sexta-feira, 25 de março de 2011

Que Diós tenga nosotros en las manos


Pontevedra - Ponte entre Espanha e Brasil
Ainda pouco explorada por turistas, província foi o local de maior debandada de espanhóis para o Brasil e possui história viva e crescente turismo para jovens

Como já disse a escritora imortal Nélida Piñon, o Brasil é "A república dos sonhos" (1984). Mas se o Brasil é isso tudo, deve-se muito ao interesse dos galegos - espanhóis da região autônoma da Galícia, bem acima de Portugal - em emigrar e se instalarem aqui. Portanto, se você é espanhol e vive no Brasil, provavelmente veio da província galega de Pontevedra. Se você é um brasileiro descendente de espanhóis, provavelmente tem um pé na província galega de Pontevedra. Isso se dá pois esta foi a cidade onde houve a maior saída de gente, durante basicamente a primeira metade do século XX, para Salvador, Rio de Janeiro e São Paulo.

No entanto, se você não é nem espanhol e nem descendente, por favor abra mais os olhos e enxergue a Espanha além do circuito Barcelona - Madri - Ibiza - Santiago de Compostela, dedicando um pouco de sua atenção à Pontevedra, um dos maiores e principais estados galegos, com praia, natureza, boa comida, muita diversão, e com gente que fala praticamente português. Quer coisa melhor?!

História

O turismo de Pontevedra e da Galícia é basicamente pautado pelo passado ceuta, por suas milenares igrejas, pelas típicas residências trabalhadas em pedra e pelos "hórreos", casinhas bem características com uma cruz em seu telhado, onde armazena-se alimentos, principalmente milho. Entretando, a província de Pontevedra tem uma história específica e bem curiosa:

Há uma lenda de origem renascentista que diz que o responsável pela fundação da cidade foi Teucro, um dos heróis da Guerra de Troia, que chegou aquelas terras após ter sido rejeitado por seu pai, Télamon, fundando um assentamento com o nome de "Helenes", depois de se casar com Helena, filha do rei Putrech, que nesse momento dirigia o exército grego até a cidade de Atenas. O certo é que os diversos estudos arqueológicos não demonstram uma presença humana anterior à época romana. O verdadeiro germem da cidade é, assim, o assentamento de Turocqua, na ribeira sul do rio Lérez.

Já separada de Portugal e pertencente à Espanha, a região da Galícia era o que o Nordeste é para o Brasil: uma região mais pobre e com grande debandada de mão-de-obra. Por isso, durante os anos 1880, houve o primeiro fluxo migratório de espanhóis para países da América (com o sonho de prosperidade americano), seguido pelo segundo, nos anos de 1930 e, por fim, o último nos anos 1950, mais especificamente de 1957 à 1961. As imigrações ocorreram em razão da pobreza e falta de oportunidades além do campo, muito acentuada pelas sucessivas guerras (Primeira Guerra Mundial, Guerra Civil Espanhola e Segunda Guerra Mundial).

A maioria dos espanhóis em geral que emigraram, foram para países da América do Sul de língua espanhola, como Venezuela e Argentina. No entanto, como a Galícia no passado já pertenceu ao que é hoje Portugal e evidentemente ainda hoje é muito próxima dele, sua língua (galego), é muito semelhante ao português. É por isso que no Brasil os imigrantes espanhóis e seus descendentes são 90% galegos, sendo a maioria deles residentes de Salvador, por razão do porto nordestino ser mais próximo da Europa que Rio e São Paulo.

Ainda que durante o período de ditadura militar de Francisco Franco (1939 - 1976), os dialetos espanhóis (além do galego, há o basco e o catalão) tenham sido proibidos nas escolas e apenas reconhecido como língua nacional o castelhano, dentro das casas ainda se conversava no "dialeto" e ele foi sendo passado desta maneira. Atualmente, com a autonomia dada à Galícia, há um reconhecimento e orgulho históricos do que antes não era permitido.

A cidade possui cerca de 80.000 habitantes e uma economia basicamente voltada para a indústria oriunda do porto de Marín e da lavoura. Com suas tabernas e restaurantes, as praças do centro estão bem mais movimentadas atualmente com o incentivo ao turismo mais jovem.

