Vida: risco ou abstinência.
A
vida é um castelo de pedras construído com areia. La vida es un castelo de
piedras construido con arena. Com Arenas.
Por cada minuto de prazer, vive-se anos de sofrimento.
Acabo este livro sem ter escrito nada sobre a aids. Eu não sei o que é a aids.
Eu me matei depois de escrever um não-livro sobre a não-aids.
Arenas ou eu?
Reinaldo Arenas (1943-1990).
Holguín – Nova York.
Cuba – Estados Unidos.
Início da vida adulta. Canal de filmes. “Antes do
anoitecer”. Telecine Cult. Javier Barden é Reinaldo Arenas. Eu fico
impressionado.
Fui buscar. Onde está você? Encontro a edição de bolso, de
2009, da Record, que se chama “Antes que anoiteça”. “Antes que anochezca”. Mas,
pero, cadê a frase final? “Cuba será libre, yo ya lo soy”. Desde a primeira
edição, no Brasil, de 1994, suprimiram-na. Arenas não é livre, ainda, nem no
Brasil, nem em Cuba.
Caio Fernando Abreu. 1994. Crônica para o “Estadão”.
Quero traduzir Arenas, mas disseram ser ele muito depressivo, pouco comercial,
diz Caio sobre, no ano de 1992, quando conheceu “Antes que anoiteça”, na
França, recém-lançado. Finalmente, ali, em 1994, ele era traduzido. Ainda que mutilado.
Eu conheci sua obra em 2014, vinte anos, portanto, de sua publicação no nosso
país.
Bella Josef, 1984. Primeira obra de Reinaldo Arenas que
chega ao Brasil: “O mundo alucinante”. Bella Josef diz: “O Brasil ainda há de
conhecer e admirar esse brilhante escritor”. Bella Josef, em 1996, orientou a
primeira dissertação nacional de mestrado voltada totalmente para a obra de
Reinaldo, na Universidade Federal do Rio de Janeiro. Hoje, existem outras.
Algumas. Dez? Menos.
No Brasil, em 2016, apenas: “Antes que anoiteça” (última
reedição, de 2009); “A velha Rosa, seguido de ‘Arturo, a estrela mais brilhante’”
(1995, fora de catálogo desde então); “O porteiro” (1996, fora de catálogo
desde então); “O mundo alucinante” (primeiro em 1984, depois em 2000 e fora de
catálogo desde então). Fim. Obras completas de Arenas? Quase vinte trabalhos.
Mas...
Anos 1960, França. Reinaldo Arenas é, junto de Gabriel
García Márquez, escritores-revelação. Mas, literatura e polítca: um sobreviveu,
outro submergiu. Ao estilo Primo Levi.
Eu não posso falar mais nada sobre Reinaldo Arenas,
porque assim como a aids, ele para mim representa um mistério. Mas é quando eu
não falo de Arenas é quando eu estou falando mais dele. É “aids”, com
minúscula. “Arenas”, com maiúscula. O A do Arenas há de se sobrepor diante do a
da aids. Benditos e malditos. Homossexuais.