quarta-feira, 29 de junho de 2011

Seminário discute os rumos da Praia Vermelha


Tendo em vista o projeto do Plano Diretor da UFRJ para 2020 e os problemas recentes vividos no campus da Praia Vermelha, como o incêndio na capela do Palácio Universitário e a queda do telhado da Escola de Serviço Social (ESS), teve início na última segunda-feira (27/06), às 18h, o seminário UFRJ em debate: A situação da Praia Vermelha. Até a próxima sexta-feira (30/06) haverá debates e oficinas de arte.

Realizado no Auditório Manuel Maurício de Albuquerque, no prédio do Centro de Filosofia e Ciências Humanas (CFCH), o evento foi aberto com a palestra A mercantilização da universidade, pelo professor da ESS/UFRJ Mauro Iasi. Para ele, o perigo da entrada de capital privado nas universidades é deixá-la refém do condicionamento de seus investimentos, sem liberdade para pesquisa, ensino e extensão. Também estiveram presentes, a presidente da Associação de Moradores da Urca, Celinéia Paradela Ferreira, e representantes do DCE (Diretório Central dos Estudantes) Mário Prata e da Adufrj (Associação de Docentes da UFRJ).

Pólo de resistência, para liberdade do pensamento crítico

De acordo com Mauro Iasi, a educação não pode se tornar refém do mercado e necessita voltar à sua vocação de ser livre e de acesso a todos. Para ele, existe uma relação direta entre a vida e a universidade: “A luta da sociedade é a luta da universidade”. Afirma que o capital privado na educação resulta, na prática, em uma liberdade sob chantagem: “Vocês querem ficar na Praia Vermelha? Então, vivam sem manutenção e sob condições mínimas de convivência”. Segundo Iasi, a universidade deve ser um pólo de resistência, para se desenvolver um pensamento crítico: “É possível produzir um conhecimento para o povo dependendo do capital privado? Impossível”.

Empresas investindo em centros de ensino fazem com que as pesquisas sejam direcionadas para setores onde ela deseja se expandir, assim como alguns cursos acabam recebendo mais investimentos que outros, muito por sua própria natureza, a partir da lógica tecnicista: “Um curso de Engenharia é financiado pela Petrobras para fabricar, por exemplo, um tanque. Já estudar políticas público-privadas em Serviço Social acaba recebendo quase nada”.

Segundo o professor, foi a partir da Ditadura Militar que a visão tecnocrática e voltada para o mercado de trabalho tomou conta das universidades brasileiras: “A ideia tecnicista de ensino é elitista e meritocrática, onde se tem o vestibular como funil e os poucos que entram têm o prêmio do ensino superior”. Já com os anos 1970 e 80, o Estado entra em crise e passa a ser considerado pesado e oneroso, sugando o mercado de recursos. Dá-se, então, espaço para a entrada das privatizações, cobrando que o Estado funcione como uma empresa: “É nesse momento que começa uma luta contra a universidade pública, necessitando se criar uma eficácia para o ensino”. O ensino público seria um “ralo para onde iriam os recursos da União”, ressalta Iasi.

Expansão da educação como mercadoria

Com isso, nos governos de Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva, a expansão das universidades se deu pela lógica do mercado, com expansão do ensino privado e a universidade pública sendo regida pela eficiência, sob um orçamento restrito e acessível para poucos. “O ensino se torna lucro e número de cursos universitários dispara no Brasil”, afirma Iasi, ressaltando que quanto maior a mercantilização, menor é a qualidade do ensino.

Para a presidente da associação de moradores da Urca, Celinéia Ferreira, deve ser pensado em o que o Plano Diretor pretende como projeto: “O que virá depois, no campus da Praia Vermelha, me preocupa muito. Principalmente se aqui se transformar em algo privado, como aconteceu com o Canecão e o Instituto Europeu de Desing, na praia da Urca”.

Nenhum comentário: