Tendo em vista o documentário “Henri Cartier-Bresson: Ponto de interrogação”, de Sarah Moon com colaboração de Robert Delpire, da produtora Take Five (1994), será feita uma resenha crítica abrangendo seu aspecto narrativo e sua aparente fuga da forma natural de se passar este tipo de película, com a notícia objetiva. Analisar a introspecção psicológica que ele acompanha e nisso vislumbrar que ele é satisfatório no que propõe: expor a efervescência intelectual e profunda que é a vida do pai do fotojornalismo moderno.
Começando com sobreposição de comentários, objetivamente o documentário “Ponto de interrogação” não ensina muito sobre a vida do fotógrafo Henri Cartier-Bresson. Mas é aí que reside sua beleza e sua profundidade, ao passo que ele caminha junto do devir intelectual do francês. Ou seja, capita-se mais a beleza dos pensamentos de Bresson e seu ponto de vista em relação à fotografia do que a data em que ele nasceu, quando ele começou a trabalhar e porque ele faz isso ou aquilo.
Deste modo, o breve filme utiliza o título de maneira correta segundo dois aspectos: como uma síntese de tudo o que foi dito, já que Henri Cartier-Bresson mantém-se uma interrogação para nós, por conta de sua grande subjetividade, assim como em razão de para ele tudo partir de questionamento. Nisso, entende-se que a filosofia e a beleza da vida daquele senhor de mais de oitenta anos é o questionamento, a pergunta, a intenção de compreender o instante que contempla o todo. A afirmação anterior é comprovada nesta frase dita por ele:
“Para mim há sempre pontos de interrogação por todo o lado. A única coisa interessante são as perguntas, não as respostas. Saber do que se trata. É sempre este o problema. Do que se trata? O que é? Por quê?”
Ainda que se possa dizer que sua vida é exposta fragmentadamente e seu uma direção objetiva, não se pode dizer o mesmo do processo de concepção de sua fotografia. Bresson explica, a seu “modo”, o que é a fotografia para ele e a maneira como ele acredita que deve concebê-la. Para ele, a foto é um tiro e o instante é como um orgasmo. Na maioria das vezes, priorizou a geometria dos “tiros”, como sua mais conhecida foto: a da escada junto da bicicleta. O único problema da obra é, no máximo, notar um certo pedantismo extremado do retratado, mas ele pode.
Concluindo, o documentário é fidelíssimo a Henri Cartier-Bresson, pelo fato de ele próprio conduzir este trabalho de pouco menos de uma hora. Mostra suas ideias cruamente e o mantém em seu mundo, não intervindo a partir de fatores externos, que para a grande parte dos realizadores e espectadores comporia e engrandeceria o filme, qualquer filme, como locução etc. Em suma, Cartier-Bresson quer “obter um silêncio e não uma expressão” com o retrato é exatamente o que o documentário consegue fazer com quem o assiste: o deixa em silêncio diante de tanta beleza humana.
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