sábado, 3 de julho de 2010

Posfácio

Posso até não gostar do que foi escrito, mas já foi escrito. Fazer o quê? Até endireito certos erros gramaticais, certas vírgulas fora do lugar, certas palavras exaltadas demais. Porém, sinto-me incapaz de inutilizar qualquer um destes contos. Por mais que eu ache que aquilo não presta, deve ser porque eu não estava prestando no momento em que o escrevi. Portanto, ao acreditar que o que foi posto teve algum motivo real e especial para ali estar, ponho em minhas letras as palavras de Mário de Andrade, para Carlos Drummond de Andrade: quando você mostra seus escritos para outros e os mesmos gostam deles, os poemas e prosas já não pertencem mais a você, e sim ao mundo (ou algo do gênero). Por mais que o mundo o rejeite (tanto a você, quanto às suas palavras), tudo passa a pertencer a ele e a mais ninguém, infelizmente. Se preferirem, podem tirar aquele nome que fica em cima de “O complexo melancólico ou As veias carcomidas de uma vida bandida” e podem deixar, sei lá, “Do mundo”, “Ao mundo”, “Pelo mundo”, “De vocês, não mais meu”, dentre outras coisas.


A grande parte do tempo em que esta obra foi gerada, o fez em segredo. Apenas agora, quando ela está conclusa – ou quase, já que escrevo este posfácio antes mesmo de terminar o livro –, que algumas pessoas passam a tomar conhecimento de sua existência. Isso não acontece por exercício de ego de minha parte, mas mais porque passei agora a ter uma noção e um reconhecimento pessoal de que, de fato, um livro isto se tornou e que, ainda que nenhuma editora queira publicá-lo, eu indiscutivelmente serei um escritor.


Sei que minha vida não deve ter sido melhor ou pior que a de ninguém, e que, com certeza, traumática ela foi, assim como é a de todas as pessoas. Mas entendo que, desde o começo da elaboração deste livro, a vida que eu tive, tenho e provavelmente terei foi, está sendo e será relevante. Tudo que quis poderia ter desembocado em um trabalho de escritório, depois de uma prova de concurso, mas Deus foi bom comigo e pôs-me aqui a fazer o que quero, do modo que bem entendo e fingindo não querer agradar ninguém.


Como já foi dito, nada aqui sou eu e tudo aqui sou eu. Tudo foi inventado, assim como meu dia real, que ao acordar é feito por mim mesmo, reflexivamente. Não caiam na esparrela de não crer em tudo e de acreditar em nada, de não crer em nada e de acreditar em tudo.


A vida é subjetiva. Até os axiomas são subjetivos, ao passo que nascem a partir de uma pergunta, incondicionalmente subjetiva. Portanto, subjetivo-me naturalmente, fazendo com que você deva duvidar de mim sempre, assim como eu duvido-me sempre. Entretanto, goste de mim, por piedade, assim como eu gosto de você, por piedade.


Segundo Sigmund Freud, em “Conferências Introdutórias sobre Psicanálise”, na parte em que se refere aos sonhos, “complexos” são “grupos de ideias e de interesses intensamente emocionais”. Já para o Dicionário Aurélio, “melancolia” é um “estado mórbido de tristeza, depressão e pesar”.


Não precipitem-se, peço. Sou feliz, ainda que não pareça. Mas aí já seria necessário outro livro.

Pronto, já sei tudo que eu sabia, mas não sabia que sabia. Então, sessão encerrada. Acabo de receber alta.

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