segunda-feira, 28 de junho de 2010

Sensation


Nas belas tardes de verão, pelas estradas irei,
Roçando os trigais, pisando a relva miúda:
Sonhador, a meus pés seu frescor sentirei:
E o vento banhando-me a cabeça desnuda.
Nada falarei, não pensarei em nada:
Mas um amor imenso me irá envolver,
E irei longe, bem longe, a alma despreocupada,
Pela Natureza — feliz como com uma mulher.

Arthur Rimbaud

É que tudo cansa


"(...) Vocês sabem muito bem que a minha vida não foi fácil. Sofreram muito. Sofremos muito. Sofremos juntos. Sofremos nós. Eu gostei da vida e valeu a pena. Muito obrigado por terem me ensinado tudo. Amo muito vocês todos. Tomara que exista eternidade. Nos meus livros. Na minha música. Nas minhas telas. Tomara que exista outra vida. Esta foi pequena pra mim. Está chegando a hora do programa terminar. Mickey Mouse vai partir. Logo nos veremos de novo. Nunca tenham pena de mim. Nunca deixem que tenham pena de mim. Lutei. Luto sempre. Desculpem-me o mau humor. É que tudo cansa. Kkkkkk..."


Rodrigo de Souza Leão

A new old soul diva


Revista Rolling Stone, página 138, edição 45 - junho / 2010, alto da extremidade direita da página.

Freud e eu (2)


2) Em que medida a análise das parapraxias e dos sonhos revela o conceito freudiano de inconsciente?

As parapraxias, atos falhos, para Freud “Não são eventos casuais, porém atos mentais sérios; têm um sentido; surgem da ação concorrente – ou, talvez, da ação de mútua opo-sição – de duas intenções diferentes.” (FREUD; Imago, 1988, p.61) Ou seja, não trata-se apenas de um erro vazio, mas revelador de alguma coisa. Com os sonhos ocorre pro-cesso semelhante, sendo ele uma ponte interpretativa para encontrarem-se desejos, verdades, escondidas por uma camada expessa de consciente. O inconsciente, então, para o pai da psicanálise e seus seguidores, é o que poder ser chamado de “verdadeiro eu”, escondido muitas vezes por convenções sociais, traumas e repressões generalizadas. Tomando-se frase de Jacques Lacan, então, há de se pensar onde não se é, pois se é onde não se pensa pensar. Isso segue a afirmação de que todos “saberiam” de seu “inconsciente”, apenas não saberiam disso (questão 4). Então, em que medida as análises, interpretações dos sonhos e das parapraxias (de língua e outras) são capazes de revelar o interior, o âmago do ser humano? Percebendo-se que os lapsos, os atos falhos e, obvia-mente, os sonhos, ocorrem em pessoas consideradas sãs (p.62) que realmente importam, mas sim as intenções, circunstâncias, contexto, que levaram a eles e a interpretação de seus elementos relevantes. Portanto, utilizando-se de exemplos fartos, de ponderação racional e de sempre por em dúvida uma afirmativa sua, a confirmando logicamente em seguida, que Freud mostra que percorrendo-se corretamente os caminhos verdadeiros (e não os falsa ou enganosamente verdadeiros), que pode-se ter nas parapraxias e sonhos uma ajuda no encontro do inconsciente. De certa maneira, concluindo, é curioso ver-se que o processo de “convencimento” de suas “senhoras e senhores” é muito coerente ao de Descartes e Sócrates, em seu “só sei que nada sei” e no duvidar constante. No entan-to, Freud refuta a filosofia: “Da filosofia nada podemos esperar, exceto que uma vez mais nos salientará orgulhosamente a inferioridade intelectual de nosso estudo.” (FREUD; Imago, 1988, p.121) Porém, vê-se, em artigo “A filosofia de Freud e o Freud da filosofia – Apesar de sua resistência à filosofia, o pai da psicanálise revela muitos elementos filosóficos”, de Richard Theisen Simanke (Revista Cult, junho/2010), que ela o auxiliou deveras e que ele a ela igualmente, levando a um melhor entendimento do inconsciente, na soma das parapraxias e dos sonhos, munidos por uma filosofia de Freud.

sábado, 26 de junho de 2010

Freud e eu (1)

Descreva alguns dos principais aspectos do método freudiano de interpretação.

“Nada acontece em um tratamento psicanalítico além de um intercâmbio de palavras entre o paciente e o analista.” (FREUD; Imago, 1988, p.29) Diferentemente, então, de uma ciência da área médica, a psicanálise encontra espaço no falar e escutar, não em uma radiografia, por exemplo. Imbuído disso, o pai da psicanálise afirma que “Interpretar sig-nifica achar um sentido oculto em algo.” (p.109) Como a interpretação, nesse caso, está referindo-se aos sonhos – que pode ser considerado uma parapraxia em sono – o sentido que deve ser achado são os pensamentos oníricos latentes contidos no “algo”, os conteúdos manifestos de um sonho. Tendo as afirmações acima como ponto de partida, vê-se o que pode ser o principal dos principais aspectos do método freudiano de interpretação: partir do princípio de que os próprios analisados devem encontrar, “na medida do possível”, a resposta e solução de seus enigmas. (p.126) Isso acontece porque, para a psicaná-lise freudiana, ainda que o paciente/sonhador sempre diga que nada sabe – quão mais traumática for a revelação, maior a negação –, apenas não está sabendo que o sabe, e por isso, pensa que não sabe. Ou seja, o analisado não sabe que sabe, por que a verdade está contida em seu “inconsciente”, não vindo à tona facilmente sem a presença do ana-lista, entendido, portanto, como um orientador de caminhos. Na interpretação dos so-nhos (vida mental durante o sono), considerado aqui forma de ato falho – “Se foi possível às parapraxias ter um sentido, os sonhos podem ter algum, também;” (p.110) –, o inconsciente (profundeza) é trazido então ao consciente (superfície) através das associações. Essas associações, segundo Freud, seguem o mesmo esquema dos esquecimentos de nomes próprios e das palavras-estímulo: seguindo um exemplo pessoal (p.137), ele afirma que esqueceu-se do nome do país da Riviera cuja capital é Monte Carlo. Aleatoriamente, disse nomes substitutos, quando constatou que quatro dos nomes que havia di-to possuíam o mesmo “mon”, de Mônaco, o nome do país que esquecera. Em outro caso pede a um homem que relaciona-se com várias mulheres (p.133-4) para dizer o nome de uma mulher, sendo que não lembrou-se imediatamente de nenhum, dizendo, após, “Albina”, que não era mulher nenhuma, mas na realidade ele mesmo, muito branco, que para Freud, conclusivamente, era “a mulher que mais lhe interessava no momento”. Os sonhos, assim, para serem compreendidos, devem ser associados a experiências recentes e experiências passadas, correlacionando-as, substituindo situações à realidade do paciente, para que com isso a subjetividade por trás da objetividade do sonho seja encontrada: “(...) no caso de esquecimento de um nome, também na interpretação de sonhos (...) a partir do substituto, ao longo da cadeia de associações ligadas a ele e dessa forma obter acesso à coisa original que está sendo mantida oculta.” (p.138) Ponderando, ainda que o esquecimento de nomes próprios seja “excelente modelo do que acontece na análise dos sonhos” (p.136), nos sonhos os eventos divididos entre duas pessoas em sua análise está concentrado em apenas uma, nos atos falhos. Também, “Um sonho difere de um lapso de língua, entre outras coisas, pela multiplicidade de seus elementos”. (p.131) Um bom caso de onde a interpretação de um sonho é satisfatória através das associações – tendo igualmente outros embasamentos explicitados a seguir – foi o da mulher e seu marido no teatro (p.149-152) Entende-se, então, que o sonho é um quebra-cabeça que deve ser desmontado, para que assim possa-se enxergar, de modo particular em cada aspecto seu, tendo em seu todo o complexo. Freud enumera (p.140), concluindo, três “bases” para que se faça uma satisfatória interpretação de um sonho: (1) não nos preocuparmos com o que o sonho parece dizer-nos, seja ele compreensível ou complexo, pois pode não ser o conteúdo inconsciente do mesmo que estejamos procurando – há um porém nisso pois ele afirma que crianças sonham sonhos objetivos e simples, afirmando que alguns adultos fazem o mesmo; (2) deve-se trabalhar com a recordação das ideias substitutivas de cada elemento, não devendo haver reflexões sobre elas e nem considerações de que pode ter algo de importante nas mesmas; igualmente não importar-se com divergências que existam entre esses elementos e os elementos oníricos; (3) procurar que o elemento oculto, inconsciente, dos sonhos, surja naturalmente, através das associações, assim co-mo aconteceu com a palavra “Mônaco” (p.137). Finalizando a questão, há de ter-se em mente que trata-se de interpretação. Uma interpretação pode ser entendida e vista como uma opinião que, por sua vez, subentende outra (TARDE; Martins Fontes, 1992), o que faz com que a subjetividade da psicanálise fique evidente, fazendo com que alguns pudessem duvidar de sua credibilidade. Entretanto, Freud explicita de modo eficiente seus argumentos e difere o que considera “misticismo”, como, por exemplo, um sonho prever algo futuramente; ou um sonho com um dente significar morte iminente, de sua “interpretação de sonhos”.


Bibliografia
1) FREUD, Sigmund. (1916-17[1916-17]) Conferências introdutórias sobre psicanálise (Parte I: Parapraxias). Rio de Janeiro: Imago Editora LTDA, 1988;
2) FREUD, Sigmund. (1916-17[1915-17]) Conferências introdutórias sobre psicanálise (Parte II: Sonhos). Rio de Janeiro: Imago Editora LTDA, 1988;
3) TARDE, Gabriel. A opinião e as massas. São Paulo: Martins Fontes, 1992;
4) CULT, Revista. Freud, continuidades e rupturas – Novas leituras da perturbadora obra do pai da psicanálise. São Paulo: Editora Bregantini – nº147 – junho/ 2010 – ano 13 – pags. 46 a 65.

Seja agnóstico, seja feliz


Agnosticismo teísta já!

quinta-feira, 24 de junho de 2010

O bunker da comunicação comunitária - II Encontro de Comunicação Comunitária Interativa discute sua ação e futuro

“Onde está chegando a comunicação de interesse coletivo que você ou sua instituição emite?” Esta foi a pergunta que deu início aos debates do II Encontro de Comuni-cação Comunitária Interativa, realizado no SESC Santa Luzia, Centro do Rio, em 16/06, de 09h00 às 12h30, coordenado pelos jornalistas George Araújo e Luis Fernando Sar-mento. De início, um café foi servido e as pessoas devidamente acomodadas em círculo. A todos foi dada uma cópia da coluna de Contardo Calligaris na “Folha de S.Paulo”, do dia 10/06, intitulada “O direito de buscar a felicidade” e, a quem desejasse, DVDs de te-mática social estavam disponíveis em uma mesa, como, por exemplo, “Criança, a alma do negócio – Um documentário sobre publicidade, consumo e infância”. Um bebê e cer-ca de trinta pessoas compareceram ao encontro, tendo cada um o direito de responder a primeira pergunta e falar sobre sua experiência profissional. Os cinco minutos para cada participante acabaram tomando todo o tempo, em detrimento à discussão de temas pun-gentes, mas foi capaz de revelar belas histórias de superação pessoal e bons exemplos de jornalismo e comunicação com um viés mais comunitário e de superação às grandes mídias.

Segundo George Araújo, existem ações interessantes em comunidades, “mas não possuem visibilidade”, pois o problema seria a falta de qualidade de conteúdo. “O pé não junta com o sapato”, completa. Para Luis Fernando Sarmento, sob forte sotaque mi-neiro, o objetivo do encontro é “fazer interação entre os próprios participantes”, produ-tores de comunicação, alterando um quadro onde “as mesmas notícias (são veiculadas), apenas de maneira diferente.”

Para ter-se noção de que comunicações comunitárias não são realizadas apenas por jornalistas, compareceram ao encontro, desde jornalistas, até diretor de teatro, enge-nheiro, fonoaudióloga e poeta. Outra curiosidade é o fato de que a UFRJ estava presente em grande peso, tendo estudante da ECO, pós-graduanda do LECC e Alberto, colombi-ano da Incubadora Tecnológica da universidade, gravando, juntamente ao poeta/cantor/ feirante/jornalista/publicitário Roberto Pontes, todo o evento.

Desses todos, houve um exemplo emblemático de profissional marginalizado pela “grande mídia”: Edson Mackeenzy. Ele é um dos responsáveis pela criação do que é anterior ao YouTube, o Videolog (http://videolog.uol.com.br/), ainda que o último seja bem menos acessado e reconhecido. Vindo de Sobral, no Ceará, não passa dos 30 anos de idade, mas já foi preso duas vezes por fazer parte de uma rádio comunitária, não legalizada por motivos burocráticos, fora que também é um dos idealizadores do “MeAdiciona” (http://www.meadiciona.com.br/), site que pretende unir todas as redes sociais de que você faz parte. Apesar da relevância de tais projetos, não havia conhecimento por parte de ninguém deles, pois são eclipsados pelo que é estrangeiro e mais rentável. Portador de transtorno obsessivo compulsivo, ele se define como um “profissional multi-mídia”.

Portanto, a comunicação comunitária não é exclusivamente a feita pela jornalista Fabiana Oliveira em seu estágio no “Portal Viva Favela”, mas também a que pretende agregar toda e qualquer comunidade, seja ela virtual, real, de classe média ou baixa. As duas “empreitadas comunicativas” somadas resultam em um alcance maior de tudo o que é produzido por todos, em sociedade democrática. Junto disso, há iniciativas como a da mãe que levou seu bebê ao SESC, hoje participante de um grupo de mães na inter-net, mas antes trabalhando no CDI (Comitê de Democratização da Informática) e de Re-nata e Juliana, da Incubadora Afro-brasileira (http://www.ia.org.br/), que faz conexões de tra-balho entre o continente africano e o Brasil.

Tendo se finalizado o II Encontro de Comunicação Comunitária Interativa, percebe-se a grande questão da comunicação, resumida em frase de um dos participantes, que não identificou-se: “Não sei se me ouvem, mas não sei se ouço.” Já quanto à comu-nicação de viés alternativo comunitário, seu problema é o mesmo problema do Encontro de Comunicação: falta de organização. Mas nada que não se queira muito melhorar e ser resolvido por seus participantes.


Em 13/07 haverá um III Encontro, onde serão discutidas pautas deixadas em a-berto no II Encontro, como os videologs, por exemplo. Espera-se que o próximo encon-tro seja tão e mais produtivo que o anterior e que o planejamento e a organização permi-tam que a comunicação comunitária se desenvolva.

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Jornal, espaço, tempo, discurso, poder e saber - Tarde, Foucault, Anderson e Ieda Tucherman

Considerando as novas relações espaço-temporais que caracterizaram a modernidade, analise o surgimento, o papel e a presença dos jornais nos dispositivos nascidos nesta configuração.

1) Benedict Anderson faz-nos compreender, em “Comunidades imaginadas”, que as nações não são um aglomerado de pessoas com mesmo passado, ancestral, língua e ideal. Na realidade, a ideia de país, como conhece-se hoje, foi construída ao longo do tempo e mediada, tendo na consolidação do periódico um de seus principais aliados, atendendo às necessidades capitalistas. Ou seja, o jornal e o livro, mais o primeiro que o último (a atualidade e o poder de alcance numérico do jornal são diferenciais), auxiliaram na consolidação de uma língua primeira, subjugando as demais e as pondo em patamar de inferioridade; de uma noção geral nacional e patriota, de identidade e história; assim como a ideia de que todas as pessoas estavam vivendo e fazendo parte do mesmo tempo e realidade, pondo-as em um presente comum. “(...) são os jornais que inflamam a vida nacional, que excitam os movimentos de conjunto dos espíritos e das vontades em suas flutuações grandiosas cotidianas” (TARDE; Martins Fontes, 1992, p.92). Tal movimento de conjunto dos espíritos vislumbra situação que a leitura perso-nalizada do jornal proporciona: com o surgimento das grandes cidades modernas e o ad-vento do primeiro grande veículo de comunicação de massa, conseguiu-se algo que o-posto à multidão. A possibilidade de reunião à distância, causada pela veiculação de no-tícias pelo jornal, sem a necessidade do conhecimento das mesmas através de outras vi-as – praça pública, dentre outras –, foi um fenômeno que fomenta o desenvolvimento da vida privada na sociedade, alterador da relação de espaço vivenciada. Principalmente, a intenção do jornal (datado) de tornar a ideia de presente em algo comum a todos, sendo ele uma junção do passado (tradição) e do futuro (utopia), implica na depreensão da rea-lidade por parte das pessoas. Tendo no passado uma causa e no presente um efeito, a ve-locidade, na passagem do século XIX para o XX, ganha seu poder-espaço (relação es-paço-temporal), no tocante do desenvolvimento industrial. A transmissão veloz implica, como percebe-se com a criação dos correios para os Estados-Nação – “Uma história social da mídia” – enfim, na maior e melhor conexão entre as regiões da “comunidade imaginada”. Portanto, para finalizar, as noções e relações espaço-temporais abarcadas com o advento do jornal são, principalmente, a de uma história comum e a noção de presente, todos vivendo no mesmo tempo, e fato de atualidade como sendo de interesse geral (condicionamento de interesse massivo), implicando isso na percepção diferencia-da da realidade pelas pessoas (a realidade do jornal não é a realidade daquela pessoa – micro – mas é a realidade daquela sociedade – macro).


Foucault afirma que o discurso é, ao mesmo tempo, objeto de desejo e de poder. Associa também saber e poder, falando nos jogos de poder-saber próprios a cada dispositivo. Nesta perspectiva, qual seria a especificidade do discurso jornalístico? Como ele se apropria e de que maneira contrasta com o discurso científico?

2) “O processo se desenrolava sem ele (acusado), (...) sem que ele pudesse conhecer a acusação, as imputações, os depoimentos, as provas. Na ordem da justiça criminal, o sa-ber era privilégio absoluto da acusação.”(FOUCAULT; Vozes, 1983, p.35) Portanto, pode-se ter a noção da relação entre poder-saber-discurso: o saber sendo restrito apenas a quem tem o poder – sendo ele também produtor de saber –, faz com que apenas o dis-curso do mesmo seja destacado, valorado, ignorando-se o restante, sem voz e reprimido – O processo, de Franz Kafka, como exemplo. Consequentemente, quem tem o poder em mãos, o acesso ao saber e o discurso ouvido e aceito, se dá, e é dado a ele legalmente, o direito de punir, corrigir, condenar e vigiar. De início, então, a primeira impressão que se tem é a de que tais direitos são legítimos de governos, tribunais e, como mostra Foucault, escolas e hospitais/hospícios. Entretanto, encontra-se no jornal, em seu discurso, a presença nítida da implicação direta dessa tríade. Mas qual é o discurso jornalístico e como ele é entendido? Primeiramente, deve-se problematizar a questão de chamar-se o jornalismo de “quarto poder”, como se fosse uma instituição pública, que serve a todo o cidadão e que regula e condiciona o caminho da nação. Essa expressão transparece que, como a justiça, o jornal é igualmente capaz de, em suas linhas e entrelinhas – em o que ele diz, em o que quis dizer e em todas as subjetividades implícitas do seu discurso –, punir, absolver e, igualmente, condicionar a justiça, ao passo que é o periódico quem denuncia o que a justiça faz e é o periódico quem produz e reproduz a opinião, sendo esta gerada a partir dos enunciados do diário (é duvidoso dizer que o jornal é formatado pela opinião geral, mas é mais viável considerar que é ele quem formata o interesse geral – jornal como modelo de se ler discursos). O jornal, então, detentor do poder e do discurso, nessa soma de fatores, encontra a viabilidade da censura. Não da censura que chamarei de “externa” (ditaduras militares), mas sim de censura “pertinente”: um jornal “x” pode não dar a notícia de que ele está com suas vendas em queda; um jornal, cujo dono é um político (José Sarney – Maranhão), pode não dar a notícia de uma manifestação de cidadãos contra certa ação, ou não ação, de tal político ou de seu partido. Esse solapamento voluntário (prejudicial à população, mas não ao jornal e sua coordenação), acarreta na não existência do fato, mas não porque ele de fato não aconteceu, mas porque não recebeu repercussão; as pessoas não souberam de sua existência, o transformando, pelo menos momentaneamente, em vazio (a sociedade ocidental necessita passar suas ações ao discurso e o tornar visível; caso contrário, é como se não houvesse ocorrido – algo só passa a existir apenas depois de a mídia dizer que ele existiu). Remetendo à ideia do “condicionamento da justiça” pelos veículos de comunicação, hoje eles servem como mais um aparato para a justiça condenar, reforçando seu poder e a visibilidade de seu discurso. Ou seja, Foucault afirma que, após a decadência da “ostentação dos suplícios”, os juízes passaram a se apoiar igualmente em evidências, discursos e verdades de profissionais da medicina e da psiquiatria, por exemplo, no processo de sentença. Com isso, tira-se a “culpa” de apenas uma pessoa, o juiz, de “condenar”. Aliás, essa fase de fim dos suplícios gera uma mudança de visão, onde o direito passa a não mais “castigar”, mas sim “corrigir”. Os jornais, então, encontram-se na mesma situação dos citados acima. Já no que diz respeito ao discurso científico, o jornalístico se apropria dele para dar credibilidade ao seu discurso, ao passo que a ciência é vista como algo objetivo, inquestionável e axiomático, dando, então, uma objetividade a algo que é genuinamente subjetivo, o discurso, sendo este o contraste entre ambos. Entretanto, para toda conclusão, todo axioma da ciência, há de se partir de uma pergunta, que é subjetiva.


