Mas quais são as diferenças entre ser e estar? Hoje eu
estou, amanha eu sou, hoje eu sou isso, amanha eu sou aquilo. Mentira, eu não sou
absolutamente nada de diferente, continuo com o trauma em mim e eu existo
permanecendo no trauma traumático pela traumatização, já que escrevo por não ter
nada a fazer no mundo, sobrei e não há lugar para mim na terra dos homens,
escrevo porque sou um desesperado e estou cansado, não suporto mais a rotina de
me ser e se não fosse a sempre novidade que é escrever eu me morreria
simbolicamente todos os dias, mas preparado estou para sair discretamente pela
saída da porta dos fundos, já experimentei quase tudo, inclusive a paixão e o
seu desespero e agora eu só quereria ter o que eu tivesse sido e não fui. Eu não
entendo porque cito tanto Clarice Lispector. Mentira, eu sei: ela me fascina. O
problema é que ela fascina a todos e eu tenho a impressão de que as pessoas
pensam que eu sou clichê. Mas eu não sou clichê. Eu sou um grande intelectual,
um grande escritor, um grande, assim como afirma Jonathan Franzen, eu abro os
olhos da medíocre humanidade. O que significa ser feliz? Eu não compreendo essa
situação, pois vivo de momentos inconstantes, quando um dia tudo é meu e basta
passar o momento de euforia e eu entrar no ônibus para que tudo deixe de ser
meu. A pior coisa foi estar ali sentado na mesa e o homem que não me conhecia,
perguntou: “Mas quem é que escreveu isso?”, de maneira repressora. Alguém diz: “Ele”,
quando eu estava a seu lado. Eu não fui aprovado. Pior que isso é verdade,
realmente verdade. A maior parte do que escrevi é verdade. Acho que esse está
sendo um dos principais motivos para a minha literatura não estar andando. Minha
literatura está sendo muito repetitiva porque eu vivo uma vida muito repetitiva
e como minha literatura é a minha vida , uma é mais viciada que a outra.
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