terça-feira, 9 de setembro de 2014

Como não ser sendo

E se eu, amanhã, acordasse e resolvesse que nunca mais trabalharia com outra coisa que não fosse literatura?

É bem provável que eu fosse apoiado por alguns e criticado por outros, mas considerado louco de qualquer forma por todos. Os que não incentivariam me achariam aquele louco esquizofrênico. Já os que apoiariam me diriam que eu sou um louco artístico, aquele louco que faz bem ao mundo do belo.

Certo é que eu escolhendo viver de literatura, desde já, serei pobre por um bom tempo. O que significa ser pobre? Não ter dinheiro para comprar seu próprio pão, seu próprio espírito, sua própria autonomia, sua própria bem-aventurança.

Minha mãe me perguntaria a razão para eu não fazer um concurso público. Meu pai me perguntaria a razão para eu não querer fazer um curso no exterior. Minha avó me perguntaria a razão para eu não ter sido arquiteto. Minha tia me perguntaria a razão para eu não ter sido professor. Todos - ou pelo menos a maioria - me perguntariam a razão para eu não querer seguir uma profissão tradicional.

É fácil pensar em seguir outra vida. "Vou ser engenheiro", eu posso me dizer. Mas a verdade precisa ser dita: eu não ando como um engenheiro. Para entrar em uma sala de engenharia na Universidade, o andar é diferenciado.

Eu, agora, vivo de ser jornalista. Mas, então, não estou feliz em ser jornalista? A questão não é a felicidade, mas sim a felicidade.

Para um dia eu ser alguém como escritor, o trabalho precisa vir desde já, não? Acho que como jornalista eu serei eternamente um meia-boca. Como escritor eu também posso sê-lo, mas quem sabe? Alguma coisa como escritor eu já fiz, então já tenho algum currículo para chamar de meu. Isso não vale de nada, já que nunca ganhei dinheiro com a literatura. Posso dizer que meus seis anos como profissional de jornalismo me deram um milhão por cento a mais em valores monetários que a arte. A única vez que eu achei que ganharia alguma coisa com um conto meu foi quando me disseram que eu tinha direito a R$ 16,25. O dinheiro nunca foi para a minha conta - ou fui eu que nunca conferi direito meu saldo?

A vida é triste, eu sei. Mas por que ela não pode ser triste comigo fazendo algo que eu penso que gostarei mais de fazer?

Eu sei que eu não escrevo bem. Não sinto nem segurança com as regras dos "porquês". Sinto-me mais seguro escrevendo "pq", mas em literatura eu não posso escrever "pq". Nota mental: aprender e ter segurança nos porquês. Não consigo desenvolver uma história longa, acho que não consigo organizar bem minhas ideias, mas deve ser como disse Clarice Lispector: "Vocação é diferente de talento. Pode-se ter vocação e não ter talento, isto é, pode-se ser chamado e não saber como ir". Charles Bukowski já disse, também, em seu poema "Então você quer ser um escritor?", que "se você tem que se sentar por horas / olhando para a tela do computador / ou debruçado sobre a sua máquina de escrever / procurando as palavras, / não escreva". Em contrapartida, Graciliano Ramos nos diz que "Deve-se escrever da mesma maneira como as lavadeiras lá de Alagoas fazem seu ofício (...) Pois quem se mete a escrever devia fazer a mesma coisa. A palavra não foi feita para enfeitar, brilhar como ouro falso; a palavra foi feita para dizer".

Agora eu vou embora, porque apesar de Guido significar aquele que guia, eu ainda não sei para onde vou.

Um comentário:

Roberta Camargo disse...

Acho que o mais importante é seguir seu coração... Pq se a certeza da felicidade existe nisso, então não há como vc ser infeliz!!!