sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Jornais populares e alienação: Presumir o interesse da audiência é limitá-la


A Escola de Comunicação (ECO) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) sediou, em 2011, o 9º Encontro Nacional de Pesquisadores em Jornalismo (SBPJor). Ocorrido entre os dias 03 e 05 de novembro, o evento teve como tema principal o debate sobre o jornalismo e as mídias digitais. Sob patrocínio de instituições como Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ) e Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), o SBPJor recebeu pesquisadores estrangeiros, como da Queensland University of Technology (Austrália) e State University of New Jersey (Estados Unidos). Além dos painéis principais, o evento contou com apresentações de trabalhos em sessões de comunicação livre.

Em uma destas sessões, às 11h30 de 04 de novembro, na sala 101 da ECO/UFRJ, Francislene Pereira de Paula, estudante de mestrado do Programa de Pós-graduação em Comunicação da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), apresentou argumento e conclusões parciais de sua pesquisa intitulada “O leitor (imaginado) dos jornais populares”, voltada a analisar o público-alvo dos jornais destinados principalmente à classe C. Nesta mesma sessão, também foram apresentados outros trabalhos, mas este foi o que mais correspondeu aos objetivos da disciplina Jornalismo Popular, oferecida ao curso de Jornalismo da ECO/UFRJ.

Francislene iniciou sua fala afirmando que o tripé que embasa o discurso jornalístico deste nicho são notícias sobre violência, esportes e celebridades. A estudante agrupa em um mesmo grupo denominado por ela de “jornais populares” o impresso “Extra”, das Organizações Globo, e “Meia Hora”, da empresa que edita o jornal “O Dia”. Afirma que a população leitora destes veículos, que custam em torno de R$ 1, faz parte da classe econômica C. Segundo informações do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a classe econômica chamada de C (vai de A a E) possui renda familiar entre R$ 1.064 e R$ 4.591 mensais.

Ela considerou este leitor exigente, desejoso de encontrar nos jornais prestação de serviços e entretenimento. A mestranda afirmou acreditar que esta imprensa forma novos leitores, que passam a ler jornais a partir do crescimento e consolidação de sua classe econômica, a maior dentre todas. Não haveria, portanto, uma migração de leitores de jornais tradicionais como “Folha de S. Paulo” e “O Globo” para jornais mais populares, como “Meia Hora” e “Expresso”.

A partir da máxima de “dar ao público o que ele deseja”, Francislene questiona a definição que os veículos de comunicação fazem de seu público leitor. Saber quem eles são a partir de índices de audiência ou tiragem é um artifício frágil, afirmou. Concluiu que a “audiência” é desconhecida e que os veículos de comunicação produzem material para um público que ele presume conhecer, consolidando estereótipos. Basear os interesses de uma faixa social que não é alta/média e também não é baixa no que se refere à “futilidades” seria delimitar a função dos indivíduos na sociedade e não o colocar em um discurso central e privilegiado. É por isso que, para ela, as informações sobre economia e política são pouco destacadas e escassas neste tipo de veículo, presumindo-se o suposto desinteresse pela “coisa pública”. Finaliza sua apresentação com a pergunta: “As pessoas leem o que querem ou leem o que lhes é disponível?”

Partindo do exposto, sabe-se que a estudante está em princípio de pós-graduação e que sua pesquisa ainda deve ser mais bem trabalhada. Ela é correta ao considerar que os jornais populares formam leitores, massa crítica e pensante, assim como a falta de discurso político e econômico é relevante pela maneira apresentada. No entanto, algumas lacunas metodológicas são percebidas, como considerar jornal popular o jornal “Extra” e o “Meia Hora”. Os dois são à primeira vista semelhantes para um público acostumado ao “refinamento” dos jornais tradicionais e de repercussão nacional, mas a definição de jornal popular é a de um tabloide, com capas chamativas, irônicas e de duplo-sentido, a preço muito barato, para ser vendido e lido em pontos de grande fluxo de gente, principalmente para o uso do transporte público. Neste ramo, já há também outra vertente, a dos jornais gratuitos. Sendo assim, deve-se ter cuidado para não utilizar os conceitos de modo equivocado.

Faltou, também, uma maior análise sobre o interior dos periódicos. Perceber que o texto interno é tão conservador quanto o texto de jornais mais caros agregaria credibilidade ao discurso da estudante de que o leitor da classe C é “exigente”.

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