quarta-feira, 29 de junho de 2011

John Legend é soul / gospel

Seminário sobre a Praia Vermelha debate valor histórico do campus


Ocorreu, na última terça-feira (28/06), às 18h, no Auditório Manuel Maurício de Albuquerque, no prédio do Centro de Filosofia e Ciências Humanas (CFCH), a mesa redonda A Praia Vermelha como um lugar histórico-cultural, última do seminário UFRJ em debate: A situação da Praia Vermelha. O evento contou com a presença do professores da Escola de Comunicação (ECO) Muniz Sodré, do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional (IPPUR/UFRJ) Carlos Vainer, e da Faculdade de Letras (FL) Edwaldo Cafezeiro, sob mediação da decana do Centro de Letras e Artes (CLA) Flora de Paoli Faria.

De acordo com Muniz Sodré, os cursos não devem sair da Praia Vermelha. Já Carlos Vainer afirma os cursos se centralizarem na Ilha do Fundão está de acordo com o Plano Diretor para 2020, votado pelo Consuni depois de três anos de discussões, e que a universidade deve ser pensada de maneira integrada e ligada à cidade. No entanto, afirma que todas as faculdades têm autonomia para decidirem onde se alocarão.

Valor histórico e Plano Diretor

Segundo Muniz Sodré, a ocupação do Palácio Universitário, em 1971, pela Escola de Comunicação, foi sua forma de preservação. Para ele, desocupar o espaço irá permitir que ele seja degradado. Com isso, argumenta que utilizá-lo até os dias de hoje para ensino não o estaria prejudicando. Afirma também que não concorda com a concentração de toda a UFRJ em um único local, no Fundão. “É essencial manter e preservar a Praia Vermelha, e não se confinar em uma ilha, um paraíso artificial”, diz Sodré. “Temos que repensar politicamente o papel desse local”, conclui o docente.

Já para Carlos Vainer, a universidade deve ser pensada em parceira com a cidade do Rio de Janeiro. Segundo ele, a expressão central do Plano Diretor da UFRJ é: “Universidade centrada que se integra à cidade”. Em argumentos sobre os benefícios da expansão no campus do Fundão, diz que a maioria dos alunos da UFRJ vem de outras regiões da cidade e do estado, que não a Zona Sul. Afirma também que o local é estratégico, localizando-se no centro entre Baixada Fluminense e Rio.

Vainer diz que a Praia Vermelha deve ser vista como parte integrante da UFRJ, como uma agente de políticas culturais da universidade e também como um patrimônio da população. Afirma que a intenção não é a de venda e privatização do local, mas que o Palácio é inadequado para ensino e pesquisa, por sua questão estrutural: “O futuro do Palácio não deve ser o de se fazer mais gambiarras para instalar computadores.”

Sobre as diretrizes do Plano Diretor, assegura que não haverá transferência forçada de nenhuma unidade. Mas que, no campus da Praia Vermelha, devem ser mantidas condições e garantias reais de funcionamento das atividades. A intenção do Plano para o campus é a de, segundo Vainer, se criar um espaço cultural, com um centro de convenções inter-universitário (unindo a UFRJ à UFF, Uerj, UFRRJ e UniRio), em convivência com as unidades que desejem permanecer na Praia Vermelha.

Ato-show com Monarco e Maíra Freitas

O evento gratuito UFRJ em debate: A situação da Praia Vermelha vai até esta quinta-feira (30/06), com um ato-show no campo de futebol da Escola de Educação Física e Desportos (EEFD), às 18h, com a presença de Monarco, da Velha Guarda da Portela, a cantora Maíra Freitas e convidados da UFRJ. O campus da Praia Vermelha fica na Avenida Pasteur, 250, Urca.

Seminário discute os rumos da Praia Vermelha


Tendo em vista o projeto do Plano Diretor da UFRJ para 2020 e os problemas recentes vividos no campus da Praia Vermelha, como o incêndio na capela do Palácio Universitário e a queda do telhado da Escola de Serviço Social (ESS), teve início na última segunda-feira (27/06), às 18h, o seminário UFRJ em debate: A situação da Praia Vermelha. Até a próxima sexta-feira (30/06) haverá debates e oficinas de arte.

Realizado no Auditório Manuel Maurício de Albuquerque, no prédio do Centro de Filosofia e Ciências Humanas (CFCH), o evento foi aberto com a palestra A mercantilização da universidade, pelo professor da ESS/UFRJ Mauro Iasi. Para ele, o perigo da entrada de capital privado nas universidades é deixá-la refém do condicionamento de seus investimentos, sem liberdade para pesquisa, ensino e extensão. Também estiveram presentes, a presidente da Associação de Moradores da Urca, Celinéia Paradela Ferreira, e representantes do DCE (Diretório Central dos Estudantes) Mário Prata e da Adufrj (Associação de Docentes da UFRJ).

Pólo de resistência, para liberdade do pensamento crítico

De acordo com Mauro Iasi, a educação não pode se tornar refém do mercado e necessita voltar à sua vocação de ser livre e de acesso a todos. Para ele, existe uma relação direta entre a vida e a universidade: “A luta da sociedade é a luta da universidade”. Afirma que o capital privado na educação resulta, na prática, em uma liberdade sob chantagem: “Vocês querem ficar na Praia Vermelha? Então, vivam sem manutenção e sob condições mínimas de convivência”. Segundo Iasi, a universidade deve ser um pólo de resistência, para se desenvolver um pensamento crítico: “É possível produzir um conhecimento para o povo dependendo do capital privado? Impossível”.

Empresas investindo em centros de ensino fazem com que as pesquisas sejam direcionadas para setores onde ela deseja se expandir, assim como alguns cursos acabam recebendo mais investimentos que outros, muito por sua própria natureza, a partir da lógica tecnicista: “Um curso de Engenharia é financiado pela Petrobras para fabricar, por exemplo, um tanque. Já estudar políticas público-privadas em Serviço Social acaba recebendo quase nada”.

Segundo o professor, foi a partir da Ditadura Militar que a visão tecnocrática e voltada para o mercado de trabalho tomou conta das universidades brasileiras: “A ideia tecnicista de ensino é elitista e meritocrática, onde se tem o vestibular como funil e os poucos que entram têm o prêmio do ensino superior”. Já com os anos 1970 e 80, o Estado entra em crise e passa a ser considerado pesado e oneroso, sugando o mercado de recursos. Dá-se, então, espaço para a entrada das privatizações, cobrando que o Estado funcione como uma empresa: “É nesse momento que começa uma luta contra a universidade pública, necessitando se criar uma eficácia para o ensino”. O ensino público seria um “ralo para onde iriam os recursos da União”, ressalta Iasi.

Expansão da educação como mercadoria

Com isso, nos governos de Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva, a expansão das universidades se deu pela lógica do mercado, com expansão do ensino privado e a universidade pública sendo regida pela eficiência, sob um orçamento restrito e acessível para poucos. “O ensino se torna lucro e número de cursos universitários dispara no Brasil”, afirma Iasi, ressaltando que quanto maior a mercantilização, menor é a qualidade do ensino.

Para a presidente da associação de moradores da Urca, Celinéia Ferreira, deve ser pensado em o que o Plano Diretor pretende como projeto: “O que virá depois, no campus da Praia Vermelha, me preocupa muito. Principalmente se aqui se transformar em algo privado, como aconteceu com o Canecão e o Instituto Europeu de Desing, na praia da Urca”.

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Owen Wilson incorpora Woody Allen em 'Meia-noite em Paris'



"Meia-noite em Paris" (Midnight in Paris - 2011), dirigido por Woody Allen e interpretado por Owen Wilson, Rachal McAdams, Kurt Fuller e Mimi Kennedy

O último filme do diretor Woody Allen tem apenas 100 minutos e isso é uma qualidade. No longa, encontra-se o meio familiar que geralmente permeia todos os seus projetos: o homem confuso, submisso, psicótico e neurótico diante de uma esposa, namorada ou amante possessiva, incompreensiva e irônica, aliada a pais e amigos igualmente intransigentes e manipuladores. Mas o que mais surpreendeu em "Meia-noite em Paris", trabalho de 2010 muito badalado pela mídia já em sua fase de produção por causa da participação de Carla Bruni, atual primeira dama da França, é o fato de o ator principal continuar Woody Allen, mesmo ele não tendo atuado.


