Eu era um homem,
naquele dia, parado na plataforma da estação do metrô, distante muitos passos
da linha amarela que separa o chão do vazio do trem, porque eu, naquele dia,
temia morrer, ao cair ou ser jogado nos trilhos. Sempre, na verdade, tive medo
de cair ou ser jogado dos lugares; ser atropelado; morrer afogado. Era eu,
assim, parado junto à parede, aguardando. Foi, então, que veio um pássaro,
voando como voam apenas os pássaros, passando pelas escadas e em seguida
percorrendo toda a plataforma. Ele queria seguir até a escadaria diametralmente
oposta à escadaria de princípio, para poder continuar voando para fora da estação.
Mas uma corrente de ar à esquerda do pássaro veio forte e ele foi sugado pelo
ventilador. Ao entrar pelos aros do seu algoz, o pombo teve sua cabeça
arrancada, suas asas arrancadas, suas patas arrancadas. Ele, ao morrer, pensou
naquele outro pombo que havia deixado na praça àquela tarde com a promessa de
voltar logo com um pouco de comida. Os cidadãos que aguardavam o metrô ouviram
apenas um estouro e não os anseios do pombo. As penas projetaram-se por toda a
superfície e as pessoas horrorizadas não entendiam o que estava acontecendo.
Por fim, cada parte do animal ficou repousada, enquanto o ventilador que ainda
ventilava espalhava as penas do pombo por toda a plataforma, para nojo de quem
observava. O trem chegou e eu entrei e não quis pensar mais no pombo, pois ele
é um bicho, é sujo, eu tenho nojo e ele balança a cabeça ao andar.
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