quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Teoria da Comunicação III

3) Relacione as ideias de Primeiridade, Secundidade e Terceiridade. de Peirce, com uma imagem/obra de arte a sua escolha, desenvolvendo uma argumentação.

O quadro “La reproduction interdite” (A reprodução proibida), do belga René Magritte, de 1937, revela a complexidade humana em sua condição moderna e o papel da arte dentro desta questão. Por mais que isso não seja explicitamente vislumbrado na obra, como algo óbvio e inerente, por meio das ideias de Charles Sanders Peirce, além de um não tão pequeno conhecimento de mundo, há como se chegar a conclusões que em um primeiro momento vemos como distante. Tendo como embasamento teórico para a interpretação dos signos – neste caso, a obra de arte – outro signo – neste caso, o signo linguístico verbal –, já que precisamos passar por ele para compreendê-lo ao passo que não conseguimos sentir o mundo diretamente sem mediações, os conceitos de primeiridade, segundidade e terceiridade serão utilizados, para que se possa alcançar uma visão mais clara do que de fato a obra de arte pretende dizer-nos, escapando do que é claro e minimamente explícito. Atendo-se a esses três conceitos, tem-se que as representações de todos os elementos do quadro compõem a imagem como um todo, em sua qualidade inicial e total, elas por elas mesmas em sua integridade conceitual pré-estabelecida. Essa imagem, signo, qualidade e primeiridade, unida ao contexto com o qual o quadro foi elaborado, que levam em consideração o título escolhido pelo autor, o lugar no mundo deste trabalho, sua época, seu movimento, ou seja, a corporificação material desta arte/questionamento no tempo faz com que tudo saia de sua qualidade perceptiva inicial e passe a obter outros significados vários, conseguidos através da contemplação e do deslocamento provocativo em relação aos parâmetros realistas-simbolistas. Portanto, a terceiridade é alcançada com a junção das duas etapas passadas, formando uma tríade difícil de separação na vida, para que o significado interpretativo total seja vislumbrado de uma coisa, qualquer coisa, na experiência sensível. Neste momento, então, somando-se imagem a seu contexto, para que se gere uma interpretação, vê-se em “La reproduction interdite” mais que um homem de costas para nós e de costas no espelho, mas sim um homem moderno incompreendido e incompreensível, sem sua identidade e com isso sem sua resposta. Problematiza-se a arte em sua condição de reprodução do real. Tirando o espelho de sua função habitual, e tendo em vista os conceitos conhecidos da obra de Magritte em relação às janelas, portas e espelhos, pergunta-se se a arte seria um espelho da realidade e, com isso, se ela seria capaz de responder o homem, de sabê-lo e conhecê-lo. Uma pintura, signo limitado no tempo e no espaço, transformado em metafísica questionadora, no desdobramento de conceitos permitidos através da qualidade primeira dos signos utilizados e selecionados unidos ao seu contexto social e artístico. Com esta obra em questão, entende-se que a pintura, obra etc. não é apenas reprodução, mas sim também manifesto político, social e questionador, ampliando sua função de início frugal e contemplativa.

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