segunda-feira, 11 de junho de 2012

Ciência e antropologia – o cotidiano da química e a interação museológica


Antes de entrar na Casa da Ciência da UFRJ, eu quase quebrei a perna. Um ralo estava indevidamente destampado e eu, ao ficar prestando atenção na fachada da Casa, não me dei conta do equívoco urbano. Passado o susto e a vergonha por ter sido a razão do riso dos pedestres, entrei no recinto com o intuito de conhecer e compreender melhor a química que permeia o meu dia a dia dentro de casa, na exposição “Cadê a química?”

Em comemoração ao Ano Internacional da Química no Brasil, em 2011, a UFRJ promoveu em parceria com a Sociedade Brasileira de Química (SBQ) o espaço interativo para ressaltar a importância dos estudos e do investimento em química no desenvolvimento de utensílios e estratégias que auxiliam de maneira essencial nossa vida dentro de casa. Um tema aparentemente interessante, pensei eu, que poderia atrair um público amplo, já que todas as pessoas sem exceção usufruem dos benefícios da química no cotidiano. Porém, surpreendi-me ao me ver sozinho no recinto, tomado por aquele constrangimento de ser o único em meio a ninguém.

O espaço era uma grande sala onde montaram uma casa com seus cômodos, em um ambiente lúdico, colorido e ampliado. A exposição, antes de entrar de fato na química que habita cada cômodo da casa, exibiu vídeos que demonstraram a relevância desta disciplina para o desenvolvimento humano, desde a descoberta do fogo pelo homem até as guerras ganhas pela utilização da pólvora.

Não sei se era a hora – logo depois do almoço –, mas me aliviei por pensar que poderia passear pelo recinto sem ser atrapalhado. Ledo engano, já que rapidamente surgiu um rapaz de cabelos cumpridos, com uma blusa da exposição, para guiar-me. Percebi logo que ele fora instruído para ensinar e conduzir crianças em grupos escolares. Notamos – eu e ele – um deslocamento de ambas as partes. Ele por estar ambientando em linguagem tatibitati um homem formado e eu por estar notando que por mais baixo que eu fosse não era uma criança em estágio escolar e que daquelas perguntas que ele fazia da maioria eram bem simples e eu as respondia de pronto. Rezávamos, tinha certeza, para que de repente surgisse uma manada de jovens para deslocar nossa atenção forçada um do outro.

Passei pela sala, pelo quarto e cheguei à cozinha, com o guia. Ele ensinou-me sobre os hormônios do sono, do prazer, passou a falar sobre onde os remédios eram melhor armazenados e eu reparei que havia algumas coisas expostas que ele passava direto sem me dar nenhuma explicação. Ao chegar na cozinha, ouvimos um grupo de crianças entrarem. Eram seis meninas e um menino, que usavam uma blusa com o slogan de uma organização não-governamental. Chegaram fazendo a algazarra natural. De todo aquele silêncio instigante passou-se para o falatório desenfreado. Outros guias surgiram para auxiliar na empreitada de ensinar a posição correta do ovo na geladeira. Os guias sempre interrompidos por gritos, eu dividia com os meninos a mesa da cozinha para prestar atenção na aula. “Gente, cala a boca, deixa o moço ouvir”, gritou uma das crianças fazendo referência a mim, o “moço”.

“Quer mostrar que é da favela, garota?!”, repreendeu uma das meninas sua colega. Porém, ela era uma das que também não conseguia sossegar. Do grande silêncio chato eu havia passado para o falatório que estava, devo reconhecer, bem divertido. Os guias se estressaram um pouco mas permaneceram na empreitada. Saímos da cozinha e fomos até a área. Descobri, então, que por mais “adulto” que eu fosse, eram as meninas que mais sabiam sobre como lavar roupa e que material conseguia tirar satisfatoriamente manchas de sangue e/ou vinho de uma calça jeans. Elas estavam mais preparadas para a vida que eu, que não sei lavar uma roupa, preparar uma comida e lavar um chão de banheiro.

Depois da área de serviço, eles retomaram para o quarto e a sala, recintos que eu já havia passado. Decidi, então, ir sozinho para o banheiro e o quarto das crianças. Notei, com isso, que havia sido sumariamente abandonado. Nenhum guia me acompanhou e eles, por mais que eu olhasse em volta, pareciam ter desaparecido. Vi, portanto, o vídeo interativo do cocô na privada, sem maior detalhamento.

Antes de ir embora, olhei de longe uma senhora sentada na mesa da cozinha prestando atenção a um dos guias. Ela também estava sozinha e não era uma criança.

Nenhum comentário: