sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

O homem sem qualidades

Não se engane, a minha vida é chata, monótona, um fim em si mesma, um cotidiano idoso dentro do supostamente jovem, uma bobagem sem sentido, que dentro de seus limites específicos, não consegue sair de sua mediucridade ululante, que palpita diante de mim e dos outros, sem nunca me dizer algo que preste.

Sou sozinho, tímido, que vai ao cinema sozinho, que se refugia na frustração literária e que possui uma extrema vergonha alheia. Já fiz análise, já fiz amores passados, já fiz amores presentes e espero um dia fazer amores futuros, ainda que saiba que nenhum deles vingará, pois sempre abandonado se é.

Meus dias são sem propósito, meus objetivos nunca são alcançados, sempre possuo a sensação de dever não cumprido. Livros nunca terminados, leituras pela metade deixadas, caminhadas em vão vazias pelas ruas, uma identidade ao sábado à noite ao lado da avó idosa, vendo nisso uma das maiores felicidades e realizações mundanas.

Não sei cantar, não sei desenhar, não sei cozinhar, ainda não passei na prova de direção, não trabalho, até produzo, mas é apenas algo particular, sem repercussão e sem fins lucrativos. Dos filmes que gosto, dizem alguma coisa para mim, mas param em mim, porque meus amigos não gostam deles, e meus livros lidos são algo terminado na estante, pois é lado que eles invariavelmente acabam, compartilhados unicamente com meu pensamento.

Nem um blog eu consigo permanecer tendo. Ninguém nem o lê.

Espero que um dia eu deixe de ser melancólico e me satisfaça com a vida que eu tenho.

Agora, antes de dormir, depois de fechar o livro na página 300, Marcel Proust que me perdoe, mas caio em cama ao som, e não ao sabor de madeleine, de Aretha Franklin, Mahalia Jackson, Nina Simone, Amy Winehouse, Edith Piaf, Paolo Nutini, Ray Charles e Louis Armstrong.

Beijos, me liguem se quiserem.

***

Se você não captou a intertextualidade do título, quem vai revelá-la para você não sou eu. Vá ler Robert Musil.

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