sexta-feira, 13 de maio de 2011

Gay Talese está infiltrado


Primeiramente, Gay Talese só pôde escrever tantos detalhes sobre a vida de Frank Sinatra porque deram-lhe espaço para isso. Caso a “Esquire” tivesse dado apenas 2 páginas para o perfil, provavelmente a matéria não sairia tão boa. Mas o mais relevante de “Frank Sinatra está resfriado”, escrito em 1965, não é a oportunidade de escrever muito sobre alguém (55 páginas em livro), mas sim a capacidade de se saber tanto da vida do perfilado através de terceiros, sem em nenhum momento ter entrevistado o personagem principal e, além de tudo, relacionar um simples resfriado a uma grande tragédia na auto-estima de um cantor celebridade.

Não podemos dizer que por ser um perfil associado ao jornalismo literário, ou jornalismo narrativo, ele renegue o lide. Há sim uma hierarquização de informações, para que o leitor se envolva no relato, pois se isso não ocorrer logo ele virará as páginas para encontrar matérias mais curtas e diretas. Então, Gay Talese utiliza a enumeração dos compromissos, obrigações e preocupações de Francis Albert Sinatra, então perto de completar 50 anos, para conquistar o leitor. Além disso, é enfático em assegurar a tragédia para Sinatra no fato de estar resfriado: “Sinatra resfriado é Picasso sem tinta, Ferrari sem combustível.” Portanto, a única diferença do tradicional lide é que ao invés de ele ser apenas um parágrafo, aqui alcança em torno de uma página.

Deste modo, outro atrativo do perfil é que ele parte da visão do jornalista do que estava vendo em uma boate onde encontrava-se Frank Sinatra, para em seguida adentrar a fundo em sua vida. E é nessa sutileza, no aprofundamento página após página, que Talese consegue conquistar e ser brilhante. No entanto, entendendo que ele não entrevistou em nenhum momento Frank Sinatra, pensa-se que o cantor haveria de impedir sua presença em locais onde ele estivesse também, como por exemplo na gravação do especial para televisão. Não fica claro, então, se Gay Talese esteve mesmo nesses ambientes – como nas gravações, nas boates etc. – ou se soube do que ocorreu neles através de depoimentos de seus vários entrevistados próximos de Sinatra.

Mas a questão que fica é se Gay Talese – e, portanto, sua matéria “Frank Sinatra está resfriado” – passou a ter relevância e sucesso apenas após a publicação em 1973 da coletânea organizada por Tom Wolfe. Nela encontram-se todos os que hoje são considerados os maiores jornalistas do ramo que passou a ser chamado de “new jornalism” apenas ali, como Truman Capote (“A sangue frio”), Gay Talese (perfil de Frank Sinatra, depois publicado no livro “Fama e anonimato”), Norman Mailer (“A canção do carrasco”), Hunter S. Thompson (jornalismo gonzo, revista “Rolling Stone”) e o próprio Tom Wolfe (artigo “There Goes (Varoom! Varoom!) That Kandy-Kolored Tangerine-Flake Streamline Baby”, sobre a febre dos carros customizados no sul da Califórnia).

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