segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Produção de presença

Eu estou parado, contemplando. Quando eu olho e não enxergo: apenas direciono minha visão. Eu, em estado de levitação. Sem saber para onde ir, o que fazer: apenas ficar. Eu acabei de ler um livro que me disse algo; acabei de ouvir uma música que me disse algo; acabei de ver um filme que me disse algo. A arte é isso: dizer algo. O que é a literatura, então, para mim: a arte por meio da qual eu descubro algo que até então não sabia; o processo pelo qual surge em mim uma grande epifania de existência. A beleza pela beleza: uma palavra linda ao lado de outra palavra linda, formando textos lindos, desenhados, dançados, é a grande produção de presença deste universo. Eu ouvi uma música em uma língua que eu não posso compreender, mas que foi tão presente que em mim produziu apenas amor, espanto, carinho. Eu, em estado puro de ser. O trabalho melancólico de ser. Só Clarice para começar com uma vírgula e terminar com dois pontos um livro. Só Raduan Nassar para escrever que estamos indo sempre para casa. Só Jean Genet para me dizer que a vida é poesia. Só a literatura e a arte que podem me dizer que Deus existe.

Existe um livro chamado "Produção de presença: o que o sentido não consegue transmitir" (Hans Ulrich Gumbrecht).

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