domingo, 31 de outubro de 2010

Um dos melhores discursos sobre Deus e religião


"Não compro todo o papo do Deus cristão, a onda toda dos testamentos não faz sentido para mim. Mas não tem como não acreditar em Jesus, que foi um cara fodão que andou ali pela Galileia e descobriu uma coisa genial. Naquela época, o cara fodão era o da espada e Jesus foi lá e disse: 'Brother, a parada é o amor, é o papo, é a gente se gostar.' E botou pra foder! Mas aí aquele papo da cruz, ressurreição e tal... é muito difícil pra mim."


Wagner Moura, em depoimento ao jornalista Ricardo Franca Cruz, na Rolling Stone de outubro de 2010.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Sobre os animais

(Charles Bukowski)
"Sábado à noite. Seu programa é sofrer." (Cão da depressão, @caodadepressao)


"Dor de garganta. Não se compara à dor da sua alma." (Gato da depressão, @gatodadepressao)


"Lembre do seu passado. Perceba que nada de bom aconteceu." (Cão da depressão, @caodadepressao)


"Vieram te visitar. Carteiro." (Cão da depressão, @caodadepressao)

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Ai Ai Ai

2) Joan Brossa era catalão, e por mais que a Catalunha seja uma região subjugada ao Estado espanhol castelhano, ele escolheu escrever seus trabalhos em sua língua natal. Portanto, a palavra “folha”, para o poeta visual, chama-se “full”. Mas assim como no português, tanto a folha de papel como a folha da árvore, ou a “full” de papel e a “full” de árvore, são homônimas, sendo distinguidas pelos símbolos indiciais¹. Tendo esta ideia como ponto de partida, “Falar implica a seleção de certas entidades linguísticas e sua combinação em unidades linguísticas de mais alto grau de complexidade.”² Certa-mente, a arte e Brossa apoderaram-se desta capacidade da língua de, em através de um signo verbal, poder referir-se a diversas coisas para fazer um jogo de significações com “Burocracia”. Com a definição de Roman Jakobson de “combinação” e “seleção”, vê-se que, para a elaboração do trabalho artístico, foi empregado o conceito do segundo, ao passo que o signo “folha” é apenas semelhante verbalmente entre suas duas possibilida-des, pois no aspecto físico e de função, o significado seja completamente outro: “(...) equivalente ao primeiro num aspecto e diferente em outro.”³. O título do trabalho e o clipe contribuíram para o entendimento do objetivo da obra e a situaram em uma linha de raciocínio. Apesar de tudo, por mais que a palavra “folha” esteja sendo analisada e vista como condição para o entendimento da obra, a linguagem não verbal é a predominante no trabalho e é ela quem o compõe, em sua totalidade. Por sabermos tratar-se da folha pela sua representação em imagem – e a partir daí que se passa a fazer a correlação linguística com seu homônimo – e pelo clipe que une as duas folhas nos remeter indicialmente ao trabalho de escritório burocrático de uma repartição pública, escritório etc., percebe-se que a correlação entre um signo verbal pressupõe a existência de um não verbal que o represente no mundo da percepção (uma palavra, um conceito, algo que não possua facilmente uma representação em imagem, um correspondente, torna-se rapidamente mais complexo de ser depreendido pela cognição humana, por tratar-se e chegar-se ao ponto de uma abstração). Substituiu-se uma folha por outra folha, gerando assim deslocamento e reflexão, através da seleção, em se tratando de folhas secas e caídas, sem vida, que demonstram a apatia de um estado burocrático e mecânico, em qualquer nível de relação interpessoal e de ofício.

1. Lúcia Santaella, “O que é semiótica?”, página 69.
2. Roman Jakobson, “Linguística e comunicação”, página 46.
3. ______________________________________ , página 49.


1) Em “O enigma de Kaspar Hauser”, percebe-se que o personagem principal, ao estar totalmente privado das experiências externas durante todos os primeiros anos de sua vida, faz com que ele não tenha a faculdade da fala e, consequentemente, não possua uma interação específica e compreensível de mediação com o mundo e seus fenômenos. Ainda que não saiba ler, escrever e falar, sabe pronunciar a palavra “cavalo”, sendo ele um brinquedo que possuía. Em momentos do filme percebe-se que ele consegue no decorrer do tempo falar outras palavras, mas inicialmente elas soam vazias de conceito e significação, sendo nula a relação de conceito e imagem acústica, demonstrando uma capacidade apenas de repetição. Esta realidade tendo se alterado no decorrer de sua vi-da, Kaspar Hauser consegue aprender a ler e a escrever, demonstrando em um ser adulto os percalços passados por uma criança ao aprender a ler, escrever, falar e interagir com o mundo, por mais que com ele tudo tenha sido muito mais dificultoso. Apesar de tudo, por mais que o personagem principal tenha conseguido aprender a linguagem verbal, ainda assim era complicado administrar sua relação com os conceitos e com os códigos não verbais vigentes na época. Sendo a natureza do signo linguístico aleatória, para ele o era também muitas coisas, estando ele, por mais que soubesse falar, ler e escrever, privado em momentos de conseguir formular uma frase sintaticamente coerente e que possuísse lógica, já que ela, assim como o signo linguístico, é socialmente convenciona-da. Um bom exemplo desta situação é quando Kaspar está conversando com um profes-sor e o último quer convencer o rapaz da melhor maneira de saber se alguém está falando a verdade ou não. A distinção entre realidade e sonho também é estranha a Kaspar, pois ele não atribui categoricamente as linguagens em estados distintos, sendo tudo um mesmo aglomerado de sensações, palavras e conceitos. Kaspar tendo desenvolvido boa habilidade para músicas e arte e não tendo um bom curvamento subjugado às convenções da época em se tratando de etiqueta e religião mostram como os códigos são, assim como a linguagem em seu conceito primário de fala, ensinados e decodificados desde a infância e passados adiante. O que Kaspar Hauser fez com sua incompreensão do mundo como o obrigaram a ver é o que os estudiosos, filósofos etc. o fazem também, questionando as padronizações, ainda que estes não sejam considerados tão anormais como foi o rapaz alemão. Portanto, vê-se que a natureza do signo linguístico proferida por Saussure é correta no que concerne a sua aleatoriedade e a suas imagens acústicas, tendo em “O enigma de Kaspar Hauser” um bom caso de entendimento da situação onde a noção de signo, significado e significante é conturbada para o personagem, assim como de fato deve ser mesmo quando a vida, questionada.

