sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Trilogia da opressão

Melhor filme sobre a opressão adolescente: "Os incompreendidos"
Melhor filme sobre a opressão negra: "O matador de ovelhas"
Melhor filme sobre a opressão homossexual: "Não é o homossexual que é perverso, mas a situação em que ele vive"

terça-feira, 25 de dezembro de 2012

domingo, 23 de dezembro de 2012

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

O matador de homens



O filme estadunidense “O matador de ovelhas”, dirigido por Charles Burnett, é uma surpresa feliz em meio a um mar de mediocridade. Finalizado em 1977, como conclusão de mestrado na Universidade da Califórnia (UCLA), Burnett se utilizou de vizinhos e conhecidos, atores amadores, para compor este filme que não tem efeitos especiais, não chega a ter nem cor, mas que tem o mais importante: excelentes roteiro, trilha sonora, direção e fotografia. Negro, ele retratou o clima de instabilidade social que a comunidade negra da cidade de Los Angeles vivia na época – e que, ainda hoje, vive.
                 
O personagem principal, Stan (Henry G. Sanders), é um pai de família pobre, que trabalha em um matadouro de ovelhas, que tenta fugir do determinismo da violência, mas que é infeliz em sua essência. O modo como sua vida e as vidas paralelas dos personagens coadjuvantes se demonstra é de uma sensibilidade sem paralelos. A fotografia deixa os personagens grandes na tela, maiores em sua insignificância diante da engrenagem do sistema, com a imagem preta e branca realçando o contrate entre as cores, entre os opostos, que se complementam. Por mais que não sejam atores profissionais, o elenco tem a interpretação na medida certa, já que o diretor soube conduzi-los muito bem e, além disso, a história dos personagens é a história real, então sem firulas e grandes interpretações que fujam ao real, à subjetividade de cada um deles.
                
Stan tem uma mulher e dois filhos, um menino mais velho e a menina caçula. A esposa tenta ajudar Stan em sua infelicidade, mas ele aparentemente tem uma melancolia difícil de ser deixada de lado. O filho tem uma violência latente, compartilhada com seus amigos e comum ao seu cotidiano. O pai, em algumas cenas marcantes, rechaça suas atitudes duras, mostrando ao filho que uma vida de violência gratuita não vela a pena. No entanto, é forte o fato de, em contraste, Stan viver em meio a um cenário cotidiano tão violento e cru, o de matar animais – nós também, animais – em um matadouro.
                 
Geralmente, um diretor utiliza, entre uma cena e outra, para que a película “respire”, uma cena banal, para fazer apenas uma introdução ao que virá em seguida, ou nem isso. No entanto, neste filme, incomum e perfeito em todos as nuances, Burnett se utiliza como recurso para “respirar” cenas de crianças brincando na rua. Cada uma destas cenas já daria um filme lindo. Junto de uma trilha sonora repleta dos cantores negros estadunidenses mais de raiz, do começo do século XX, até os anos 1950, estes entremeios nos revelam a felicidade infantil, a tentativa de crianças serem crianças em meio a um território pobre, esquecido pelo poder público, que tem suas leis, suas regras, sua cadeia alimentar. Na falta de um espaço público eficiente, as crianças brincam entre as casas, sendo apenas crianças, entre trilhos de trem, sempre no limite entre viver e morrer, entre o perigo e a segurança, entre a polícia e o ladrão.
                
A trilha sonora de “O matador de ovelhas”, especificamente, é sublime e faz parte do roteiro, trazendo uma carga tão forte quanto uma boa interpretação de um ator. Cantada por Dinah Washington, “This bitter earth”, na cena em que a esposa de Stan tenta fazer com que ele relaxe, entre no clima, seja feliz ao lado dela, é tão simbólica e tão melancólica, que o espectador olha aquilo e vê, no mínimo, uma obra de arte que tem o direito de se chamar obra de arte. Esta música expressa o amargo da vida, a dureza do amor que se é tão bom por que ninguém compartilha?. “This bitter earth, can it be so cold? / What good am I? Heaven only knows”, são versos que exprimem a dor de ser uma “minoria”, de ser um excluído do mercado, do povo, da vida, das escolhas.
                 
Com o fim do filme, não temos o que se vê nas obras de Hollywood e nos filmes mais comuns: uma explicação, uma finalização, uma resposta para todas as perguntas que a película pedagogicamente nos apresenta. Neste filme, não. Não temos respostas prontas, apresentadas, chatamente respondidas. A cena final de “O matador de ovelhas” é Stan de volta a seu trabalho, onde vemos mais detalhes de seu ofício e quando a música “This bitter earth” volta ao filme. Daí, tudo se acaba. Mas é daí, nesta brutalidade, que tudo – em nossa mente – se inicia.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

sábado, 8 de dezembro de 2012

Luto e melancolia

Não sei o que houve, mas algo se quebrou. Hoje, eu vi a barata na comida da cachorra, havia chiclete grudado no meu sapato, presenciei quase que um acasalamente entre a periguete e o lesk no ônibus, andando na rua vi pessoas que um dia - e ainda - me decepcionaram, tomei banho gelado porque o aquecedor está arrumando, ganhei de presente um presente que eu já tinha e que já não gostava de verdade, dei de presente um presente que o presenteado não queria, reencontrei depois de meses um afeto que hoje não me dá mais que ironia, eu não sei mais o que pode ter havido, já que sempre tudo me é motivo de um baque muito extremo.