possibilidade do depoimento, então tudo que deverá ser mandado de agora em diante será através dele. Mas espero que tudo volte ao normal, o mais rapidamente possível, antes que eu pratique o ato mais impensado de todos: o orkuticídio.


***


Já afirmei algumas vezes da minha incompreensão em relação à utilidade do Twitter. Achava que a capa dada pela "Época" a ele era algo de muito precipitado, no mínimo, e aqui no Brasil não via muita mobilidade diante de tal comunidade social. Apesar de tudo, agora que eu estou seguindo o canal de televisão estadunidense CNN, o ator Ashton Kutcher, a apresentadora Oprah Winfrey, a revista "Época" e a Patrícia Kogut, tudo está ficando um pouquinho mais divertido.


***


Em 2009, completa-se os 40 anos do início do movimento de emancipação dos direitos civis dos homossexuais. Tudo começou em 28 de junho de 1969, Nova York, com a Rebelião de Stonewall. Um bar, frequentado majoritariamente por gays, foi o palco do início da revolta, que envolveu a polícia de NY. Stonewall foi um marco por ter sido a primeira vez que um grande número de pessoas se uniu para resistir aos maus tratos da polícia para com a comunidade GLBT, e é hoje considerado como o evento que deu origem aos movimentos de celebração do orgulho gay.


Unindo-se isso à Parada Gay de São Paulo, que reuniu mais de 3 milhões de pessoas e é hoje considerada a maior de todo o mundo, onde ocorreram eventos lamentáveis como agressões físicas e uma bomba no Largo do Arouche, matando uma pessoa, o jornal "O Globo" convidou Antonio Quinet, psicanalista e doutor em filosofia, para mostrar que o homoterrorismo ainda é muito presente na sociedade.


Além de seu relato, o jornal dá espaço ainda para João Ximenes Braga escrever "A revolta dos perdigotos" e Gilberto Scofield Jr. "Bambi na selva".


João é colunista sábado sim, sábado não, no caderno "Ela" e Scofield Jr. é correspondente internacional, pelo jornal, em Washington, já tendo ocupado o cargo em Pequim por mais de 4 anos.


O que me surpreendeu foi o depoimento de Gilberto, que assumiu ser homossexual. Eu, pessoalmente, sempre o considerei como um dos melhores correspondentes internacionais do jornalismo brasileiro, juntamente com Pedro Bial - para quem não sabe ou não se lembra, Bial foi consagrado por grandes coberturas, como a queda do Muro de Berlim, em 8 de novembro de 1989, para a rede Globo.


Já gostava do trabalho dele e agora gosto mais dele como pessoa, por ter tido a honestidade e coragem de se assumir e por estar lutando por maiores direitos, tanto para ele e seu companheiro, como para a sociedade em geral.


A íntegra da página Logo - http://oglobo.globo.com/blogs/logo/

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Jornalismo cinematográfico


O filme "Intrigas de Estado" me provou que ainda existe bons filmes que remetem ao jornalismo. Seguindo a vertente do clássico "Todos os homens do presidente", o longa bateu forte no peito. Com referências ao fim do jornal no papel, à agilidade do jornalismo online e ao escândalo de Watergate, Russel Crowe se mostra um repórter tão bom e ético quanto contraditório; o que, enfim, é a essência humana: o bem e o mal. Além de tudo, há a editora Helen Mirren - com uma plaquinha em sua sala que diz algo como "nunca aceite o que sua editora ordenar", com a também brilhante novata jornalista, dona de um blog do jornal "Whashington Globe", bem parecido com o "Washington Post".


Assistam, vale a pena.


"State of play", dirigido por Kevin Macdonald e estrelado por Jason Bateman, Rachel McAdams, Ben Affleck, Russell Crowe, Robin Wright Penn, Helen Mirren, Jeff Daniels.

domingo, 14 de junho de 2009

O que é ser jornalista?

No jornal "O Globo" de hoje, os jornalistas Arnaldo Bloch (descendente da ex-toda-poderosa Manchete) e Miguel Conde, na coluna "Logo - A página móvel", colocaram em voga o tema jornalismo-jornalista. Depois de uma introdução que remetia à extinção da Lei de Imprensa, à obrigatoriedade atual de se bater ponto nas redações e ao problema ético causado pelo blog da Petrobras, vemos declarações de pessoas normais e celebradas sobre a tão sonhada carreira.





  1. "Jornalista é o profissional encarregado de contar o que está acontecendo, quase sempre discordando do que acontece." Sérgio Cabral (o pai)

  2. "O jornalista, imaginando reproduzir a realidade, inventa a versão." Washington Olivetto, publicitário

  3. "Ser jornalista é correr perigo. Enfrentar isso aí que a gente vê, essa violência. Viu o que houve com o Tim Lopes? Ser jornalista é ser super-herói." Rosemberg Fritz, ascensorista

  4. "Jornalista? Ah, jornalista é um artista, né. Não é pra todo mundo. É pra pessoa que tem muita leitura, pode ser até um advogado, professor, governador, prefeito..." Antonio José de Lima, baleiro
  5. "O jornalista é um funcionário público - mesmo, e sobretudo, quando não é." Francisco Bosco, escritor
  6. "O jornalista é igual peixe: só serve se for fresco." Marcelo Madureira, humorista
  7. "Deveria ser alguém que escreve contra a maré." Rodrigo Costa, professor, doutorando em letras
  8. "Um profissional que forma, enquanto informa." Eliana Yunes, professora
  9. "Não é só publicar o que chame atenção. É informar com responsabilidade, com formação ampla e conhecimento de muitas áreas, porque o jornalista acaba falando de tudo. Se não tem conhecimento, tem que ter a humildade de pedir ajuda e buscá-lo com quem o tem." Padre Jesus Hortal, reitor da PUC
  10. "Jornalismo é a informação correta e verídica dos fatos, garantindo credibilidade perante o público. Eu acho uma função importantíssima, não saio de casa sem ler o jornal." Francisco Sergio Fonseca, supervisor de estacionamento
  11. "Jornalista: profissional que transforma fato em notícia para diferentes meios." Duda Mendonça, publicitário
  12. "Primeiro, tem que vestir a camisa de jornalista, senão não adianta nada." Antonio Pinnola, jornaleiro
  13. "Ser jornalista é extrair o máximo das informações." Sabrina Andrade, vendedora
  14. "Um(a) jornalista é Tudo, já, aqui, de novo, sempre. Sísifo profissional. Mas também escritora e etnógrafa do novo milênio, fazendo a literatura quebrar os dentes na pedra sibilante (e sublimada) do real." Luiz Eduardo Soares, cientista social e antropólogo
  15. "Jornalista é uma ponte entre uma experiência e o grande público." Francisco Carlos Teixeira, historiador
  16. "Jornalista é o escritor que sabe que a versão dos fatos é mais importante do que os fatos em si." Augusto Sales, escritor
  17. "Jornalistas, como os artistas, são as antenas motoras da raça!" Jorge Salomão, poeta
  18. "Ser jornalista é focar [epa!] na "evidência" e não na "tendência." Nei Lopes, compositor
  19. "Ao descrever com rigor e comentar com discernimento um fato do cotidiano, o jornalista convida o leitor a sair de seu mundo privado para refletir sobre a realidade planetária." Silvano Santiago, escritor e crítico
  20. "Jornalista é quem transmite informações claras e corretas ao leitor." Sérgio Santanna, escritor
  21. "Nos melhores casos, um cronista do cotidiano; nos piores, um fofoqueiro profissional." Marcelo Moutinho, jornalista e escritor
  22. "Jornalista: Sísifo levantando uma tese por dia, em universidade aberta." Tom Zé, compositor
  23. "Jornalista é o atalho entre o mundo real e o cidadão." Galeno Amorin, diretor do Observatório do Livro e da Leitura
  24. "O jornalista tem o dever de transmitir informação com ética e responsabilidade. Fundamental para o desenvolvimento de uma sociedade democrática. É o grande fiscal da sociedade civil." José Sergio Machado Junior, estudante de cinema
  25. "Jornalista é aquele profissional que precisa transmitir à população fatos que julgue pertinentes. É um pesquisador, ainda que com caráter generalista, motivado com o motor da interrogação: um curioso profissional." Henrique Rodrigues, poeta
  26. "(Bom) jornalista é aquele que tem ampla formação, senso de relevância e faro de investigador. Não é o diploma que vai garantir isso." José Murio Carvalho, cientista político e historiador
  27. "O jornalista narra a aventura humana no calor da hora, com independência, emoção e sempre desconfiando do poder." Geraldo Carneiro, poeta e letrista