Teoria da Comunicação III

3) Relacione as ideias de Primeiridade, Secundidade e Terceiridade. de Peirce, com uma imagem/obra de arte a sua escolha, desenvolvendo uma argumentação.

O quadro “La reproduction interdite” (A reprodução proibida), do belga René Magritte, de 1937, revela a complexidade humana em sua condição moderna e o papel da arte dentro desta questão. Por mais que isso não seja explicitamente vislumbrado na obra, como algo óbvio e inerente, por meio das ideias de Charles Sanders Peirce, além de um não tão pequeno conhecimento de mundo, há como se chegar a conclusões que em um primeiro momento vemos como distante. Tendo como embasamento teórico para a interpretação dos signos – neste caso, a obra de arte – outro signo – neste caso, o signo linguístico verbal –, já que precisamos passar por ele para compreendê-lo ao passo que não conseguimos sentir o mundo diretamente sem mediações, os conceitos de primeiridade, segundidade e terceiridade serão utilizados, para que se possa alcançar uma visão mais clara do que de fato a obra de arte pretende dizer-nos, escapando do que é claro e minimamente explícito. Atendo-se a esses três conceitos, tem-se que as representações de todos os elementos do quadro compõem a imagem como um todo, em sua qualidade inicial e total, elas por elas mesmas em sua integridade conceitual pré-estabelecida. Essa imagem, signo, qualidade e primeiridade, unida ao contexto com o qual o quadro foi elaborado, que levam em consideração o título escolhido pelo autor, o lugar no mundo deste trabalho, sua época, seu movimento, ou seja, a corporificação material desta arte/questionamento no tempo faz com que tudo saia de sua qualidade perceptiva inicial e passe a obter outros significados vários, conseguidos através da contemplação e do deslocamento provocativo em relação aos parâmetros realistas-simbolistas. Portanto, a terceiridade é alcançada com a junção das duas etapas passadas, formando uma tríade difícil de separação na vida, para que o significado interpretativo total seja vislumbrado de uma coisa, qualquer coisa, na experiência sensível. Neste momento, então, somando-se imagem a seu contexto, para que se gere uma interpretação, vê-se em “La reproduction interdite” mais que um homem de costas para nós e de costas no espelho, mas sim um homem moderno incompreendido e incompreensível, sem sua identidade e com isso sem sua resposta. Problematiza-se a arte em sua condição de reprodução do real. Tirando o espelho de sua função habitual, e tendo em vista os conceitos conhecidos da obra de Magritte em relação às janelas, portas e espelhos, pergunta-se se a arte seria um espelho da realidade e, com isso, se ela seria capaz de responder o homem, de sabê-lo e conhecê-lo. Uma pintura, signo limitado no tempo e no espaço, transformado em metafísica questionadora, no desdobramento de conceitos permitidos através da qualidade primeira dos signos utilizados e selecionados unidos ao seu contexto social e artístico. Com esta obra em questão, entende-se que a pintura, obra etc. não é apenas reprodução, mas sim também manifesto político, social e questionador, ampliando sua função de início frugal e contemplativa.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Conversa entre escritor e editor


"Sofro tanto quando escrevo que parece que não sei ser outra coisa e tenho medo de assim permanecer e achar que minha felicidade está na tristeza. E é tentando colocar o que quero dizer pra fora que pretendo encontrar uma salvação feliz para mim, por isso que faço esses pedidos de permanência de algo e de mudança de outras coisas no conto, porque acho que o que quis dizer da forma que o fiz é a maneira como quero ser visto e compreendido pelas pessoas."