A frase anterior significa que o ator Owen Wilson (Gil) é muito bom, interpretando brilhantemente um homem confuso, submisso, psicótico e neurótico, e conseguiu superar uma fase conturbada de sua vida, onde envolveu-se em escândalos com drogas e em comédias muito chatas. Quer dizer também que Woody Allen é um dos diretores mais egocêntricos da face do cinema, já que desde sempre ele está no centro das atenções de sua arte, e com "Meia-noite em Paris" não é diferente: mesmo fora da tela, ele lá permanece, agora dentro da pele de Wilson. Tudo no ator lembra Allen: seu modo de falar, seu modo de andar. Nem é necessário comentar a verborragia do filme, já que sem muita falação não é Woody Allen. Vai ver que é por isso que o filme não precisa ter mais que duas horas, como se tornou comum nos filmes de Hollywood (tendo a crer que isso é para todo mundo, depois da sessão, sair correndo com fome para o McDonald's), já que ele diz tanta coisa em espaços tão curtos de tempo.

Além do que, o que o filme pretende dizer é breve: ficar glorificando o passado é bobagem. O resto, é apenas contemplação de bons atores interpretando bons paradigmas de personagens glorificados pela filmografia de Woody Allen. Também, ótima oportunidade para ver os maiores atores da atualidade interpretando os papéis de artistas como Gertrud Stein, Salvador Dali, Pablo Picasso, Ernest Hemingway, Scott Fitzgerald e uma linda Adriana.

P.S.: Nina Arianda, que interpreta Carol, mulher de um amigo da esposa de Gil (Wilsen), é parecidinha com Dani Calabresa.

domingo, 26 de junho de 2011

Questionário (Charles Bernstein)


INSTRUÇÕES: Em cada par, marque a letra, a ou b, que melhor exprima o seu ponto de vista. Escolha uma alternativa em todas as questões. Não omita nenhum item.

1.a) O corpo e as coisas materiais do mundo são a chave do conhecimento que se pode alcançar.
b) O conhecimento é possível atrvés do pensamento ou do espírito.

2.a) Em grande parte a sorte e o azar me controlam a vida.
b) Posso determinar a trajetória fundamental de minha vida.

3.a) A natureza é indiferente a desejos humanos.
b) A natureza tem seus desígnios, mesmo que obscuros.

4.a) Consigo entender o mundo de modo suficiente.
b) O mundo é na verdade desnorteante.

5.a) O amor é a felicidade maior.
b) O amor é uma ilusão de prazeres efêmeros.

6.a) A atuação política e social pode aperfeiçoar a situação do mundo.
b) A atuação política e social é essencialmente fútil.

7.a) Não consigo exprimir perfeitamente meus sentimentos mais pessoas.
b) Não há sentimento que eu não possa exprimir perfeitamente.

8.a) A virtude basta como recompensa.
b) A virtude não é questão de recompensa.

9.a) Sempre sabemos se alguém merece confiança.
b) É impossível prever quando alguém vai te trair.

10.a) Seria ideal morar em uma zona rural.
b) Seria ideal morar numa zona urbana.

11.a) A desigualdade econômica e social é o maior mal da sociedade.
b) O totalitarismo é o maior mal da sociedade.

12.a) Feitas as contas, a tecnologia tem sido benéfica para a humanidade.
b) Feitas as contas, a tecnologia tem prejudicado a humanidade.

13.a) O trabalho é potencialmente a fonte de nossa maior satisfação.
b) O objeto de todo movimento para aperfeiçoar a sociedade deve ser a libertação do trabalho.

14.a) A arte no fundo é política por que tem a capacidade de nos mudar a percepção da realidade.
b) No fundo a arte não é política porque só pode nos mudar a consciência, e não o que acontece.