TRIBUNA DO DOMINGOS DE OLIVEIRA - 23 DEFINIÇÕES INTERROGATIVAS PARA A PALAVRA JORNALISTA

  • Um que se diz: "meu ofício é dizer o que penso"?
  • Aquele amante da verdade que conta como ela é nua?
  • Amigo do mundo que me conta como ele vai passando?
  • Aquele tão deslumbrado que preferiu ser a testemunha da criação?
  • Amigo do instante que conta como ele pode ser eterno?
  • Alguém usando do poder econômico no jornal para sua vaidade?
  • Arauto que anuncia um mundo melhor?
  • Aquele que pode vender a alma sem Mefisto por perto?
  • Filho-da-puta do tipo competitivo que só pensa besteira?
  • Um escritor frustrado treinando o almejado ofício?
  • Um que ajuda pobres e ricos a alcançar o poder?
  • Qualquer coisa de intermediário entre a verdade e a mentira?
  • Um homem que se alimenta da vida dos outros gulosamente?
  • Aquele que semeia a notícia no campo fértil do mundo?
  • A profissão heroica que denuncia mesmo sendo a denúncia conhecida?
  • Um membro do primeiro poder que subestima sua importância?
  • Aquele que sabe que jornal nem sempre diz a verdade?
  • Um ingênuo que pensa que pode dar uma opinião imparcial?
  • Um que registra, grava, espalha eventos, e intervém na realidade?
  • Uma peça de um quebra-cabeças político altamente duvidoso e mentiroso?
  • Aquele que acha certo o que o jornal não faz?
  • Gente convencendo os outros de que a verdade está no papel?
  • Alguém que acha a vida tão interessante que tenta eternizá-la?

sábado, 6 de junho de 2009

The King of Soul


Outro dia eu estava assistindo ao "Pânico na TV", quando escuto uma música cantada pela Amy Winehouse. Era aquele "Momento Amy Winehouse", quadro do programa da Rede TV! Era uma música que eu sabia que já tinha escutado, mas não me lembrava seu nome.

Foi aí que, procurando a música no YouTube, descubro que ela foi cantada pela primeira vez por ela em Glastonbury, em 2007. E mais: que ela é um cover da original, cantada por Sam Cooke. Mas quem seria Sam Cooke?!

Então, descobri quem ele era. Ele é quem canta, também, "Send me some lovin'", "Wonderful world", "Bring it on home to me" e muitas outras. Considerado, assim como Aretha Franklin (a Rainha do Soul), o Rei do Soul, the King of Soul.

Acho que não é à toa. Principalmente se você escuta, através do mesmo YouTube, uma versão ao vivo de "Bring it on home to me". É algo assim... Impagável.

Querendo conhecê-lo, é só ir lá em http://www.youtube.com/ e colocar Sam Cooke. Simples, não?! Mas se você quiser ir logo para as melhores músicas, coloca lá na parte de pesquisar do site de vídeos: "Sem Cooke - Bring it on home to me live".

E seja feliz para sempre.
P.S.: Infelizmente, hoje em dia ninguém mais poderá ver uma música cantada por ele, ao vivo. Morreu, sob situação completamente suspeita, em 1964. Muito novo, haja visto que nasceu em 1931. Pena, uma pena.

quinta-feira, 4 de junho de 2009

Paul Auster e a depreensão da realidade, identidade e linguagem na produção literária


- Trabalho realizado para a matéria de Teoria da Literatura II, do curso de Letras Português-Literaturas da Uerj. Obra analisada: "Cidade de vidro", primeiro conto do livro "A trilogia de Nova York", de Paul Auster.

***

Em "Cidade de vidro", escrito pelo estadunidense Paul Auster e lançado no final dos anos 1980, depara-se com questões que giram em torno da identidade do ser humano, que nos levam, também, a vislumbrar a dúvida sobre a realidade real e a realidade ficcional. Além disso, há uma abordagem muito interessante acerca da linguagem humana, de sua obtenção até seu uso concreto. Sendo assim, um joguete é formado entre o leitor e o escritor, que nos mostra, com a obra, conceitos e ideias sobre a concepção literária, fazendo uso dela em todo o momento, tanto em citações a ícones famosos da literatura, como também com o questionamento dos métodos de como uma obra é preparada.

Primeiramente, irá se abordar a questão da identificação das personagens dentro do texto. Tal amostragem revela o poder que o autor detém diante de sua escrita, assim como a sua pretensão de colocar em pauta o problema da identidade dos indivíduos. Da mesma maneira, é igualmente pertinente elaborar-se, com a questão da identificação das personagens, uma dúvida em torno da realidade e verossimilhança presente em "Cidade de vidro" e o mundo.

