terça-feira, 27 de setembro de 2011

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Jornalismo Literário

Autobiografia


O passado não passa. Você não consegue passar. Eu não atravessei a rua. Eu quero, na verdade, morrer no ontem. Os traumas são minhas tatuagens. Pensar que passô, passô, filhinho, não, não passou, mamãe. Esquecer é o melhor remédio para duas semanas. Mas depois seus sonhos, seu inconsciente, seus atos fazem questões de cuspir-lhe na sua cara: você ainda é aquilo que você foi e, coitadinho, não há nada que se possa fazer. Eu não pedi para ser. Eu fui. Eu não pedi para amar, meu cérebro que não consegue esquecer.


Ontem eu me sentei na cadeira de balanço localizada na saleta. O local é frio porque o pinheiro bem em frente não permite que os raios de sol penetrem com satisfação o cômodo. Mas ali se está sozinho e se vê a calçada. Eu vejo a vida das pessoas e as desgraças das pessoas e eu tenho que contar para os outros o que acontece, caso contrário não acontece. Eu simplesmente não consigo dizer nada que não diga respeito a mim, porque eu ainda sou muito traumatizado e eu só quero o amor das pessoas. Amor não, pena. Pena não, peninha porque é mais bonito.


Querer alguém é querer alguém para abraçar, beijar e dizer eu te amo. Mas travesseiros também abraçam, beijam e me dizem eu te amo. Encontrar-se em um ninho de mafagafos será sua salvação. Eu amo. Perpasso todos os processos do amar e não me contento em deixar de amar amanhã e mesmo que você não me ama mais eu vou amar mais outra pessoa. Conhece-se, flerta-se, chama-se pro cinema, liga-se, convida-se para comer, você é comido, você come. Eu te quero. Eu flerto. Eu vivo. Eu idealizo. Eu já me contento em não te ter. Isso com todos, até com um poste. Porque eu amo até qualquer coisa. Tem problema não.


Um ciclo está para se fechar. As pessoas velhas já são. E quando elas morrerem? O que você vai ser? Como você vai enxergar seu dia? Quando você vai superar? O luto desesperado e aterrador. Eu quero todo mundo perto. Eu te quero perto. Vovó é minha vovó para sempre. Quero vovó presencialmente para sempre. Vovó ficará comigo até o não tem fim. Pois como viver na prostração? Eu quero ver, mas eu já estou calejado e por horas entendo que não sinto mais. A notícia do jornal já não me choca, porque eu li muita notícia no jornal. O meu olho não foca mais em nada, eu vejo tudo em borrão; meus olhos não sentem mais as coisas. Parece que minha cabeça está em suspenso e eu não existo mais naquele momento. Percepção da esquizofrenia aos vinte e um anos de idade.


Não conseguir pensar em outra coisa. Eu sei que o que eu não paro de pensar agora, em um mês não terá mais o menor sentido e importância. Mas hoje eu só penso. Então, eu acordo e penso, eu tomo banho e penso, eu vou almoçar e penso, eu vejo televisão e penso, eu me masturbo e penso, eu não trabalho e penso, eu não estudo e penso, eu escuto música e penso, eu te quero e penso, mas você não sabe muito bem quem eu sou, o que é que eu quero, e porque eu me empenho. Para você, o passado também é a única coisa que existe e eu, como futuro, não tenho lugar.


Não escrevo, sou escrito. Não sei inventar, sei relembrar. Infelizmente minha biografia é minha literatura. Disse para as pessoas o que apenas eu dizia para mim e agora elas não me amarão, do modo como eu não me amo. Eu não sei porque só falo de amor, porque eu não me importo – realmente – tanto assim com ele. Caralho. Dar a impressão do que não se é.


Mas parando de pensar, eu sou. Seguindo a vida em um vazio de expectativas, eu sou. Eu sou. Jesus é mais.

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Sofra comigo em lições (9)

Mais feliz ainda

"Prouvera aos deuses, meu coração triste, que o Destino tivesse um sentido! Prouvera antes ao Destino que os deuses o tivessem!

Sinto, às vezes, acordando na noite, mãos invisíveis que tecem o meu fado.

Jazo a vida. Nada de mim interrompe nada."

(O livro do desassossego, Fernando Pessoa, página 198, Companhia de Bolso)

Feliz

“Súbita falta de ar. Muito antes da metamorfose e meu mal-estar, eu já havia notado num quadro pintado em minha casa no começo. Eu, eu, se não me falha a memória, morrerei. É que você não sabe o quanto pesa uma pessoa que não tem força. Me dê sua mão, porque preciso apertá-la para que nada doa tanto.”

Clarice Lispector (“Clarice, uma biografia”, pagina 555, Benjamin Moser)

Marcel Proust (No caminho de Swann)

“Mas logo o ciúme, como se fosse a sombra do amor, se completava com a duplicidade daquele novo sorriso que ela lhe dirigira naquela noite – e que, inverso agora, zombava de Swann e enchia-se de amor por outro –, daquela inclinação da cabeça voltada para outros lábios e, dadas a um outro, de todas as marcas de ternura que ela tivera para com ele. E todas as lembranças voluptuosas que ele trazia da cada dela eram outros tantos esboços, “projetos” semelhantes aos que nos submete um decorador, e que permitiam a Swann se fazer uma ideia das atitudes ardentes ou lânguidas que ela poderia ter com outros.”

sábado, 10 de setembro de 2011

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

"Sexo para iniciantes" (13/09, às 19h, Livraria Blooks - Botafogo)

"Sofro tanto quando escrevo que parece que não sei ser outra coisa e tenho medo de assim permanecer e achar que minha felicidade está na tristeza. E é tentando colocar o que quero dizer pra fora que pretendo encontrar uma salvação feliz para mim, por isso que faço esses pedidos de permanência de algo e de mudança de outras coisas no conto, porque acho que o que quis dizer da forma que o fiz é a maneira como quero ser visto e compreendido pelas pessoas."


De Guido Arosa (escritor) para Zeca Fonseca (editor)


quarta-feira, 7 de setembro de 2011

O anjo pornográfico (1912-1980)

"Sou um menino que vê o amor pelo buraco da fechadura. Nunca fui outra coisa. Nasci menino, hei de morrer menino. E o buraco da fechadura é, realmente, a minha ótica de ficcionista. Sou (e sempre fui) um anjo pornográfico.”