sábado, 8 de agosto de 2009

O Grajaú na coluna do João


Estava eu, como quem nada quer, deitado em meu sofá, lendo meu jornal, em pleno sábado pós-almoço e pós-curso cansativo de espanhol. Na televisão, ligada apenas, escutava o programa do Luciana Huck, mais especificamente no quadro da reforma das casas. Não quero me focar muito nesse assunto, mas o que é aquilo de, ao fim da descoberta da nova residência, os moradores da mesma começarem a fazer ceninhas de agradecimento? Tudo perde, completamente, a sinceridade e sentimentos honestos e puros que todo o resto do programa quis passar. Enfim, passadas essas implicâncias de minha parte, lia eu meu jornal, como já foi mencionado.

Antigamente, dos 15 anos 16, eu lia o jornal inteiro. Religiosamente, todo. O começo, parte de política, cidade e internacional, com muito mais entusiasmo que as partes restantes, como cultura, espertos e economia, sendo essa uma escada decrescente de interesse recíproco. Depois, consequentemente, passei a ler a primeira página e no tempo que sobrava, "Segundo caderno", "Revista O Globo", "Revista da TV" e "Megazine". As más línguas podem dizer: tu estás emburrecendo, ó pá. Nem sei. Acho que fiquei é mesmo com preguiça de querer saber sempre das mesmas maracutaias, que não dão em nada, na política; das mesmas mortes e violência no Rio de Janeiro; das mesmas ações populistas dos latinoamericanos, das guerras Irá-Iraque-Palestina-Israel-Coreia do Norte entre outras coisas, entre outras coisas, entre outras coisas.

Sendo que, hoje, sábado, vem, no jornal, dois bons suplementos: "Prosa & verso" e "Ela". Tenho certo preconceito com o último, haja visto que é mulherzinha demais e ainda é petulante o suficiente para querer achar que sabe e pode falar de homens. Quando é que os jornais vão ter a capacidade de enxergar que nós, homens, não nos contentamos em ter um espaço mínimo reservado no caderno das mulheres para falar de nosso comportamento, nosso modo de vestir, nosso modo de ter nosso modo?! Detalhe, são mulheres que escrevem sobre homens. Hein?!

Nesse dito cujo caderno "Ela", na página 2, tem um espaço para um colunista. Lá, escrevem, revesadamente, Ana Cristina Reis e João Ximenes Braga. Creio que ele é o único homem (gay, há de se especificar; ele nunca afirmou, mas é óbvio que ele é) que coloca uma palavra naquele caderno. Eu nem me dou muito ao trabalho de ler o que ela escreve, mas dele até que dou uma lida às vezes. Seria tipo uma espécie Carrie Bradshow em versão masculina, e moradora do Rio, ao invés de São Paulo = Nova York. Pois então, hoje ele resolveu falar sobre festas a fantasia, em que ninguém vai, ou deveria ir, fantasiado. Ele, como crê, não foi fantasiado, sendo que todos os outros convidados o foram. Lá pelas tantas, ele escreve assim:

"E eis que chega um rapaz vestido de Rivotril, todo cheio de graça dentro de um quadrado de cartolina preso aos ombros que reproduzia a caixa do remédio amigo, tarja preta que ora por nós redatores na hora do sono, amém. Tudo que eu queria ser quando crescer: um grande frasco de Rivotril ambulante a andar pelas ruas do Rio epítome da tranquilidade encaixotada, receitada e legalizada. (...)

"Enfim, algo que justifica uma festa a fantasia! Uma pequena brincadeira lúdica e criativa. (...)

"Em outras palavras, uma piada que durou dez segundos, muito menos do que o mané levou pra passar aquela cartolina pela roleta do ônibus quando saiu do Grajaú."

Heim?!

Algumas considerações a serem feitas. Creio que todos sabem que eu moro no Grajaú e sou capaz de morrer por este pedacinho de terra. Acho, também, que ninguém além de mim conhece ou mora no bairro. Deste modo, sempre que ele aparece em algum veículo de comunicação, praticamente caio para trás de tão orgulhoso que fico com tal menção honroza a meu querido lar. Mas... peraí. João Ximenes Braga falou bem ou mal de Grajaú City?! Sim, porque, para mim, Grajaú já é bairro emancipado, uma Guanabara da vida, quase um país já.

O garoto deve ter saído do Grajaú para ir até a festa, então ele é grajauense. Ele foi de Rivotril, fantasia que "salvou" a festa, mas ele foi fantasiado, o que vai contra o cool cult antenado do João, que não vai fantasiado quando a festa é a fantasia. Detalhe, ele o chamou de "mané". Mané?! Não, querido. Ninguém de Grajauzinho é mané, não! Mas... então, falastes bem ou mal do bairro? Tirem suas conclusões. Só sei que, no fim das contas, Grajaú é chique porque saiu na coluna do jornal, porque tem pessoas suficientemente legais para serem convidadas de mesmas festas que colunistas de jornal também são convidados e porque tem moradores que sabem o que é Rivotril e sabem se fantasiar em festas que tem que ser fantasiadas.

Prontodesabafei.

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