quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Deus e o diabo em terras latino-americanas

O Cinerama, cineclube formado por alunos da Escola de Comunicação da UFRJ, organizou, para a quinta-feira (20), às 13h00, durante a Semana dos Calouros de 2009.2, a exibição de “Pachamama”, dirigido por Eryk Rocha, filho de Glauber Rocha. Após a sessão, haveria debate com o diretor e o historiador Gabriel Chaves, que acompanhou o diretor do filme pela América Latina, para a confecção do documentário.

“Pachamama”, que significa “mãe terra”, foi o único documentário, entre seis longas, a disputar o Kikito de melhor filme, na 36ª competição do Festival de Gramado (RS). A partir dele, foi gerada uma série, chamada “Da selva à cordilheira”, vendida para o Canal Brasil e redes de televisão públicas. Segundo Gabriel Chaves, foi tal venda que custeou o fim da produção do filme.

Rodado a partir de 02 de janeiro de 2007, tece questões de territorialidade e geopolítica, passando por Brasil, Peru e Bolívia, focando-se na questão da identidade pré-colombiana dos povos latino-americanos, do preconceito em relação à folha de coca e do socialismo populista latente por quase todo o território da América do Sul.

Logo depois do filme, passado no auditório do CPM (Centro de Produção Multimídia), as não muitas pessoas que lá estavam foram encaminhadas para uma sala, onde ocorreria o debate. Neste momento, as não muitas pessoas transformaram-se em realmente poucas e a mudança de local foi causada pela necessidade de uso do auditório para aula.

Segundo folheto distribuído pelo campus da Praia Vermelha, seria vista uma “pré-estreia”, mas eis que a dúvida surge: uma pré-estreia que já foi até concorrente de prêmio em festival? Além de tudo, este mesmo papel informava que o debate seria realizado com o diretor e o historiador. No entanto, nada de diretores famosos ou familiarmente famosos. Lá, na sala pequena com poucas pessoas, encontrava-se apenas Gabriel Chaves. Não que isso seja um demérito, afinal de contas, Chaves é gabaritado para debater qualquer questão que envolvesse a película. Entretanto, não deixa de ser uma quebra de expectativas. Problema mesmo é uma porta de auditório de CPM que nunca fecha, sempre fazendo barulho por falta de lubrificante.

Já no debate em si, Chaves afirma que, para ele, o filme serve para tudo e para todos: “Basta a gente trocar a lente. É como você quiser ver o filme”, em uma alusão ao fato de que seu objetivo não foi alcançar a classe acadêmica ou o mercado de shoppings, direcionar o trabalho, mas sim deixá-lo acessível a todos e a várias interpretações. Apesar disso, afirma que é um “trabalho não comercial, mas não mambembe, amador.” Questionado sobre alguma semelhança entre sua viagem e a de Che, pela América, e o consequente filme “Diários de motocicleta”, diz que não, não há semelhanças: “Esquerda do século XX morreu. Muito ortodoxa”. Sobre o apelo comercial do filme de Walter Salles, assume que “delírio do sucesso é irreal”.

A partir da grave crise ocorrida na Bolívia, acerca da autonomia da região boliviana de Santa Cruz de La Sierra, Chaves crê que Evo Morales, presidente do país, renega os latinos, dando prioridade aos nativos, e que a América Latina é extremamente diversificada. Por fim, o historiador Gabriel Chaves, que com mais 06 pessoas fez parte da produção do filme, reitera que fez um registro, uma contribuição. Apenas mostrou os movimentos revoltosos já existentes, não exacerbando nenhum. Metaforicamente, discursa que “não fez um filme francês sobre a Índia”.

Atualmente, Chaves prepara o lançamento de um livro e Eryk Rocha, um novo filme. Chamado provisoriamente de “Transeunte”, não é um documentário, e sim uma ficção, sua primeira. Possuindo até um blog de divulgação (transeunte09.blogspot.com), promete, aparentemente, alcançar um maior número de pessoas e transformar, pelo menos para ele, o delírio do sucesso em algo real.

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