segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Tenho 82 anos

Eu não sou normal.

Não é normal uma pessoa de 22 anos ler três jornais por dia - "O Globo", "Folha de S.Paulo" e "O Estado de S. Paulo". Não é normal uma pessoa de 22 saber exatamente o dia em que passou a receber o jornal assinado em casa - 25 de agosto de 2005 (pior: durante um ano eu lia todas as linhas do jornal, sem conseguir fazer qualquer outra coisa antes de acabar de lê-lo por completo, caso contrário eu seria atropelado). Não sei se é exatamente normal se obrigar a ler duas revistas informativas semanais - "Época" e "Veja" -, além de, mensalmente, "Piauí", "Rolling Stone", "Cult". Não é normal uma pessoa de 22 anos, que passou sua adolescência no século XXI, ter como cantores prediletos artistas que tiveram seu auge nos anos 1950 e 1960. Não é muito normal uma pessoa de 22 ser fascinada por Virginia Woolf, Clarice Lispector, Gabriel García Márquez, Michel Foucault, Sigmund Freud, Benedict Anderson, Robert Musil, Oscar Wilde, James Joyce, Marcel Proust, Albert Camus, Raduan Nassar, Caio Fernando Abreu, Nelson Rodrigues, José Saramago, Jorge Luis Borges, Adolfo Bioy Casares, e eu poderia ficar aqui falando eternamente, além de ter passado suas férias escolares de 13 anos lendo cerca de um milhão de livros da Agatha Christie. Minha expectativa dos fins de semana de 2003, na flor da pré-adolescência, não era brincar: era ir ao jornaleiro para comprar a coleção dos melhores livros do anos 1800 do "Extra" e dos anos 1900 de "O Globo". Não deve ser normal ter, aos 22 anos, quase cem livros na sua estante. Não sei se é normal, hoje em dia, aos 22 anos, não ter iphone, ipad, smartphone, aplicativo algum para celular, câmera digital, nada disso. Não sei se é normal optar por, em um domingo bonito, ao invés de ver qualquer coisa engraçada na televisão, colocar no Telecine Cult para ver algum filme do Ingmar Bergman (ok, até eu acho Bergman um pouco chato, às vezes). Não sei se é normal uma pessoa de apenas 22 anos já ter passado por tantos analistas. Não sei se é normal, aos 22 anos, já saber tudo sobre o que você deseja (pensa que) em sua vida acadêmica: formação em jornalismo, mestrado em ciência da literatura, doutorado em teoria psicanalítica, pós-doutorado em história social.

Mas eu sei de quem é a culpa: eu passei a minha adolescência assistindo "Sex and the city", "Os normais", "Saia Justa" e "Will and Grace".

Nenhum comentário: