sábado, 27 de novembro de 2010

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Massacrar

“O desejo do puro é sempre hediondo.” Nelson Rodrigues

1) O que há de comum entre o massacre da Bósnia, Ruanda e Europa sob o domí-nio nazista? Qual o papel e de onde vem o poder do líder?

A intenção de “purificação étnica” é o que provavelmente encontra-se de elo entre os massacres descritos no livro do francês Jacques Semélin, “Purificar e destruir”. Tanto no ódio em relação aos judeus, equiparados aos bolcheviques, doentes mentais, homossexuais etc., para a ascensão ariana, quanto na ideia de “Grande Sérvia” e na oprimida e não-representada maioria hutu, vemos o objetivo de eliminar um determinado segmento, uma “raça”, uma “escória”. Na luta do “eles” contra o “nós”, um processo de legitimação da diferenciação é posta em prática pelos formadores de opinião dos respectivos países e povos, sendo eles jornalistas, professores e intelectuais em geral.

É neste cenário, quando a ideia de que o “eles” está ameaçando a integridade física, ideológica etc. do “nós” já está assimilada pela maioria, ou aparentemente assimilada pela maioria da população, que vê-se um terreno fértil para que um líder seja posto, dando ele um poder legítimo político para colocar-se em prática (entendimento lacaniano da “passagem ao ato”) o assassínio em massa, o genocídio, o massacre, que sobre o ser humano corporifica o poder (Vigiar e punir, Foucault).

Com a licença da palavra, eu gostaria de fazer alguns comentários sobre a situação de violência atual na cidade do Rio de Janeiro, que na semana da elaboração desta prova encontrou posição de destaques catastróficos, através da mídia e das autoridades, maior que o usual, haja visto que a estou acompanhando muito influenciado pelos ensinamen-tos obtidos em História do Mundo Contemporâneo.
Sendo assim, fico com medo de passarmos a ver os “traficantes” como “eles” e a “sociedade” como “nós”, achando que “aquela raça” deve ser aniquilada, para que o po-vo volte à sua normalidade.

Com isso – o apoio dos intelectuais e das instituições governamentais, que dão apoio a essa ideia e a transmite à população, fazendo com que o conjunto se tenha como ameaçado –, temo que se veja a questão do “marginal”, no sentido restrito da palavra, como alguém que pura e simplesmente deseja tirar o sossego de nós, ditos normais, ci-dadãos e sociáveis. Ou seja, existe um intrincado muito mais complexo, que envolve a questão latifundiária, educacional, moralista, econômica e do fato de a droga não ser vista como tema de saúde pública e sim como crime passível de punição, tendo-se o sis-tema prisional brasileiro como um grande agravante de todo esse esquema.

Então, quando uma autoridade diz: “vamos denunciar”, “vamos acabar com es-ses marginais”, “nossas famílias têm que voltar à paz cotidiana” etc., resguardadas as devidas proporções, me fazem lembrar os denuncismos e a situação infelizmente vividas na Alemanha nazista, em Ruanda e na Iugoslávia.

Não quero, com isso, dizer que a violência é legítima, por qualquer uma das partes, mas sim que temo que o massacre, o genocídio, seja algo autenticado no Rio de Janeiro, fazendo com que não consigamos ver que "nós" mesmos que excluímos esse "eles" que hoje dizemos que nos ameaça.

sábado, 20 de novembro de 2010

Sobre papai


"Eu teria sido feliz por tê-lo como amigo, chefe, tio, avô, até mesmo (embora mais hesitante) como sogro. Mas justo como pai você era forte demais para mim, principalmente porque meus irmãos morreram pequenos, minhas irmãs só vieram muito depois e eu tive, portanto, de suportar inteiramente só o primeiro golpe, e para isso eu era fraco demais."


Carta ao pai - Franz Kafka