quinta-feira, 21 de junho de 2012

A fina Josefina


Houve uma estória que, de tão verdadeira, parecia inventada. Era uma vez Josefina, nascida no Morro do Encontro. Sua mãe, Arlete, morreu quando ela tinha seis anos, de Síndrome da Imunodeficiência Adquirida. No Grajaú, bairro que ligava o Morro do Encontro ao bairro de Jacarepaguá, criou-se meio que sozinha Josefina, ainda que com sua casa fixa na favela. A pracinha, no centro, rodeada do mercado, da escola, do restaurante e da igreja de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, foi seu ínterim entre o fim de sua mamãe de verdade e o começo de suas duas novas mamães. 

Linguona e Perseguidinha eram mulheres que viviam em matrimônio estável e amável no barraco construído com muito sacrifício no Morro da Divineia, entre os bairros do Grajaú e Andaraí. Acharam a pequena na Praça Edmundo Rego (pracinha) brincando com os pombos, abandonada e desencontrada. Levaram-na, deram banho, alimentaram bem, a matricularam na Escola Municipal Lourenço Filho e tentaram dar umas cafungadas na moça, já com onze anos, pois não eram suas parentas no fim das contas e isso Deus perdoa. Conseguiam alguma coisa, durante o sono de Josefina. 

A trajetória de Linguona e Perseguidinha teve uma separação, apesar de tudo. Linguona vinda do Morro de São João e Perseguidinha dos Macacos, eram como Romeu e Julieta: suas comunidades não eram muito amigáveis uma com a outra. Como fofoca é algo que pega mais que sanguessuga, Linguona ouviu um caso de que Perseguidinha estava de romance com uma moça rica de Ipanema, toda da dondoca e da caminhoneira. Sangue a fervilhar pelas ventas, Linguona mandou que os donos do São João matassem Perseguidinha. Um dia, saindo do 435 (Gávea – Grajaú), vinda do serviço, Bandidão Primeiro e Bandidão Segundo sorrateiros que nem sombra foram atrás da coitadinha. Antes de pisar no primeiro degrau que dava acesso à Divineia, Perseguidinha morreu com dezessete tiros nas costas. O primeiro a matou. 

Sozinha, Josefina estava ao esquecimento novamente. Ainda que permanecesse na escola, continuou no analfabetismo e se tornou mulher aos doze vivendo no banco da praça. Ganhou um real por dia por serviços prestados aos taxistas que batiam ponto em frente à Confeitaria Caprichosa. Seus serviços eram prestados no banco detrás dos carros que ficavam ali pela madrugada, ou na Reserva Florestal do Grajaú, com os que trabalhavam de dia. Aos quatorze anos, assassinou no banheiro feminino da escola, com uma navalhada no pescoço, uma periguete que a chamou de puta. E todos foram felizes para sempre. Fim.

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