sábado, 4 de setembro de 2010

Os poemas inominados colados na porta do armário

Se um dia eu me escondesse
Seria onde eu seria mais triste
Mas ao mesmo tempo o mais feliz
Porque teria encontrado meu lugar calmo
Para poder ler e escrever e parar de ver.

***

Se eu acordasse cego um dia
Não saberia o caminho para os lugares
Os outros necessitariam ajudar-me
Para o Sol poder contemplar-me
Pois é no desassossego
Que o cego sente o tato.
Porque sentir é o necessário:
não ver.

***

Os outros querem aparecer
Eu quero transparecer
Os outros dão-me apenas alguns dedos
E eu quero a oficialidade da mão toda
Os outros vivem constantemente da surpresa
E eu vivo constantemente do espanto
Porque para mim as coisas são mais difíceis
Para mim as coisas são mais sofríveis
Porque eu preciso lutar para nascer,
Todos os dias, cotidianamente.
Para que os outros, um dia, com sacrifício
Aceitem-me
Porque eu quero a oficialidade da mão toda
Enquanto eles dão-me apenas alguns dedos.

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