terça-feira, 3 de julho de 2012

Dadaismo


Mas quais são as diferenças entre ser e estar? Hoje eu estou, amanha eu sou, hoje eu sou isso, amanha eu sou aquilo. Mentira, eu não sou absolutamente nada de diferente, continuo com o trauma em mim e eu existo permanecendo no trauma traumático pela traumatização, já que escrevo por não ter nada a fazer no mundo, sobrei e não há lugar para mim na terra dos homens, escrevo porque sou um desesperado e estou cansado, não suporto mais a rotina de me ser e se não fosse a sempre novidade que é escrever eu me morreria simbolicamente todos os dias, mas preparado estou para sair discretamente pela saída da porta dos fundos, já experimentei quase tudo, inclusive a paixão e o seu desespero e agora eu só quereria ter o que eu tivesse sido e não fui. Eu não entendo porque cito tanto Clarice Lispector. Mentira, eu sei: ela me fascina. O problema é que ela fascina a todos e eu tenho a impressão de que as pessoas pensam que eu sou clichê. Mas eu não sou clichê. Eu sou um grande intelectual, um grande escritor, um grande, assim como afirma Jonathan Franzen, eu abro os olhos da medíocre humanidade. O que significa ser feliz? Eu não compreendo essa situação, pois vivo de momentos inconstantes, quando um dia tudo é meu e basta passar o momento de euforia e eu entrar no ônibus para que tudo deixe de ser meu. A pior coisa foi estar ali sentado na mesa e o homem que não me conhecia, perguntou: “Mas quem é que escreveu isso?”, de maneira repressora. Alguém diz: “Ele”, quando eu estava a seu lado. Eu não fui aprovado. Pior que isso é verdade, realmente verdade. A maior parte do que escrevi é verdade. Acho que esse está sendo um dos principais motivos para a minha literatura não estar andando. Minha literatura está sendo muito repetitiva porque eu vivo uma vida muito repetitiva e como minha literatura é a minha vida , uma é mais viciada que a outra.

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