"Ele era muito teatral. Colocou-se diante do espelho com um terno preto e uma flor na lapela. Levou a arma até a boca, esperou até que o tambor esquentasse e, olhando para seu reflexo com um sorriso alheado, puxou o gatilho. Caiu como um paletó lançado dos ombros, mas a alma continuou em pé por algum tempo, sacudindo a cabeça, cada vez mais leve. Então, com relutância, ela penetrou no corpo, sangrento na extremidade superior, no momento em que sua temperatura estava caindo para o nível térmico de um objeto, o qual – como sabemos – é sinal de longevidade." Suicídio – Zbigniew Herbert.
Estávamos dentro do ônibus eu, vovó e meu irmão, passando ao longo da orla da praia de Botafogo. Ao saltarmos, ficamos caminhando por um construído de pedras, no Arpoador, desses que servem para estar a pescar. Meu irmão ficava afastado de nós dois, enquanto eu segurava vovó pelo braço, pois ela andava na beirada do construído de pedras, sempre na iminência de cair nas águas. Como o tempo estava fechando, entramos em uma residência, ao lado de onde estávamos. Nela, meu irmão sentou-se em uma cadeira, enquanto vovó saía de cena, por um corredor. Eu perguntei para ele: “Você já contou a ela que papai morreu?”, no que ele disse-me: “Sim.” Então, comecei a chorar descompassadamente. Nisso, o telefone tocou, e mamãe fez-me solicitações para o dia, acordando-me do sonho.
Fim da vida.
Pois vive-se apenas no sonho. No dia-a-dia, atua-se.
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