sábado, 21 de janeiro de 2012

Antônio Alves diz que me quer


2007

Apaixonei-me por ele aos sete dias do mês de fevereiro do ano de 2007, na mesma noite em que a criança morreu presa pelo cinto de segurança arrastado no asfalto do subúrbio do Rio de Janeiro.

Ele, pouco mais velhos, trouxe a segurança afetiva que a lacuna sentimental retirou de mim. Como se fosse um papai, Antônio Alves dizia qualquer coisa ao meu ouvido com uma voz de estrela de filme, que fazia com que tudo parecesse mais lindo. Dormíamos abraçados – para mim, dormir desta forma é o martírio, já que eu, não podendo mover meu corpo, tenho a sensação de que tive um derrame.

Aos dezessete de idade, ele me criou e eu deixei-me criar. Em seu aniversário fui visitá-lo na casa da família, o assisti comer seu almoço, o esperei no quarto enquanto ele conversava com os convidados, fui com a roupa que ele gostava que eu usasse. Por achar que agradava, sempre pedi desculpas quando julgava necessário.

Antônio Alves nunca verbalizou nada comigo. Por ele apenas agir, não pude cobrá-lo quando decidiu que não deveríamos nos ver mais. Eu entrei naquele imbróglio com a intensidade que ele estava saindo. Ele dominou e eu fui dominado.

2010

- Eu vou deixar a porta só encostada. Aí, você sobe as escadas, abre a porta e se ajoelha na entrada, me esperando – disse Antônio Alves.
- Não, não quero fazer essas coisas. Não sou sua prostituta pra te obedecer desse jeito – eu retruquei.
- Mas eu só gosto assim – ele me calou.
- … – exprimi, olhando ao redor e mastigando o canto da boca. – Mas eu tenho vergonha. Não estou fazendo teatro e seus vizinhos podem perceber esse negócio que a gente está fazendo – argumentei.
- Não tem problema nenhum, aqui nesse prédio todo mundo já está surdo e quase morrendo – finalizou, de pé.
- Para ser honesto, eu não sou muito chegado em colocar a boca no seu pau – envergonhei-me. – A gente pode fazer de camisinha, né?!
- Quero que você me chupe, já falei. Não quero outra coisa de você além disso – morri.
- Mas olha, então está bom. Eu posso até dar pra você (!), mas eu não quero que você goze na minha boca, ok?. Sinceramente, gosto não... – Implorei, sentado diante dele, com ele já gordo depois de alguns anos.
- Eu te filmo e deixo você me chupar de camisinha – Antônio Alves afirmou, olhando para o quarto do lado, reservado já com câmera.
- Quê?! Posso parecer, mas não sou esses que você encontra na internet pra ficar filmando e depois bater, seu doente – Tentei gritar, mas disse baixinho.
- Eu só quero que você me chupe.

2013

Passei a gostar de plantas. Reparo sempre em como elas crescem e a forma que elas tomam, com suas flores bonitas. Na avenida, andando depois de sair do apartamento de Antônio Alves, já seu ator recorrente, vi que o pinheiro de frente de casa já tinha passado do telhado. Isso significa sofrimento ao dono da casa.

Enquanto todas aquelas árvores, plantas, flores iam crescendo, já no verão, apesar da primavera, eu ia diminuindo pela necessidade de Antônio Alves, sempre ali, para dizer, a seu modo, que eu te amo.

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