Bibliografia
1) TARDE, Gabriel. A opinião e as massas. São Paulo: Martins Fontes, 1992;
2) ANDERSON, Benedict. Comunidades imaginadas – Reflexões sobre a origem e a difusão do nacionalismo. São Paulo: Companhia das Letras, 2008;
3) FOUCAULT, Michel. A ordem do discurso. São Paulo: Edições Loyola, 1996;
4) _________________. Microfísica do poder. Rio de Janeiro: Graal, 1985;
5) _________________. Vigiar e punir. Petrópolis: Vozes, 1983.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Sofra comigo em lições (7) ou As intermitências da morte


Acabo de ser informado que José Saramago está morto. Oremos por ele e esperemos que encontre, no céu, se ele acreditar nisso, uma redenção.

***

Estava, antes de saber de seu falecimento, conjecturando sobre minha tarde cultural, há muito deixada de lado, por falta de dinheiro e tempo. Pretendo assistir, na Estação Botafogo, ao filme "Truffaut, Godard e a Nouvelle Vague" e depois seguir, para o Centro, e ver a exposição da Rebecca Horn - "Rebelião em silêncio", no CCBB - e a "Word Press Photo 10", na Caixa Cultural. Tudo de graça.

***

Sendo assim, depois conto como foi meu dia. Agora, em homenagem a José Saramago, por quem li "O evangelho segundo Jesus Cristo" e "As intermitências da morte".

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Sofra comigo em lições (6)

Homenageando Santo Antônio, ainda que 5 dias atrasado.

terça-feira, 15 de junho de 2010

A incompreensão acossada


Existem dois filmes que há de serem vistos para se ter uma outra visão de cinema-vida-arte: "Os incompreendidos" (Le quatre cents coups, François Truffaut, 1959) e "Acossado" (À bout de souffle, Jean-Luc Godard, 1960).
Sabe algo que parece que foi feito para você, que parece que é você, que é onde você se vê, seu alter-ego? Então, o personagem principal de "Os incompreendidos" sou eu: eu vejo-mo nele e ele vê-se em mim.

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Meu mais amado leitor: ninguém

Dizem que no Twitter você fala sozinho, mas acho que, no meu caso, tal realidade se mostra mais concreto em meu Blog mesmo. Tenho quase que certeza absoluta que ninguém além de mim olha para isto aqui regularmente. E nem precisaria. Se eu não fosse eu mesmo, também não me daria ao trabalho de aqui estar sempre, prestando atenção nas baboseiras incertas que um desconhecido diz. De qualquer maneira, creio que não aprenderei nunca a lição e sempre pensarei no futuro utópico, onde alguém em algum lugar do planeta pode estar lendo as coisas que escrevo e, o mais importante, gostando. Com esse gosta dessa pessoa idealizada, o meu sucesso como escritor e artista estaria certo. Assim, por isso, continuo aqui, sem abandonar você, meu mais amado leitor: ninguém.