Poema de Charles Bernstein, traduzido por Carlito Azevedo, para o caderno Prosa & Verso de 25/06/2011, do jornal O Globo.

sábado, 25 de junho de 2011

Plano Inclinado do Morro Santa Marta dá acesso a 5,6 mil pessoas à comunidade, mas segundo bondinho ainda é incerto

Em dezembro de 2008, o Morro Santa Marta foi o primeiro da cidade do Rio a receber uma UPP (Unidade de Polícia Pacificadora), em iniciativa conjunta do governo estadual com a prefeitura para retirar o tráfico de drogas das favelas cariocas. Cerca de seis meses antes da instauração de sua unidade de comando, no alto do morro de Botafogo, na zona sul da cidade, o governador Sérgio Cabral inaugurou o Plano Inclinado do Morro Santa Marta, um bondinho gratuito que liga os principais pontos da comunidade, em cinco estações, fazendo o transporte de cerca de 5,6 mil pessoas, em um trajeto de 340 metros. Para o governo, a instauração do bondinho foi essencial para a deflagração do tráfico, assim como possibilitou uma melhor acesso à comunidade pelos moradores e turistas, que antes tinham de subir 788 degraus para visitar pontos como a Laje do Michael Jackson (local onde, em 1996, o cantor gravou parte de seu clipe They don’t care about us) e o Mirante do Pedrão, com vista panorâmica da cidade.

Para a moradora Michele Xavier, de 17 anos, mãe de um bebê de apenas um mês, o bondinho foi essencial para idosos, grávidas e mães com crianças de colo: “Muito ruim ter que subir tudo de escada, ainda mais com bebê, porque moro lá em cima”. No entanto, faz ressalvas: “Outro dia tive que subir tudo a pé, porque estava parado para manutenção”. Segundo ela, o bondinho não funciona nas segundas e terças-feiras, voltando apenas depois das 16h. Mas de acordo com informações da EMOP/RJ (Empresa de Obras Públicas do Estado do Rio de Janeiro), órgão público responsável pelo Plano Inclinado, afixadas no bondinho, o horário de funcionamento vai de 6h30 à meia-noite, de segunda à sábado, com intervalos de 10 minutos, e de 6h30 à meia-noite, nos domingos e feriados, de meia em meia hora, podendo fazer o transporte de 25 pessoas por viagem.

Em 2009, foi divulgada pela imprensa a intenção de o governo construir outro Plano Inclinado no local, próximo ao muro que divide a favela da floresta, com um projeto semelhante ao do Elevador Lacerda, em Salvador. Apesar de tudo, até hoje os moradores não sabem se o projeto irá se concretizar, pois ainda nenhuma providência foi tomada. “Todo mundo só escutou desse outro elevador, mas ninguém sabe mesmo se vai ter”, afirma Andrielle Costa, auxiliar de enfermagem desempregada, de 35 anos. Para a construção do Plano Inclinado atual, mais de cem barracos tiveram de ser demolidos e seus moradores despejados. De acordo com o governo, foi dada uma oferta para os que pretendiam vender seus imóveis. Já para os que desejavam permanecer no Santa Marta, foram disponibilizados aluguéis sociais e a construção de 59 casas de alvenaria e prédios de conjuntos habitacionais.

Na véspera do feriado de Corpus Christi (22 de junho), por volta das 14h, eram vistos nas filas que se formavam para ter acesso ao bondinho vários idosos, crianças voltando da escola, desempregados, empregadas domésticas, auxiliares de enfermagem, homens ouvindo música alta do celular sem fones de ouvido, uma senhora sempre sentada em um banquinho vendendo salgados, turistas visitando e querendo comprar um imóvel na favela, e funcionários do Rio Top Tour. Fruto de uma ação conjunta entre o Ministério do Turismo e o governo do Rio, o Top Tour foi lançado em 2010, no governo Lula, como uma forma de estímulo ao turismo em comunidades pacificadas do tráfico de drogas, sendo o Santa Marta a primeira a recebê-lo. Aliciando moradores da comunidade para lidar com os visitantes nacionais e estrangeiros, o projeto recebeu em sua primeira fase um incentivo de R$ 230,3 mil. De acordo com a turista alemã Astrid Stein, de 50 anos, a disponibilidade para informação e o bondinho foram essenciais para sua visita ao local: “Se não tivesse bondinho, nem subiria o morro. Ele dá uma cara de cidade à favela.”

