quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

Eu não quero morrer



Eu era um homem, naquele dia, parado na plataforma da estação do metrô, distante muitos passos da linha amarela que separa o chão do vazio do trem, porque eu, naquele dia, temia morrer, ao cair ou ser jogado nos trilhos. Sempre, na verdade, tive medo de cair ou ser jogado dos lugares; ser atropelado; morrer afogado. Era eu, assim, parado junto à parede, aguardando. Foi, então, que veio um pássaro, voando como voam apenas os pássaros, passando pelas escadas e em seguida percorrendo toda a plataforma. Ele queria seguir até a escadaria diametralmente oposta à escadaria de princípio, para poder continuar voando para fora da estação. Mas uma corrente de ar à esquerda do pássaro veio forte e ele foi sugado pelo ventilador. Ao entrar pelos aros do seu algoz, o pombo teve sua cabeça arrancada, suas asas arrancadas, suas patas arrancadas. Ele, ao morrer, pensou naquele outro pombo que havia deixado na praça àquela tarde com a promessa de voltar logo com um pouco de comida. Os cidadãos que aguardavam o metrô ouviram apenas um estouro e não os anseios do pombo. As penas projetaram-se por toda a superfície e as pessoas horrorizadas não entendiam o que estava acontecendo. Por fim, cada parte do animal ficou repousada, enquanto o ventilador que ainda ventilava espalhava as penas do pombo por toda a plataforma, para nojo de quem observava. O trem chegou e eu entrei e não quis pensar mais no pombo, pois ele é um bicho, é sujo, eu tenho nojo e ele balança a cabeça ao andar.