sábado, 21 de agosto de 2010

I) Prefácio

Escrevo este livro desde a segunda quinzena de dezembro de 2007. Inicialmente, acreditei que estaria escrevendo um romance com “A vida da morte”, hoje o primeiro conto de “O complexo melancólico”. Isso ocorreu porque percebi que não possuo, ainda, disciplina suficiente para escrever uma estória grande do começo ao fim, que exige tempo, compromisso e técnica. Ao escrever instintivamente e tirar as coisas que saem de meus dedos de minha própria experiência pessoal e literária, constato que trabalhar com uma técnica, nesse caso, de um romance, seria ultrapassar necessidades momentâneas latentes, que obrigaram-me a colocar na tela do computador relatos curtos, mas nem por isso menos densos, de passagens consternantes e liricamente palpitantes dentro da mente do escritor.

“A vida da morte” nasceu pela ainda forte presença de “Cem anos de solidão”, romance do colombiano Gabriel García Márquez, do ano de 1967, em minha vida. Ao perceber que, apesar de todas as passadas tentativas, nunca havia conseguido terminar de escrever alguma coisa, disse para mim mesmo que, a partir daquele momento, o que escreveria não seria jogado fora e nem esquecido. Acho que consegui, pelo menos até o presente momento, guardar tudo o que já produzi, felizmente. Ainda que tivesse, mentalmente, forte presença lírica de “Cem anos de solidão”, o primeiro conto deste livro não chegou a ir para onde em princípio quis chegar, tendo sido levado para outros caminhos, não menos recompensadores.

Sendo assim, ao pensar que “A vida da morte” seria um romance de estilo realista fantástico, tão bem propagado durante a segunda metade do século XX pela América Latina, por Gabo e também por Mário Vargas Llosa, o nome deste livro seria este mesmo. Um mês depois, mais ou menos, ao perceber que aquilo não seria um romance, mas sim um conto, estilo que veio para favorecer meu modo de escrever, facilitando minha vida e permitindo que chegasse a fazer um livro, por mais que este não fosse um romance, resolvi colocar outro título para a obra, pois pensei que não seria necessário pôr um nome que seguisse o de um dos contos, sendo este hierarquicamente mais alto em relação aos demais. Com isso, “As veias carcomidas de uma vida bandida” estava crescendo, progressivamente, diante de minha inconsciência quanto gente.

Mas como, ainda que tarde, a lucidez chega à vida de uma pessoa, constatou-se, única e exclusivamente, por mim e por mais meia dúzia de pessoas, que esse título seria mais compatível a um melodrama televisivo mexicano, ou algo do gênero. Por mais que não tenha posto este nome em meu livro, sempre gostei muito dele e por isso o exponho aqui, para que a humanidade tenha conhecimento de tão bela criatividade que um dia eu cheguei a possuir. Ou não.

Há de se ressaltar que em nenhum (?) momento este livro é autobiográfico e nem revela estórias reais. Um escritor utiliza suas experiências de vida para fortalecer argumentos e incrementar uma narrativa, mas não há razão para se crer que é um relato juvenil fidedigno de minha pessoa. Como se vai garantir que Guido Arosa é mesmo meu nome? Eu posso estar mentindo, afirmando que é, sendo que, na verdade, é um pseudônimo, ou mesmo pode ser tudo ao contrário. Na verdade, escritores põem na voz das per-sonagens coisas que eles mesmos queriam dizer, sentir e ser, mas conseguem tirar o deles da reta pelo fato de terem dito que é “ficção”. Eu digo, concluindo, que meu livro é ficcional. Acreditem ao querer, ou não.

Já tendo dito isto anteriormente, nunca tive muita disciplina para escrever, assim como também tinha meus compromissos estudantis para cumprir, o que impedia-me de sempre estar a trabalhar nas palavras. Além do que, não é sempre que a inspiração está ao seu lado e o bloqueio mental ainda faz com que você não se sinta completamente dentro de sua suposta profissão, a de escritor. Deste modo, até hoje, janeiro de 2010, não sinto-me um, pois ainda não publiquei nada – vamos ver se alguma editora desejará acreditar em “O complexo melancólico”. Acredito ser mais um jornalista do que qualquer outra coisa e ainda não tive o reconhecimento da qualidade duvidosa destas linhas. Por isso, chego hoje, dois anos e um mês depois, ainda finalizando a obra, que não passa de poucas páginas.

No que se refere aos agradecimentos para a conclusão literária, reconheço a participação de Wesley Carneiro na elaboração de um dos contos, “Os fracassados”, pois foi feito em um dia em que fui, a convite dele, participar de uma roda literária em um apartamento de uma mulher, conhecida dele, que infelizmente não lembro-me do nome, no Leblon. Sei que no mesmo edifício vive Ney Matogrosso, que nasceu, aliás, no mesmo dia que eu, apenas para vocês terem uma noção de minha relevância astral. Os ou-tros contos são dedicados a Gabriel García Márquez, Fiódor Dostoievsky, Clarice Lispector e Agatha Christie, a última por ter me incentivado a ler compulsivamente e os demais na questão de conteúdo. Antes que me esqueça, quando falo de poemas, falo de Dilma Melo, professora de Literatura.

Não sei, definitivamente, se serei relevante para alguém, ainda que saiba, apenas, que tudo foi escrito em virtude de uma necessidade explicitamente interna de expor conceitos e extravasar a sempre latente necessidade de escrever e colocar em algum lugar algumas de minhas ideias tão díspares e confusas. Desagradando alguns, peço desculpas e aconselho a irem ler alta literatura. Agradando a poucos, pelo menos aos familiares e amigos piedosos, já me é o suficiente. Rejeição, então, não será tão grande e nem tão dolorosa.

Ao concluir o parto, muita água já rolou e eu não sei se progredi. Acho, enfim, que alguma coisa, pelo menos, eu fiz: escrevi nem cem páginas de texto do Word, que espero que tornem-se mais páginas quando em livro isto tranformar-se. Livros grandes sempre são mais bonitos na estante e sempre trazem uma aura mais séria, intelectual e de antemão boa literariamente falando.

Rio de Janeiro, 17 de janeiro de 2010
Guido Arosa.

P.S.: Tentei, tentei, tentei, com todas as minhas forças, mas infelizmente havia já algo impregnado em mim, que impedia-me de fugir do nome. Então, o livro não tem como não ter em seu título a novela mexicana.

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