domingo, 28 de setembro de 2014

Epifania

Cheguei ao bar, uma hora antes do combinado. Querendo entrar, a recepcionista perguntou-me se a mesa era apenas para mim. Eu respondi: "Preciso de uma para seis". Ela, então, afirmou que eu deveria esperar. Anotou meu nome, "Guido", e disse que telefonaria-me assim que os lugares vagassem. "Você pode, também, esperar no balcão, caso deseje", disse-me a senhorita. Então, fui até lá, sentei-me em um banco quase do meu tamanho, e fiquei lendo "Morangos mofados".

Os minutos passaram e mais gente chegou àquele que era um novo comércio no bairro gentrificado, moderno porém até outro dia considerado antiquado e de passagem. O garçom convidou-me a beber algo, mas eu disse que "agora não". Continuei lendo, com meus óculos, que faziam-me enxergar apenas as palavras com foco e não o mundo ao redor. Os minutos foram passando e eu comecei a incomodar-me.

As pessoas começaram a lotar o local, o barulho começou a nascer, eu comecei a ficar com raiva. Eu ali, lendo, comecei a sentir certo desconforto. O público tinha uma personalidade deveras frívola, eu estava querendo isolamento, meus amigos, que não vinham porque ainda não era hora, começaram a parecer-me desprezíveis. A raiva cresceu em mim como um tumor.

Quando os meus amigos chegaram, quinze minutos depois da hora marcada, eu já estava com ódio de todos, com a cara fechada, com nojo daquele espaço, como se eu estivesse sendo ofendido de morte. Eu, como se tivesse sido muito maltratado, estava reativo e com falta de esperanças nos outros. Estava com vontades de isolamento, sem querer trocar palavras com ninguém. Eu, porque sozinho, não queria mais passar a noite em torno dos meus companheiros. Queria, apenas, estar em casa, na minha cama, quem sabe ainda lendo algo. Eu já não queria ser de ninguém. A razão, eu não sei precisar, pois no dia seguinte entendi que não fez sentido algum tal mudança brusca de comportamento. Eu só estava com muita raiva, de muita gente.

Nenhum comentário: