Descreva alguns dos principais aspectos do método freudiano de interpretação.
“Nada acontece em um tratamento psicanalítico além de um intercâmbio de palavras entre o paciente e o analista.” (FREUD; Imago, 1988, p.29) Diferentemente, então, de uma ciência da área médica, a psicanálise encontra espaço no falar e escutar, não em uma radiografia, por exemplo. Imbuído disso, o pai da psicanálise afirma que “Interpretar sig-nifica achar um sentido oculto em algo.” (p.109) Como a interpretação, nesse caso, está referindo-se aos sonhos – que pode ser considerado uma parapraxia em sono – o sentido que deve ser achado são os pensamentos oníricos latentes contidos no “algo”, os conteúdos manifestos de um sonho. Tendo as afirmações acima como ponto de partida, vê-se o que pode ser o principal dos principais aspectos do método freudiano de interpretação: partir do princípio de que os próprios analisados devem encontrar, “na medida do possível”, a resposta e solução de seus enigmas. (p.126) Isso acontece porque, para a psicaná-lise freudiana, ainda que o paciente/sonhador sempre diga que nada sabe – quão mais traumática for a revelação, maior a negação –, apenas não está sabendo que o sabe, e por isso, pensa que não sabe. Ou seja, o analisado não sabe que sabe, por que a verdade está contida em seu “inconsciente”, não vindo à tona facilmente sem a presença do ana-lista, entendido, portanto, como um orientador de caminhos. Na interpretação dos so-nhos (vida mental durante o sono), considerado aqui forma de ato falho – “Se foi possível às parapraxias ter um sentido, os sonhos podem ter algum, também;” (p.110) –, o inconsciente (profundeza) é trazido então ao consciente (superfície) através das associações. Essas associações, segundo Freud, seguem o mesmo esquema dos esquecimentos de nomes próprios e das palavras-estímulo: seguindo um exemplo pessoal (p.137), ele afirma que esqueceu-se do nome do país da Riviera cuja capital é Monte Carlo. Aleatoriamente, disse nomes substitutos, quando constatou que quatro dos nomes que havia di-to possuíam o mesmo “mon”, de Mônaco, o nome do país que esquecera. Em outro caso pede a um homem que relaciona-se com várias mulheres (p.133-4) para dizer o nome de uma mulher, sendo que não lembrou-se imediatamente de nenhum, dizendo, após, “Albina”, que não era mulher nenhuma, mas na realidade ele mesmo, muito branco, que para Freud, conclusivamente, era “a mulher que mais lhe interessava no momento”. Os sonhos, assim, para serem compreendidos, devem ser associados a experiências recentes e experiências passadas, correlacionando-as, substituindo situações à realidade do paciente, para que com isso a subjetividade por trás da objetividade do sonho seja encontrada: “(...) no caso de esquecimento de um nome, também na interpretação de sonhos (...) a partir do substituto, ao longo da cadeia de associações ligadas a ele e dessa forma obter acesso à coisa original que está sendo mantida oculta.” (p.138) Ponderando, ainda que o esquecimento de nomes próprios seja “excelente modelo do que acontece na análise dos sonhos” (p.136), nos sonhos os eventos divididos entre duas pessoas em sua análise está concentrado em apenas uma, nos atos falhos. Também, “Um sonho difere de um lapso de língua, entre outras coisas, pela multiplicidade de seus elementos”. (p.131) Um bom caso de onde a interpretação de um sonho é satisfatória através das associações – tendo igualmente outros embasamentos explicitados a seguir – foi o da mulher e seu marido no teatro (p.149-152) Entende-se, então, que o sonho é um quebra-cabeça que deve ser desmontado, para que assim possa-se enxergar, de modo particular em cada aspecto seu, tendo em seu todo o complexo. Freud enumera (p.140), concluindo, três “bases” para que se faça uma satisfatória interpretação de um sonho: (1) não nos preocuparmos com o que o sonho parece dizer-nos, seja ele compreensível ou complexo, pois pode não ser o conteúdo inconsciente do mesmo que estejamos procurando – há um porém nisso pois ele afirma que crianças sonham sonhos objetivos e simples, afirmando que alguns adultos fazem o mesmo; (2) deve-se trabalhar com a recordação das ideias substitutivas de cada elemento, não devendo haver reflexões sobre elas e nem considerações de que pode ter algo de importante nas mesmas; igualmente não importar-se com divergências que existam entre esses elementos e os elementos oníricos; (3) procurar que o elemento oculto, inconsciente, dos sonhos, surja naturalmente, através das associações, assim co-mo aconteceu com a palavra “Mônaco” (p.137). Finalizando a questão, há de ter-se em mente que trata-se de interpretação. Uma interpretação pode ser entendida e vista como uma opinião que, por sua vez, subentende outra (TARDE; Martins Fontes, 1992), o que faz com que a subjetividade da psicanálise fique evidente, fazendo com que alguns pudessem duvidar de sua credibilidade. Entretanto, Freud explicita de modo eficiente seus argumentos e difere o que considera “misticismo”, como, por exemplo, um sonho prever algo futuramente; ou um sonho com um dente significar morte iminente, de sua “interpretação de sonhos”.
Bibliografia
1) FREUD, Sigmund. (1916-17[1916-17]) Conferências introdutórias sobre psicanálise (Parte I: Parapraxias). Rio de Janeiro: Imago Editora LTDA, 1988;
2) FREUD, Sigmund. (1916-17[1915-17]) Conferências introdutórias sobre psicanálise (Parte II: Sonhos). Rio de Janeiro: Imago Editora LTDA, 1988;
3) TARDE, Gabriel. A opinião e as massas. São Paulo: Martins Fontes, 1992;
4) CULT, Revista. Freud, continuidades e rupturas – Novas leituras da perturbadora obra do pai da psicanálise. São Paulo: Editora Bregantini – nº147 – junho/ 2010 – ano 13 – pags. 46 a 65.
Nenhum comentário:
Postar um comentário