Paul Auster, cidadão americano e supostamente uma pessoa real, até que se prove o contrário, cria uma obra, em que a personagem principal chama-se Quinn. Ele, igualmente escritor, elabora romances de mistério, tem uma mulher e um filho, que já morreram, e utiliza, em seus trabalhos, o pseudônimo de William Wilson. Dentro de seus livros de mistério, existem pessoas, como o detetive particular e narrador Marx Work. No decorrer de "Cidade de vidro", Quinn descobre outro nome, Michael Saavedra, homem que indicou à mulher de Peter Stillman seu "nome" para um ofício. Tal ofício, seguir o homem que é pai de Peter Stillman.

Entretanto, apesar de todos esses serem nomes dados pelo autor à personagens de seu livro, é notório que conexões devem ser feitas e interpretações podem ser encontradas diante de certas conclusões. Então, lê-se que Quinn utilizou, por cinco anos de sua vida, o nome de William Wilson para assinar seus escritos. Apesar de tudo, existe um conto, escrito por Edgar Alan Poe, cujo título é "William Wilson". Nele, a personagem-título confronta-se com outro homem, de mesmo nome, mas com atitudes e personalidade opostas. É dado, aí, um conflito entre os eus de William. Conclui-se, então, que um é ele e o outro é o mesmo, apenas seriam o "bom" e o "mau", atitudes conflitantes, mas indissociáveis e complementares. Já Michael Saavedra, citado apenas de modo passageiro, nada mais é que uma referência a Miguel de Cervantes. Michael sendo o primeiro nome do escritor espanhol em língua inglesa e Saavedra sendo o último sobrenome do mesmo, que viveu durante o século XVI e escreveu a principal obra de literatura em língua espanhola, "Dom Quixote de La Mancha". A personagem-título da obra do espanhol, por sua vez, era um homem que de tanto ler livros de cavalaria, acabou endoidecendo, acreditando que moinhos eram inimigos e que seu pangaré era o maior cavalo do mundo. Por último, Paul Auster, autor de "Cidade..." põe seu nome dentro de sua história. Qual seria a razão para Quinn, ao ser chamado de Paul Auster, pela pessoa que estava do outro lado da linha do telefone, aceitar o pedido de ajuda? Afinal, pelo nome que o leitor lê na folha de papel, Quinn é Quinn e não Auster. Contudo, como mesmo afirma Peter Stillman reiteradas vezes: "Sou Peter Stillman. Este não é o meu nome verdadeiro. Obrigado.", não há como ter certeza de absolutamente nada, nem do próprio nome, algo básico e primordial para a identificação e noção do ser humano diante de si e do mundo que gira em seu redor. Finalmente, no decorrer da leitura do conto, quando Quinn/Auster está na estação de trem aguardando o senhor Stillman, pai de Peter Stillman, depara-se com dois dele e espanta-se. Depois, escolhe apenas um para seguir. Qual seria a razão do espanto de ver dois iguais, se o próprio Quinn estava se passando por outro, tendo uma vida dupla? O autor, então, chega-se a conclusão, se utiliza de referências literárias e situações completamente esquizofrênicas e desconexas que remetem à ausência de normalidade dos fatos.

Ao se seguir com a análise da primeira parte de "A trilogia de Nova York", vê-se que Auster faz reflexões que seriam fruto do pensamento do escritor Quinn, mas que na verdade podem se adaptar à lacunas referentes à produção literária e sua conexão com a realidade dos fatos. Claro e obviamente, nesse caso, o questionamento seria pertinente à obras que se propõe a serem o mais realistas possíveis. O melhor exemplo se encontra nos primeiros parágrafos do capítulo 3:

"O discurso chegou ao fim. Quanto tempo havia demorado, Quinn não sabia dizer. Pois só agora, depois que as palavras cessaram, deu-se conta de que estavam no escuro. Ao que parece, um dia inteiro tinha passado. Em algum momento durante o monólogo de Stillman, o sol se pusera na sala, mas Quinn não havia percebido. Agora podia sentir a escuridão e o silêncio, e sua cabeça zunia com essas duas coisas. Muitos minutos passaram."

O monólogo a que Quinn se refere é o do capítulo anterior, travado por Peter Stillman. Ele, em si, dura oito páginas. O leitor, ao lê-lo, pode vir a demorar, no todo, uma hora. Então, qual seria a razão para se acreditar que um discurso, completamente reproduzido, demorou mais tempo para se realizar do que a leitura do mesmo? Até poderia ocorrer de interrupções, interferência e obstáculos naturais na fala cotidiana, mas a personagem Quinn realmente se dá a acreditar que ele não compreende essa diferença. Deste modo, enxerga-se a contradição temporal da passagem de tempo nas obras, sendo essa uma "defasagem" da produção literária que se almeja perceber como real e verossimilhante.

