"…e se acaso distraído eu perguntasse 'para onde estamos indo?' – não importava que eu, erguendo os olhos, alcançasse paisagens muito novas, quem sabe menos ásperas, não importava que eu, caminhando, me conduzisse para regiões cada vez mais afastadas, pois haveria de ouvir claramente de meus anseios um juízo rígido, era um cascalho, um osso rigoroso, desprovido de qualquer dúvida: 'estamos indo sempre para casa'" (Raduan Nassar - "Lavoura Arcaica").
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"Por um prazer, mil dores" (François Villon).
"Muchacha, dice mi madre, no huelas esa flor, que da cáncer... Dios mío, da cáncer oler una flor. Y continúan las explicaciones: La-adelfa-tiene-unas-hormigas muy pequeñas-que-viven-entre-los-pétalos-si-la-olemos-esos-bi-chos nos-entran-por-la-nariz-ellos-dan-el-cáncer. Mamá, he olido una adelfa, ahora seguramente cogeré un cáncer" (Reinaldo Arenas - "Otra vez el mar").
"mas o fato é que o prazer sexual se paga quase sempre muito caro; mais cedo ou mais tarde, por cada minuto de prazer que vivemos, passamos depois anos de sofrimento; não se trata de vingança de Deus, é a vingança do diabo, inimigo de tudo que é belo" (Reinaldo Arenas - "Antes que anoiteça").
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“Há uma linha tênue entre o que é verdade e ficção, isso se tiver linha alguma. Eu perguntei para Zélia se ela algum dia já havia dormido com um homem. (...) Ela olhou para mim e disse: “Eu não posso te ouvir”. Quando eu a perguntei pela segunda vez, ela respondeu: “Eu nunca fui casada” (...) Meu pesadelo: Zélia olhou para mim e perguntou: aos 26 anos e ainda não tem namorada? (...) Olhei para ela e disse: “Eu não posso te ouvir”. Quando ela me perguntou pela segunda vez, eu respondi: “Não, eu não tenho. Não exatamente”. E ela também falou: ‘Por que é tão complicado?’” (Karin Aïnouz - "Seams").
“Da escrita à vida e da vida à escrita, a via é certamente de mão dupla, ou, mais do que isso, de encruzilhada, havendo tanto as muitas intensidades do vivido na escrita quanto as da escrita no vivido” (Alberto Pucheu - "Kafka poeta").
"Uma obra de arte é boa quando nasceu por necessidade. Neste caráter de origem está o seu critério, - o único existente. Também, meu prezado senhor, não lhe posso dar outro conselho fora deste: entrar em si e examinar as profundidades de onde jorra a sua vida; na fonte desta é que encontrará a resposta à questão de saber se deve criar. Aceite-a tal como se lhe apresentar à primeira vista sem procurar interpretá-la. Talvez venha a significar que o senhor é chamado a ser um artista. Nesse caso aceite o destino e carregue-o com seu peso e sua grandeza, sem nunca se preocupar com recompensa que possa vir de fora. O criador, com efeito, deve ser um mundo para si mesmo e encontrar tudo em si e nessa natureza a que se aliou" (Rainer Maria Rilke - "Cartas a um jovem poeta").
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