terça-feira, 19 de abril de 2011

A tragédia dentro da tragédia


Fotojornalismo I

Tendo em vista documentário assistido na aula de Fotojornalismo, de nome traduzido “Morrendo para contar a história”, será realizada uma resenha crítica, perpassando seus aspectos fílmicos mais interessantes e priorizando a análise de um personagem específico, pelo qual poderá se chegar a uma visão geral da película de 1997. Portanto, tal personagem será o fotojornalista sul-africano Peter Magubane, praticamente a única voz do continente em todo o filme de cerca de duas horas.

Passado no Brasil pela primeira vez ainda no final da década de 1990, pelo canal por assinatura GNT, o documentário da jornalista Amy Eldon trata da morte de seu ir-mão Dan Eldon, fotojornalista americana morador da Somália e a serviço da agência de notícias Reuters, em 1993. História verídica que deu origem ao filme “Falcão Negro em perigo” (2001), “Morrendo...” tem a intenção de dar uma visão geral e uma práxis ao jornalismo internacional de guerra, querendo entender até onde o jornalista pode, mais que deve, chegar física e psicologicamente na cobertura de eventos extremos.

Utilizando cerca de uma dúzia de depoimentos interessantes e relevantes de jor-nalistas que viveram e vivem a guerra de modo intenso, todo o trabalho é feito com a provável intenção de, ao chegar a seu fim, querer que tanto o espectador quanto a diretora tenham compreendido como Dan Eldon morreu, se injustamente ou não e se vale a pena arriscar-se na batalha só para contar uma história. Apesar de tudo, por mais que o filme não engendre muito na polêmica da operação militar americana que indiretamente acarretou na morte por apedrejamento de Eldon, há um depoimento que toca brevemente no assunto, mas de maneira conclusiva, quase no final das entrevistas, mostrando que a razão que levou vários somalis a atacar o americano foi um borbardeio de seus conterrâneos a civis africanos, por engano.

Quanto ao aspecto técnico, as fotografias – já que o filme gira praticamente todo em volta da cobertura fotojornalística de guerra – utilizadas entre as tomadas, e as leituras dos diários de Dan Eldon conseguem levar o tom emocional ao filme de modo mais pungente, além da progressividade da obra, de modo que só se sabe como ele morreu ao fim.

Deste modo, concluindo a visão mais geral sobre o filme, uma frase da jornalista e professora da ECO Cristiane Costa é bem taxativa: “Guerras são notícia, mas guerras na África chegam ao ponto de quase não o serem, pois tornaram-se praticamente corriqueiras”. Por isso, segundo ela, para que este tipo de cobertura possa ter espaço e ser relevante, há de se encontrar uma peculiaridade, uma singularidade, que Amy Eldon encontrou infelizmente de maneira trágica dentro de sua família.

Agora, como dito no primeiro parágrafo, será analisada a participação de Peter Magubane nas entrevistas, que se difere de modo muito peculiar das demais: ele sempre viveu a Guerra da Somália e, portanto, não é apenas um correspondente infiltrado. Mais que isso, teve um filho morto em razão desta guerra e de sua cobertura, já que seguia a profissão do pai. Então, contribui tanto para o entendimento do jornalista de guerra como para o do cidadão de guerra. O documentário dá corretamente bom espaço para que ele fale sobre sua vida.

Contando sua história sem grandes estopins emocionais, Magubane permanece no trabalho, apesar da idade e dos traumas acumulados. Podendo comover e tocar até mais que a história do personagem principal, porque ele não noticiou a guerra apenas como algo pontual e transitório para a grande mídia estrangeira, mas sim como algo cotidiano e eterno para sua mídia interior. Ele é, enfim, a realidade africana, subjetivamente jornalista e, portanto, um grande jornalista.

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