Já a senhora que fica sentada em um banquinho vendendo salgados na entrada do Plano Inclinado do Morro Santa Marta, diz que é bom trabalhar como ascensorista do bondinho, mas que se recebe muito pouco. Sua filha, Andressa Maurício dos Santos, de 28 anos, trabalha no local desde que ele foi inaugurado e compõe o quadro de funcionários que se revezam em quatro turnos diários para atender o público. Para ela, os melhores horários para se vender salgados é ao meio-dia e depois das 16h, “quando a fila dobra”, pois são os turnos em que os estudantes estão voltando da escola e os trabalhadores do serviço. A vendedora, Miriam de Oliveira, de 48 anos, empregada há duas semanas revendendo os salgados para um senhor que mora “bem na metade do morro”, ressalta que deveria ser obrigação do governo construir elevadores em todos os morros da cidade, pois o acesso a eles é muito precário: “Podia ter elevador em todos os morros. Tem favela muito mais alta que essa”. Sobre o Santa Marta (ou, para os evangélicos, Dona Marta), diz já estarem acostumados com o assédio da mídia e dos turistas, se questionando ao repórter: “Você não é da Record, não? Ontem mesmo (21 de junho), a Record esteve aqui. Deve ter sido pra gravar a novela, estava cheio de artista.” Religiosa fervorosa, entre um e outro cliente da fila para o bondinho, lê a Bíblia que fica sobre seu isopor: “Jornalista tem que ler a Bíblia? Porque advogado tem, né?”

sexta-feira, 24 de junho de 2011

Robert Musil


O dia em que eu conseguir encontrar, em qualquer livraria ou sebo do Rio de Janeiro, o livro "O homem sem qualidades", serei mais felizinho.

domingo, 19 de junho de 2011

O mundo e o pós-modernismo


“O mundo é minha representação”

Arthur Shopenhauer

Vive-se em uma sociedade – pelo menos uma sociedade acadêmico-universitária – onde há terreno fértil e espaço para a proliferação de discursos que cunham o desmembramento de conceitos e suas desconstruções, visando deixar de lado um passado onde as verdades absolutas eram tidas como formas de subjugar e domesticar um grupo de indivíduos. Junto disso, há o fenômeno – não tão moderno, já que alguns teóricos defendem que a globalização existe desde o século XVI, com as Grandes Navegações – da massiva troca de informações e mercadorias, do grande fluxo de gente e da quebra, com o advento dos meios de comunicação atuais, de barreiras físicas, temporais e espaciais. Sendo assim, o objetivo deste texto é argumentar em cima da grande relativização generalizada que impera, a partir de teóricos afeitos às quebras dos paradigmas vigentes, tendo o mundo global e ocidentalizado como contexto.

Compreender, em princípio, de que é falsa e ilusória nossa concepção de nacionalidade e identidade cultural. Em conceito defendido por Benedict Anderson (1983) e ratificado por Stuart Hall (2003), a vida nacional nada mais é do que uma farsa com o intuito econômico de unir um grupo em torno de um passado e intenções comuns. Da mesma forma que surge a ideia de que todo inglês, por exemplo, é fruto de um mesmo denominador comum, há o surgimento dos mitos (Robin Hood) para a melhor união sentimental entre o povo. Soa como natural e predestinada até divinamente a divisão territorial de um país, quando na verdade ela é moldada e artificial, tendo a África como melhor descrição desta situação. Igualmente, a língua nativa, a língua mãe de uma pátria, nada mais é que uma imposição autoritária sobre as demais.

Já atribuindo a concepção foucaultiana para o surgimento e pertinência de um determinado discurso (1971), há, por exemplo, a verdade e suas variantes atribuídas à condição homossexual dos seres humanos, discutidas em seus textos sobre a sexualidade (1976 e 1984). Parece não haver dúvidas de que a condição básica para alguém ser em sua essência homossexual é ter interesse sexual por outras pessoas do mesmo sexo. No entanto, a visão e o tratamento imputado ao cidadão homossexual mudaram durante os séculos. Há desde uma História que defende que na antiguidade grega as relações homossexuais eram predominantes e não discriminadas, até um momento em que o “pederasta” era condenado à prisão, como ocorreu com o escritor inglês Oscar Wilde, no fim do século XIX, passando pelo estágio da loucura, chegando aos dias de hoje, onde predomina um entendimento não punitivo à condição homoafetiva. Com isso, vê-se que a “verdade” sobre o homossexual foi constantemente alterada, pondo em discussão a verdade da verdade: o que hoje é, amanhã pode não ser mais. Esta iniciativa passa regularmente por vontades e intenções políticas e econômicas.