De Guido Arosa para Zeca Fonseca.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010



eu quero fumar, mas eu não posso fumar, eu não gosto de fumar. gostaria muito de mudar de vida, sair da minha bolsa auxílio, e não entrar mais em outro emprego, tão ou mais estressante quanto. eu acabo entrando na onda, apesar de tudo. acabo não saindo de um e entrando no outro, ou pelo menos pensando que posso entrar em outro, e que tudo ficaria lindíssimo e que eu ficaria riquíssimo. depois, volta tudo ao desânimo e ao desespero.

e eu só quero viver de escrever, mas o problema é que eu quero viver logo.

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sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Biscoito Fino lança este mês DVD em homenagem aos 50 anos de "O cavalinho azul"

Peça de Maria Clara Machado já virou filme, ópera e livro, agora chegando ao público como meio de preservação do passado cultural e visando a valorização do teatro e literatura infanto-juvenis




(Capa do DVD em homenagem aos 50 anos de "O cavalinho azul")


A Biscoito Fino, gravadora carioca no mercado desde 2001, em outubro lançará DVD pela comemoração do aniversário de 50 anos da primeira encenação da peça "O cavalinho azul", escrita e dirigida por Maria Clara Machado, considerada a maior dramaturga infantil brasileira. Fundadora do Teatro Tablado, uma das principais escolas de teatro nacional, faleceu de câncer há nove anos, mas deixou um legado vastíssimo de peças e livros ao longo de 80 anos de vida. Visando este legado que a Biscoito Fino presenteia seus ouvintes com trabalho de pesquisa e documentação primorosos, confirmando sua posição de vanguarda no incentivo às artes e ao reconhecimento de sua potencialidade no desenvolvimento de crianças e adultos.


Tendo recebido excelentes críticas na época de sua estreia, a peça, narrada por João de Deus, conta a história de Vicente, criança de origem pobre que vê em seu pangaré um belo cavalo azul, capaz de muitas peripécias e extravagâncias. Apesar de tudo, em consequência das dificuldades de vida da família, o cavalo é vendido, o que faz com que o garoto corra o mundo atrás de seu melhor amigo. Nessa busca, Vicente se depara com ambientes diferentes, onde passa por dificuldades e aventuras, mas não perdendo nunca seu intuito de reencontrar seu idealizado cavalo azul perdido. Peça infantil em um primeiro momento, Maria Clara Machado consegue alcançar crianças e adultos, já que o objetivo de ir atrás do que se ama e do que se acredita norteie o passar dos anos de alguém em qualquer idade.


(Fotografia da primeira montagem da peça, em 1960, no Teatro Tablado - RJ)

Manuel Bandeira, em sua coluna no "Jornal do Brasil", em 1960, afirmou que "Sonho e realidade, o sonho do menino, a realidade dos adultos sem resquício mais de infância, o circo e a cidade, chocam-se, combatem-se musicalmente nessa história fantástica, e naturalmente a vitória cabe à infância, à imaginação, ao sonho. Fica-se comovido. Eu fiquei comovido." Ao longo dos anos, recebeu adaptação para o cinema (dirigido por Eduardo Escorel, em 1984, com Joana Fomm, Erasmo Carlos e a própria Maria Clara Machado no elenco), para a ópera (músicas e libreto do maestro Tim Rescala, em 1991), fora outras encenações oficiais (em 1966, 1979, 1990, 2009 e 2010, atualmente no Teatro dos Quatro, no Shopping da Gávea) e livro. Considerada pela revista "Veja" a melhor peça infanto-juvenil de 2009-2010, sua última montagem tem direção geral de Cacá Mourthé. Nesse sincretismo de plataformas de projeção e de sentimentos, vários estudos acadêmicos já foram feitos, tanto sobre a peça especificamente, quanto sobre sua autora, como, por exemplo, "Interfaces midiáticas: do teatro ao cinema, em 'O cavalinho azul', de Maria Clara Machado", da Universidade de Marília.

Portanto, para que o legado de autora tão relevante no área cultural não seja esquecido, e aproveitando os 50 anos de estreia da peça, a Biscoito Fino pretende com este seu novo projeto levar aos adultos e crianças (e as crianças que coabitam os adultos) um feito primoroso, com depoimentos, extras e homenagens à arte que se inicia na infância. Principalmente, confirmando sua posição de vanguarda, a Biscoito Fino tenta mudar este cenário lamentável de esquecimento e renegação do produto nacional, que resvala e tem suas principais consequências no que se faz voltado em primeiro momento a um público infanto-juvenil.

Abaixo, segue entrevista feita pelo jornalista Sidney Rezende, contida no DVD, onde vê-se nitidamente o engajamento político e socio-cultural de Maria Clara Machado, que teve o privilégio de valorizar as crianças, para que estas sigam suas vidas com uma visão de mundo muito mais ampla que a tida por muitos adultos.






(Entrevista de Maria Clara Machado dada ao jornalista Sidney Rezende)


"Quando levamos o teatro para a criança, somos apenas aqueles que estão abrindo o caminho, o caminho que vai do sonho à realidade. Estamos criando, através da arte e a partir do maravilhoso, a oportunidade do menino sentir que a vida pode ser bonita, feia, misteriosa, clara, escura, feita de sonhos e realidades." Maria Clara Machado


(Fotografia de Maria Clara Machado)