***

Diante de minhas pretenções profissionais, vejo que tenho em minha agenda um livro para terminar, videoartes para fazer e fotografias para serem reveladas (um acúmulo de em torno de cinco anos) e tantas outras tiradas. Quanto ao meu livro, faltam dois contos e uma editora. Quanto aos meus vídeos, faltam aquela amiga Beatriz, que nunca mais apareceu na ECO-UFRJ. Quanto ao meu Blog, faltam minha animação para voltar a colocar aqui meus trabalhos acadêmicos, fingindo que sou inteligente e cult.

***

Antes que eu realmente me esqueça, fora esse Blog que vos vislumbra, há o "Mais gelo e limão", http://www.maisgeloelimao.wordpress.com/. Juro que é muito engraçado. Juro, de verdade.

***

Finalizando, queria voltar aos velhos tempos deste Blog, quando divagava literariamente sobre pessoas ilustres culturalmente. Hoje, senti uma vontade dilacerante de falar sobre Nina Simone. Ela, grande mulher, grande negra, grande voz, grande pianista, grande cantora, fez com que eu visse o jazz/blues/soul e o piano de uma outra forma. Mais até, se duvidar, do que Aretha Franklin.

A descobri realmente através do YouTube (sempre ele), pela música "Ain't got no... I've got life". Daí em diante, paixão. Hoje escuto mais ela do que Aretha Franklin ou Etta James.

Nina Simone sempre no Festival de Jazz de Montreal de 1976.

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Sofra comigo em lições (5)

Apenas para não esquecer que ela existe.


segunda-feira, 7 de junho de 2010

Poemas solitários



A minha vida vazia olha o seu redor
E nota que as situações são complexas e convexas
Vejo-me diante de mim mesmo e não enxergo ninguém
A casa está vazia e nem tenho outrem.

ANTOS E ÊNSIAS

Vivia calado pelos cantos
Feliz pelo simples fato da existência

Passou a enxergar melhor a vivência
E passou a debulhar-se em prantos.

UM DIA APRENDO

Um dia aprendo a ser feliz
Um dia aprendo a amar
Um dia aprendo a correr
Um dia aprendo a não chorar
Um dia aprendo o que é viver
Um dia aprendo a me calar
Para, no fim, poder morrer
Em silêncio.

UMA PEDRA NO MEIO DO CAMINHO

Ontem choveu
E levou minhas lembranças comigo
Agora vivo do presente
Sem passado e incerto do futuro
Perco a esperança
Encontro a pouca bonança
Nem meu amor está aqui
Para acalentar-me em frenesi
Queria ser menos fortuito
E mais virtuito
Mas de que adianta?
Eu estou aqui e você ali.

Ontem solou
A vida não estragou
Fui à praia
O povo entornou
Quis ficar
A turma me incentivou
Mas ao cair da noite
Perdi a vida, com sorte
Lembrei-me que tu lá não estavas
E que a vida era bosta emplastada

Alguma coisa aconteceu
Sim, sempre soube que Paris existiu
Vi ali você regressando
A vida cor-de-rosa se fez
Acalentou-me o coração o amasso
Que não quis perder por um compasso
Pois sabia que depois de tudo
Adeus seria dado
Mas Deus não nos tira o que nunca nos foi dado

E vendo a vida em cor-de-rosa
Vou me despedindo de tudo
Com o sorriso no rosto do tristonho
Para acabar com tudo, de coração lavado
Chegando feliz, lá no fundo.

sábado, 5 de junho de 2010

Sofra comigo em lições (3)

Pois eu sei que problemas passarei, mas que no fim tudo ficará bem. Por mais que ela não entenda e me reprima, sabe que a quero bem.


quinta-feira, 3 de junho de 2010

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Sofra comigo em lições (1)

Há coisas na vida que a gente consegue passar sem; mas isso, eu tenho certeza que é indispensável.

terça-feira, 1 de junho de 2010

Dor


Aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaai, Clarice Lispector faz-nos sofrer deveras.