Outras situações em que nota-se uma teorização do processo de produção da literatura é quando Quinn está para sair de sua residência pela primeira vez, no decorrer do livro. "Só quando já estava com a mão na maçaneta da porta, Quinn começou a suspeitar do que estava fazendo. 'Parece que estou saindo de casa', falou para si msmo. 'Mas se estou saindo, para onde exatamente estou indo?'" Tal é uma relação com a descrição dos atos de uma personagem narrativo, assim como quando Quinn não consegue colocar em mente a visualização minuciosa de Virginia Stillman:

"Foi uma mulher que abriu a porta do apartamento. Por alguma razão, Quinn não estava esperando por isso e ficou desconcertado. As coisas já estavam acontecendo depressa demais. Antes que tivesse uma chance de assimilar a presença da mulher, uma chance de descrevê-la para si mesmo e dar forma a suas impressões, ela já estava falando com Quinn, obrigando-o a responder. Portanto, já nesses primeiros momentos, ele havia perdido terreno, começava a ser deixado para trás. Mais tard, quando teve tempo para refletir sobre esses acontecimentos, Quinn conseguiria reconstituir seu encontro com a mulher. Mas isso era o trabalho da memória, e coisas lembradas, ele sabia, tinham a tendência de subverter as coisas lembradas. Em consequência, ele nunca conseguiu ter certeza de nada disso."

Ou seja, nos livros, veem-se as descrições minuciosas de características tanto físicas quanto pessoais das personagens, mas na vida real cotidiana, não temos a capacidade de fazer este juízo de valores.

Outra consideração literária é a deflagração da desnudes da personagem em terceira pessoa. Tanto o autor quanto o leitor sabem tudo sobre ele. Mas será que sabe-se tudo de verdade?

"Tudo em Peter Stillman era branco. Camisa branca, aberta no pescoço, calça branca, sapato branco, meia branca. Contra a palidez da sua pele, a finura de linho do seu cabelo, o efeito era quase de transparência, como se fosse possível ver as veias azuis através da pele do seu rosto. (...)
Stillman se acomodou lentamente na poltrona e por fim voltou a atenção para Quinn. Quando seus olhos se encontraram, Quinn teve de repente a sensação de que Stillman tinha ficado invisível."

Já no que diz respeito à linguagem, nota-se na história da Torre de Babel e de Adão e Eva, contadas em capítulos do conto, a intenção de interação com a questão da fala truncada e estranha de Peter Stillman e também de seu trancamento durante alguns anos dentro de um quarto. Embasado por pessoas que seriam supostamente verdadeiras e considerações atribuídas a elas, Auster tece visões sobre a linguagem essencial. Algo como a linguagem pura, haja visto que o pecado foi criado com a expulsão de Adão e Eva do paraíso, sendo que para existir o ruim, deve-se haver o bom, então nos tempos do Éden, havia um estado puro, metafísico. Será que crianças isoladas, que nunca houvessem escutado adultos ou outras pessoas falarem, seriam capazes de adquirir uma forma de comunicação? O caso de Peter Stillman seria muito semelhante ao de Kaspar Hauser, surgido em 1828. Casos mais bem sucedidos quanto a obtenção da comunicação que outros, mas casos que o autor utiliza que são, de fato, concretos. Uma curiosidade além é o gosto de Kaspar Hauser por vermelho e o caderninho vermelho de Quinn, que ele comprou de forma tão voraz e amável.

Em contrapartida, como se pode acreditar na enumeração de todos esses casos? "Cidade de vidro" trata-se de uma obra ficcional e evidentemente repleta de fatos ficcionais, por mais verossimilhantes que sejam. Então, como crer que os exemplos dados por Auster são verdadeiros? Kaspar Hauser, é unanimidade, realmente existiu, pois o "meu" conhecimento de mundo permite ter noção disso, mas como dar uma credibilidade sincera para a enumeração de estudos e dissertação de pessoas que nunca antes de ouviu falar? É notório que Heródoto existiu, mas como "eu" vou saber que Henry Dark ou John Milton existiram mesmo? Se algum leitor, anteriormente, já tiver ouvido falar dos dois, uma coisa. Mas se não, como garantir? Uma obra de ficção não possui o mesmo estatuto que as de não-ficção, já autoexplicativas.