Ainda no campo da dissecação das realidades cuspidas, principalmente pelas concepções bíblica e helênica, tem-se em Jacques Derrida um estudioso que questionou a situação paradoxal do homem e da própria filosofia. Analisando a “metafísica da presença”, onde prega a impossibilidade da experiência, é muito pertinente no século XXI, com a discussão do “virtual” da Internet em encontro do “real” da vida. Na intenção de se afastar do conceito de realidade em seus estudos, vê a aporia da experiência como um caminho: estamos presentes em nosso nascimento e morte, mas ao mesmo tempo não estamos, já que somos passíveis a ambos. Afasta-se, portanto, do próprio conceito da filosofia de que ela seria capaz de unir mais as pessoas à realidade plena das coisas.

Sendo um analista feroz do capitalismo, da globalização e, portanto, da vida moderna, Zygmunt Bauman expõe em várias de suas obras uma sociedade fluida e inconstante. Vê no apreço pelo dinheiro plástico uma forma de escravização espontânea e na iminência da eterna dívida um sadomasoquismo. A liberdade individual que se prega hoje é em si uma cilada que obriga as pessoas a buscarem espontaneamente a felicidade e a consumirem um produto pré-estabelecido. “‘Líquido-moderna’ é uma sociedade em que as condições sob as quais agem seus membros mudam num tempo mais curto do que aquele necessário para a consolidação, em hábitos e rotinas, das formas de agir.” (página 6, “Vida líquida”, 2005)

Portanto, para os países pobres e em desenvolvimento, o discurso relativista pós-moderno serve como uma forma de emancipação. Ou seja, diante dos discursos anteriormente citados, vê-se que as realidades constituídas por uma cultura predominante e pelo poder econômico servem para subjugar e manter na escória sociocultural determinada região. Na visão histórica de Nietzsche, há a parcela de pessoas “que talvez se consolam com o pensamento de que ‘os próximos 20 anos serão melhores’” (página 78, “Escritos sobre história”). Mas em si, sabe-se que a história com H é contada pelos vencedores e passa a ideia de linearidade, lógica e constância, quando ela não é, sendo múltipla e inconstante, real em suas várias realidades. Esse discurso progressista é imputado aos países pobres para que se creia que um dia eles também serão desenvolvidos, mas na verdade é uma atitude política e econômica dos países ricos mantê-los ou não no subdesenvolvimento. Do mesmo modo, a ingerência dos ricos sobre os pobres é latente nas comunidades imaginadas de Anderson no que diz respeito, sempre, à África, assim como os supostos benefícios do capitalismo globalizado estudados por Bauman de fato assolam mais na miséria as sociedades carentes de recursos.

Bibliografia:

1. I Colóquio Internacional Desconstrução, Linguagem e Alteridade: heranças de Jacques Derrida (de 13 a 17 de junho de 2011, no IFCS-UFRJ);

2. “Vida líquida”, Zygmunt Bauman (2005)

3. “O mal-estar da pós-modernidade”, Zygmunt Bauman (1997)

4. “Capitalismo parasitário e outros temas contemporâneos”, Zygmunt Bauman (2010)

5. “Simulacros e simulação”, Jean Baudrillard (1981)

6. “A identidade cultural na pós-modernidade”, Stuart Hall (2003)

7. “Comunidades imaginadas: reflexões sobre a origem e a difusão do nacionalismo”, Benedict Anderson (1983)

8. “Escritos sobre historia”, Friedrich Nietzsche (1862, 1874 e 1872-1889)

9. “A ordem do discurso”, Michel Foucault (1971)

10. “História da sexualidade”, Michel Foucault (1976 e 1984)

sábado, 18 de junho de 2011

Fotojornalismo, isso?!


(ISSO É FOTOJORNALISMO)

Ficou em cartaz, na Caixa Cultura, até o último domingo (19/06), a exposição de fotojornalismo mais prestigiada do mundo. Nesta edição de 2011, o World Press Photo – organização sem fins lucrativos, fundada em 1955, com sede na Holanda – exibiu mais de 100 recortes da realidade, selecionados por um grupo de profissionais da área amplo e eclético, composto também pela brasileira Marizilda Cruppe, do jornal carioca “O Globo”. Outra presença nacional foi a menção honrosa dada ao jornal “O Dia”, por uma sequência de fotos onde se vê uma troca de tiros no subúrbio do Rio.

Mas muita coisa deve ser questionada através das escolhas das “melhores fotos de 2010”, até mesmo sob a ótica de seu caráter fotojornalistico. Como exemplo: o júri premiou uma série de imagens retiradas do Google Earth, um aplicativo via satélite do site de buscas Google que registra as vias públicas do mundo todo. Nelas se viam idosos tropeçando na rua, pessoas caindo de bicicleta e gente sendo assaltada. Ou seja, curiosos flagras. Mas fotojornalismo? Além de tudo, existe a questão da autoria, pois o autor “responsável” pelas imagens é o Google, já que o fotógrafo que levou essas imagens à seleção do WPF apenas as selecionou, jamais as tendo tirado. São fotos de má qualidade que demonstram apenas vigor de uma nova tecnologia. Portanto, pode-se pensar que o júri quis com isso que o público refletisse. Conseguiu, mas chega-se a conclusão de que fotojornalismo ainda é outra coisa que não imagens selecionadas da tela do PC.

Há também o fotógrafo que levou fotos, tiradas há anos em locais diversos do mundo, novamente a esses mesmos locais, só que atualmente. Deixando-as em posição que permitisse com que ficassem em exata sincronia com o resto da paisagem, dá a impressão de que não é uma foto em cima da paisagem, mas apenas uma, ainda que cheia de contrastes e mudanças de tempo. Gera sim uma reflexão, ainda que bem forçada e passíveis de erros: os tempos mudaram, a globalização, ditaduras vieram e foram, a natureza hoje está degradada etc. Mas esse trabalho parece um ensaio artístico pensado e frio, não um registro da história em seu latente dia-a-dia.

Outros casos demonstram que a seleção de 2011 é a pior já vista nos últimos tempos, onde raras imagens se salvam. Vários retratos, havendo um sentido apenas através de seus contextos, não existindo a força da imagem única e tocante, independente de arestas. Imagens de corpo inteiro de jovens e senhoras em feiras na Irlanda são registros do cotidiano que fazem sentido para ilustração de uma reportagem, mas como linguagem própria, candidata à eternidade, é muito pouco.

Já as várias fotos premiadas que mostram o Haiti são ambíguas. Diante da situação factual do país, de miséria e calamidade, quase qualquer foto pode tocar sentimentalmente o mundo capitalista e globalizado. No entanto, muitas delas ocorrem única e exclusivamente porque o fotógrafo estava ali. Ou seja, uma delas mostra uma senhora com uma caixa na cabeça e escombros ao fundo. Qualquer pessoa poderia fazer esse registro. O que é, no julgamento aqui presente, tocante e passível de reflexão, em contrate ao simples “registro”: a foto ganhadora do prêmio máximo do WPF de 2009, tirada na África em 01º de agosto de 2008. Uma senhora com seu bebê, ao final desta crítica. Já ano passado, uma foto com o ex-presidente dos EUA George W. Bush e esposa, junto de Barack Obama e esposa, conseguiam mostrar belamente os rumos do sonho americano.

Algumas fotos são plasticamente boas, como as do touro perfurando a garganta do toureiro na Espanha; a multidão sendo esmagada no Love Parade na Alemanha; uma menina dormindo cheia de moscas em seu rosto, durante as maiores inundações registradas no Paquistão. No entanto, há uma grande falta de registros mais sensíveis à realidade do mundo e com um nítido critério de rigor que une o jornalismo à fotografia, o fato à imagem. O fotojornalismo pode estar mudando, ou o que tem que mudar é o júri do prêmio para o ano que vem.