Onde ficar e o que conhecer

É crescente em Pontevedra atualmente o turismo voltado para jovens. É o que relata por e-mail Ana Carro Sobral, pequena empresária que fez de sua casa, fora do centro da cidade, um albergue:

- Fiz uma parte da minha casa de albergue e restaurante e com isso estou conseguindo tirar um bom dinheiro. Antigamente, vinham aqui só os velhos espanhóis que viviam em outros países para visitar seus parentes. Agora, está tendo realmente uma maior vinda de pessoas mais jovens de dentro da Espanha e de fora também. - Diz Ana, que ressalta que por Pontevedra há, além das igrejas e ruínas, que para os jovens pode não ser muito atraente, grandes reservas florestais e parques, onde no verão é muito prazeroso fazer um piquenique. - Aqui tem um mirante lindo, onde pode-se ver toda a cidade, com rios e florestas. - Conclui.

Sendo as principais igrejas da cidade a de San Martiño de Salcedo (padroeiro de Pontevedra) e a Igreja de La Peregrina, os museus que se destacam são o Provincial de Pontevedra e o Museu del Monasterio de Poyo.

Onde e o que comer

Se você gosta de boa comida, servida em grandes mesas com muita gente reunida para comê-la e jogar conversa fora, você não apenas foi para o país certo, como também para a província certa. Em Pontevedra, durante o inverno - principalmente nos meses de dezembro e janeiro - o porco é rei e têm-se a oportunidade de comer uma das melhores carnes possíveis, dentro de um cozido ou mesmo sem acompanhamentos.

Mas se não for muito chegado em carne, vá para a praia de Marín e coma mariscos e paella. Nos meses mais frios (bem úmidos e frios), a praia de Marín é mais aproveitada mesmo apenas para comer um dos melhores frutos do mar de um dos maiores portos espanhóis e se deslumbrar com a vista. Mas se você puder ir no verão, além de tudo ainda poderá dar um bom mergulho.

Curiosidades

Na Espanha o Natal é comemorado, mas os presentes e a maior festa mesmo acontece no dia 6 de janeiro, Dia de Reis. Em Pontevedra, esse costume de se presentear e dar mais importância não ao dia 24 de dezembro é mais forte que em outras localidades mais populosas e com uma economia mais desenvolvida e globalizada, como Barcelona e Madri, já que essas foram muito eclipsadas pela globalização. No entanto, é notório o intuito do governo espanhol de preservar os costumes nacionais, sendo a Espanha um dos principais países para turistas.

Outra curiosidade espanhola: os galegos (principalmente os galegos), sempre insistirão para que você coma. E é praxe que você recuse de início, mas não porque queira realmente recusar e sim apenas para esperar o segundo convite mais enfático para comer. Aí sim você poderá aceitar e caso o faça logo de início, pode correr o risco de ser levado como mal educado.

Ainda falando de comida, na hora do almoço, nem adianta insistir: praticamente nada estará aberto na cidade. Lojas estarão fechadas, serviços que não são básicos não poderão ser feitos e, se duvidar, até restaurantes estarão de portas trancadas. Lá, muito mais que em qualquer outro país, a "ciesta" é levada muito a sério. Praticamente todo trabalhador, se o serviço não é muito longe de casa, retorna à residência e fica de duas a três horas descansando, para poder almoçar e tirar um cochilo.

Transporte

O aeroporto da cidade de Vigo é o principal da Galícia, ou pelo menos era. Atualmente, a Espanha está direcionando a maioria dos voos internacionais para o aeroporto de Barajas, na capital Madrid. Caso seu voo seja destinado para ele, em seguida tente uma conexão para Vigo e, de lá, pegue um trem. Ou até mesmo o trem pode ser pego diretamente de Madrid. Outra possibilidade é que você desça do avião na cidade portuguesa do Porto, bem próxima de Pontevedra. De lá, pode-se fazer um belo passeio de carro pelo litoral até a província galega.

Já na cidade, o transporte público é que nem em cidade brasileira do interior (mas um pouquinho melhor). Dentro da cidade há boa oferta de táxis, mas os ônibus para irem ao campo, onde vive grande parte de Pontevedra, tem hora certa para passar. Então, para não ser pego de surpresa e não acabar gastando sempre com táxi em uma cidade que não se conhece, o melhor é alugar um carro.

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